CAPÍTULO 2 : UMA NOVA CIDADE, UMA NOVA VIDA

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Era, enfim, o início de um novo ciclo. Nunca saí da proteção da minha família que, de tão acolhedora, por vezes sufocava com tanta proteção. Nada mais natural, dadas circunstâncias que tornaram minha adolescência uma sucessiva história de perdas e recomeços. Se esse período já consiste em uma fase de luto pela perda da infância, indecisão quanto ao seu papel na sociedade e todos os conflitos de ideias e das mudanças inevitáveis, imagina então o que é enfrentar perder os pais abruptamente nessa fase...

Mas enfim, eu não era mais uma adolescente, atravessara essa fase com algumas marcas, mas alcancei os objetivos que até então eu traçara pra minha vida. Sentia por ter me ausentado por muito tempo da vida de minha querida Sophia, que se transformara em uma jovem linda, centrada e que seguia os passos de tia Penélope, fazendo faculdade de Direito.

Ao contrário de mim, era cercada de amigos e dividia muito bem o tempo de estudo com saídas pra baladas. Mantinha um namoro de um ano com James, jovem estagiário de informática do escritório de tia Penélope. Mesmo com limitações, Sophia e eu zelávamos pela nossa relação de confiança, proteção, tínhamos pouco tempo juntas, mas sempre fomos honestas em tudo o que me dava a sensação de ter cumprido bem meu papel de irmã mais velha.

O dia da minha mudança para o Rio de Janeiro se aproximava. Tia Penélope, como sempre, fez questão de me acompanhar em tudo. Tão logo recebemos o resultado da minha aprovação na prova, viajou comigo ao Rio para alugar apartamento e acertar detalhes da mudança. Como qualquer mãe preocupada, Tia Penélope estava apavorada por eu sair da segurança de uma pequena cidade universitária de Minas, para uma cidade violenta como o Rio de Janeiro. Apreensiva ela tratou de me presentear com um carro, temendo minha disposição em andar de ônibus.

Alugamos um apartamento de dois quartos na Ilha do Governador, de carro não gastaria mais de quinze minutos para chegar ao Fundão – onde ficava o Hospital Universitário. Era um apartamento razoável, não tinha o espaço e o conforto da casa de Tia Penélope, mas para morar sozinha, tinha espaço mais que suficiente: uma sala de estar espaçosa com saída pra uma varanda, conjugada com a sala de jantar dividida por um balcão que dava acesso a cozinha e a área de serviço. Mais a frente das salas conjugadas, um corredor com um banheiro social, um quarto, e ao final uma suíte que seria meu quarto.

Gastamos uma semana para comprar tudo, Sophia veio nos ajudar, ela sempre teve um excelente gosto pra decoração, puxou isso da mãe, tio Antônio sempre dizia. Mobiliamos o segundo quarto com uma estante de livros, uma escrivaninha para ser minha pequena biblioteca e um sofá cama, na intenção de abrigar hóspedes quando necessário. Em cada cantinho do apartamento tia Penélope e Sophia deixaram sua impressão, nos detalhes dos abajures, quadros, louça, roupas de cama... Tudo pra me deixar mais "perto de casa", apesar de que mesmo com todo carinho maternal que eu tinha na casa de tia Penélope, a última vez que me senti de fato em casa, foi na chácara onde morávamos antes da morte de papai e mamãe.

Era março de 2011 e, como dizem, o ano no Brasil só começa depois do carnaval... Em uma cidade como o Rio, essa afirmação caía muito bem. Sempre preocupada com minha saúde, como não podia ser diferente, já que desde criança, apresentava constantes crises de asma, tia Penélope, providenciou alguém para fazer faxina e cozinhar pra mim. A senhora fora indicada por um casal de advogados amigos, que moravam no Rio há alguns anos. Dona Leonor era uma senhora de seus quarenta e poucos anos, muito simpática, era baixa, morena, com peso avantajado, com traços fortes, visivelmente marcados pelo sofrimento de uma vida cheia de sacrifícios.

Cheguei ao apartamento no sábado, queria me acostumar com o bairro, com o clima, o caminho até o Fundão. Minha intenção era até a segunda-feira estar ambientada no meu novo espaço, mas foi inútil, porque demorei cerca de um mês pra acertar o caminho sozinha. Saía de casa quase uma hora antes para não correr o risco de chegar atrasada, porque sempre pegava uma rua errada. Após enfim aprender o caminho, ria do quão absurdo era isso, pois se tratava de um percurso bastante simples

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