Colega de quarto.

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De acordo com o itinerário que me enviaram por e-mail, eu tenho "chá" às 4 da tarde e, já que são 3 horas agora, visto o novo uniforme, que estava pendurado no armário, coberto por um plástico, quando cheguei. Tem uma saia quadriculada que vai até os joelhos, uma camisa branca de manga curta e dois suéteres diferentes, um colete e outro de manga comprida. Eu escolho o primeiro, com o brasão de Gregorstoun costurado na frente. Está quente o suficiente, então não preciso me preocupar em vestir meia-calça, escolho as meias três quartos e finalmente calço um par de sapatos sem salto muito simples de cor preta.

Paro um momento para me olhar no espelho pendurado atrás da porta, essa nova Becky. Uma Garota de Gregorstoun.

O mesmo cabelo castanho ordinário caindo em ondas sobre os ombros e os mesmos olhos castanhos. As mesmas covinhas que eu vejo quando forço um sorriso.

A mesma Becky, um lugar diferente.

Dando um suspiro, abro a porta, piso no corredor e ouço, imediatamente, alguém falando em voz alta.

— Estou te dizendo, Troye, ela está nesse andar! A voz que vem do corredor é claramente a voz de uma princesa da Disney – doce, melodiosa, completa com sotaque, e imagino que a garota que verei será uma combinação de Bela Adormecida com Cinderela. Talvez até esteja acompanhada por criaturas da floresta.

A garota que aparece de repente é bonita, e facilmente tem menos de um metro e setenta de altura. Apesar de ela não se parecer com a Cinderela ou a Bela Adormecida, ela é linda, com cabelos escuros curtos e pele branca.

E, quando ela olha para mim, noto que ela tem adoráveis olhos castanhos que enrugam nos cantos quando ela sorri.

— Ah, olá! — ela diz alegremente. — Nem te vi aí.

Isso deve ser porque eu sou basicamente um esquilo, dou um aceno sem jeito.

— Eu costumo sumir na multidão.

— Ah, você é americana! — ela vibra e gesticula atrás de si, impaciente. — OLHA, TROYE, ENCONTREI UMA AMERICANA!

Ela avisa alto o suficiente para doer meus ouvidos.

Sem criaturas da floresta no seu rastro, o garoto que aparece é serelepe como um... coelho.

Ele parece nervoso e agitado, especialmente comparado à garota ao seu lado.

— Meu nome é Nam — ela estende a mão para eu apertar e a cumprimento, grata ao ver que alguém neste lugar parece ser uma pessoa normal.

— Becky.

Nam abre um largo sorriso. Eu estava começando a imaginar se era necessário ser uma supermodelo para entrar neste lugar e se eu era algum tipo de exceção por caridade.

— Becky — ela repete. — Fofo. Gostei.

Nunca pensei que meu nome pudesse ser "fofo", mas Nam não parece estar me zoando, então aceito de boa.

— Tecnicamente é Rebecca, mas ninguém nunca me chama assim.

Ela aponta com o polegar para um rapaz atrás dela.

— E esse é o Troye Sivan.

— É um prazer te conhecer, Rebecca. — ele diz, inclinando-se para afrente para apertar minha mão também.

Ele tem uns quinze centímetros a mais que Nam, seu cabelo é um loiro bem tingido, e sua pele é branca como leite.

— Então você é americana — ele diz ao se aproximar.

Ele também está vestindo o colete de malha de Gregorstoun, mas parece um pouco grande nele.

— Sou — digo, trocando o peso do corpo de um pé para o outro. — Do Texas.

Percebo que isso pode não significar nada para eles e, quando Nam diz "Troye e eu somos de Northampton", me dou conta de que o lugar de onde ela veio também não significa nada para mim. Esse é um pequeno momento estranho de choque de culturas que eu não tinha previsto.

Mas eu aceno com a cabeça para os dois e sorrio, pensando que fingir até entender vai virar meu novo lema por aqui.

— Bom, vem com a gente — Nam diz, enganchando o braço no meu e me puxando de volta para as escadas.

— Imagino que você esteja a caminho do Chá das Garotas.

Concordo, me deixando ser levada atrás dela e Troye.

— Costumava ser apenas o chá do primeiro ano — ele diz ao descermos as escadas.

Eu noto algumas molduras com retratos de homens sisudos usando tartã, assim como algumas fotografias em preto e branco de garotos uniformizados posando na frente do colégio.

— Mas eles estão fazendo uma versão especial só para as garotas — ele continua, e Nam suspira, acenando com sua mão livre.

— Sim, sim, Troye, estou certa de que Becky conseguiu decifrar o que eu quis dizer com chá das garotas, pelo amor de Deus. Ela é americana, não estúpida.

— Obrigada? Eu acho — digo quando chegamos ao pé da escada.

O salão está cheio de garotas perambulando, algumas claramente da minha idade, mas muitas parecem mais novas. Nam as observa, os cantos de sua boca se curvam para baixo.

— Pobres coitadas — ela diz. — Não há muitas de nós, damas intrépidas, este ano, e sinto que será mais difícil para as mais novas. Uma delas é até minha colega de quarto, sabe. Uma cavaleirinha.

— Cavaleirinha? — pergunto e Nam abana com a mão.

— Sempre aparece um punhado. Garotas que são loucas por cavalos, sabe? Enfim, não há o suficiente de nós pra nos parearem com meninas de nossa própria faixa etária, então algumas precisam dividir o quarto com as mais novas, como acontece... comigo. — Ela respira fundo, dobrando as mãos à sua frente. — Como eu disse, pobres coitadas. Eu só preciso sobreviver por um ano. Elas ficarão aqui por séculos.

Tudo bem, mas "sobreviver" não é como quero pensar no meu período aqui em minha nova e empolgante vida.

— Não vai ser tão ruim assim — digo, dando de ombros. — Quer dizer, todo mundo escolheu vir pra cá, né?

— Nam escolheu — diz Troye. — Mas eu nunca escolhi vir pra Gregorstoun e quero que isso fique registrado. E possivelmente gravado na minha lápide.

Revirando os olhos, Nam se aproxima de mim e diz:

— Troye tem se lamentado sobre esse lugar desde que tinha doze anos, então eu decidi vir pra conferir o motivo de todo esse drama.

Então ela joga os longos cabelos escuros sobre o ombro.

— Além do mais, se é bom o suficiente pra uma princesa, é bom o suficiente pra mim.

Ela se aproxima, abaixando o tom de voz.

A princesa Freen está aqui — ela diz num sussurro ensaiado. — A própria princesa Freen Sarocha.

— Certo, e não a outra, falsificada — brinco. — Eles dão algum tipo de quarto especial na torre pra ela?

Nam torce o nariz.

— Você não a viu? Ela deveria estar no seu andar.

Balanço a cabeça.

— Não vi princesa alguma — digo, e então...

Não.

Com a boca seca, pergunto:

— Algum de vocês tem um celular? Pra me mostrar uma foto dela?

Troye sacode a cabeça, mas Nam olha ao redor antes de enfiar a mão no elástico da saia e puxar um iPhone branco.

— Nam, isso devia estar no seu quarto! Você vai se meter em encrenca— diz Troye, mas Nam apenas levanta um dedo, clicando no celular com o outro.

— Aqui está a princesa — ela diz. — Fazendo compras em New Town, vestindo um casaco verdadeiramente fabuloso.

Antes mesmo de ela virar o celular para mim, eu já sei, mas ainda é um choque ver a foto e reconhecer com clareza a princesa Freen.

Minha colega de quarto.

SUA ALTEZA REAL - FreenbeckyOnde histórias criam vida. Descubra agora