— Se isso é algum tipo de trote atrasado, vocês estão todos dispensados de ser meus amigos — digo, fazendo com cautela o caminho pelo corredor.
Nam está tampando meus olhos com as duas mãos enquanto Troye me guia pelo braço.
— Não é trote — ele jura —, embora eu que meio surpreso quando penso que não temos esse tipo de coisa nessa escola.
— Esse lugar parece mesmo o tipo ideal de espaço pra trotes — Nam concorda, e eu reviraria os olhos se eles não estivessem cobertos.
Alguns minutos antes eles chegaram no quarto prometendo uma "surpresa", e eu deveria ter sido mais esperta do que ter contribuído com a brincadeira. Seja o que for, tenho a sensação de que Freen está envolvida.
Faz uma semana desde nossa conversa sobre a passagem de avião e, mesmo que ela não tenha tocado no assunto de novo, eu sei que Freen não desiste assim tão fácil.
Talvez seja por isso que eu me deixei levar com tanta boa vontade por Nam e Troye.
Tenho alguma noção de onde estamos. Nós descemos até o primeiro andar e posso ouvir o chiado daquele único radiador perto do estúdio de arte que está sempre dando problema, mas, fora isso, estou firmemente sem a menor ideia do que estamos fazendo aqui embaixo.
Porém, tenho certeza de que, se formos pegos, nunca mais sairemos da detenção.
— Seja lá o que for — aviso —, é bom valer a pena.
— Vai valer — Troye promete, e então meu nariz detecta o cheiro de... batata-doce? Sim, batata-doce com aquele cheiro de açúcar caramelado de marshmallow e, por cima disso tudo, o aroma delicioso da sálvia.
— Gente — começo, mas então Nam tira as mãos dos meus olhos e fico sem reação.
Estamos na sala de arte e ali, arrumado em cima da mesa, tem um minibanquete de Ação de Graças. Então percebo uma pequena ave assada que não é um peru, mas que está cheirosa demais, e alguns pratos de porcelana, um deles com macarrão com queijo, outro com as amadas batatas-doces com marshmallow. Tem uma torta também, e um antigo candelabro de prata ilumina tudo, mas meus olhos ficam retidos em uma única coisa.
A garota que me aguarda de pé atrás da mesa.
— Surpresa! — Freen exclama, batendo palmas.
Ela veste jeans e um suéter, com os cabelos soltos ao redor do rosto, sorrindo. Um sorriso de verdade, e estou surpresa.
Mas não pela Ação de Graças em miniatura que ela fez para mim.
Não, o que me surpreende é a percepção repentina, estonteante e indiscutível de que, mesmo sem querer, eu me apaixonei por uma verdadeira princesa.
O sorriso de Freen se desfaz um pouco, suas mãos se abaixam.
— Você não gostou? — ela pergunta, olhando para a comida. — Está errado?
Tenho que engolir em seco antes de conseguir falar.
— Não — eu a tranquilizo, dando um passo à frente.
De canto do olho, vejo Troye e Nam trocando olhares.
— Não, é perfeito — digo. — Quer dizer, faltam três semanas para o Dia de Ação de Graças, mas, ainda assim. Isso é... eu não sei o que dizer.
Aquele sorriso ilumina o rosto dela novamente, e meu coração bate tão forte dentro do peito que me surpreende ninguém ouvir. Minha cabeça gira e minha garganta está tão seca que eu bebo feliz a latinha que Freen me oferece.
E imediatamente me arrependo dessa decisão quando um gosto meio sem gás de chiclete bate na minha língua, e eu afasto a lata para fazer uma careta.
— Eca.
— Isso é Irn-Bru, a bebida nacional da Escócia, queridinha — Freen diz, fingindo se sentir ofendida ao pegar a lata de volta, e quando nossos dedos se esbarram, eu juro que sinto um choque.
Mas me obrigo a fazer uma careta e digo:
— Você também não achava que o veado era o animal nacional da Escócia? E onde fomos parar por causa disso?
— Onde fomos parar por causa disso, de fato — Freen contesta. — Somos amigas agora. Não seríamos se não fosse por aquele veado estúpido.
Ela tem razão, mas tudo que consigo pensar é que deve ter sido ali que tudo começou. Não foi na lavanderia ou na dança na estufa ou olhando juntas para minhas pedras – foi aquela noite lá em cima da colina que nos trouxe a este momento, quando percebo que estou afim dela. Eu deveria ter percebido antes a maneira como as coisas tinham mudado entre a gente.
Nós comemos nosso pequeno banquete felizes, Freen nos deliciando com a história de como ela conseguiu reunir essa comida toda.
— Eu não sei como Glynnis conseguiu achar alguém pra cozinhar tudo isso — Freen comenta, pegando a colher nas batatas-doces e mexendo no prato —, mas a mulher é uma super-heroína.
E então Freen me encara, seus dentes mordiscando o lábio inferior.
— Droga. Isso é demais também? Mandar um contato da realeza arranjar comida? Eu sei que você disse que a passagem de avião era muito...
Estendo a mão e toco em seu braço, sacudindo a cabeça.
— Não, isso foi só... o uso de recursos disponíveis. É diferente de jogar dinheiro em alguém.
Freen quase se envaidece com isso, levantando o queixo com um sorriso confiante.
— Sabia.
Do outro lado da mesa, vejo Nam e Troye trocando olhares, algo se passando entre eles, mas ignoro.
Por enquanto, tudo parece... agradável. Legal.
Quase normal.
Mas então vemos um clarão na janela.
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SUA ALTEZA REAL - Freenbecky
Teen FictionRebecca Armstrong está vivendo o que parece um sonho com a garota por quem é apaixonada, até que ela dá um pé na sua bunda e volta com o ex, deixando Becky à deriva em meio às emoções. Eis que ela decide aproveitar sua chance de ouro e se inscreve p...