CAPÍTULO 30: Partida e mudanças

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Esperamos até o Natal para passarmos com nossas famílias, pela primeira vez, tia Penélope e Sophia vieram de Valença para passarmos juntas na chácara de minha sogra. Foi mais que uma ceia natalina, foi nossa despedida, partiríamos em dois dias, era nosso plano passar o réveillon em New York.

Trocamos presentes, confraternizamos, mas estavámos saudosas daquele aconchego familiar, sabia que sentiríamos muita falta de tudo, vô Elias era o mais emocionado, temia que não nos víssemos mais. Alguns dias antes ele nos revelou estar sonhando muito com meus pais e deduzia que isso era sinal de que sua hora estava chegando.

Rapidamente tratamos de afastar esse pensamento dele, fazendo com que ele prometesse que só nos deixaria quando estivéssemos de volta ao Brasil, ele sorriu como se não acreditasse isso ser possível, mas concordou.

No dia 27 de dezembro, o aeroporto de Cumbica mais parecia um encontro familiar, uma procissão nos seguiu para despedir da gente. Meu vô veio de Valença, acompanhado por Tio César, mesmo felizes com nosso sucesso e nosso casamento, todos choravam, inclusive nós, mas enfim era hora de partir, uma nova etapa nos esperava, e eu mais uma vez: nova vida, novo lugar.

Chegamos a Boston no dia seguinte, estava frio, muito frio, o orientador de Natalie nos aguardava, foi muito simpático, um homem alto, muito branco, cabelos grisalhos extremamente lisos, olhos verdes, o gringo típico. Nos levou até o hotel, simples, mas tinha o necessário, e era perto de tudo, estação de metrô, lojas, supermercado, e não era tão longe de Harvard.

Descansamos o resto do dia, o fuso mexeu com nossa resistência, depois de ligarmos pra nossas famílias, caímos no sono, jantamos a noite no hotel mesmo, o frio estava de rachar então preferimos não sair.

No dia seguinte, conhecemos os apartamentos que a imobiliária nos reservou, e nenhum nos agradou completamente, o que faltava em um, no outro tinha, mas faltava sempre alguma coisa, optamos pelo conforto e localização, apesar de não ter o tamanho que desejávamos, a cozinha era minúscula, mas ao menos nosso quarto era espaçoso e iluminado, e a mobília era razoável, essa foi nossa escolha. Acertado o apartamento, nos encontramos na Universidade, com o orientador de Natalie, que apresentou, o Prof. Haris, que seria meu orientador, era mais jovem, alto, cabelos pretos, mas sua pele era clara, olhos verdes, era um homem de seus quarenta anos, bonito, com algum charme intelectual. Marcamos algumas orientações, que se iniciariam na primeira semana de janeiro, Natalie tinha mais tempo, mas não queria esperar, convenceu seu orientador a iniciar o quanto antes a sua pesquisa.

Viajamos para New York na véspera do reveillon, e lá não perdemos tempo no hotel, pagamos mico de turista mesmo, continuando o clima romântico de lua de mel, andamos pelo Central Park, passeamos de charrete de mãos dadas, a cidade favorecia o romantismo apesar do frio, as luzes, a decoração natalina, não tinha o calor humano do nosso país, mas era fácil encontrarmos brasileiros posando pra fotos nos pontos turísticos. Curtimos a virada do ano abraçadas, Natalie envolvida na minha cintura, descansando o queixo no meu ombro vendo a queima de fogos:

- Que nosso ano seja maravilhoso como esse está terminando, meu amor...

- Que nossa vida seja sempre assim, com você nos meus braços, minha vida...

Enquanto fazíamos pequenas promessas de acertos na nossa convivência para o ano que nos esperava, ouvimos uma voz conhecida, bem perto de nós:

- Que seja um ano bom para nós todas!

Não podia acreditar, Lauren diante de nós, ao seu lado, Pietra, fazendo cara de poucos amigos, definitivamente, ela não gostava de mim. Natalie, pra minha surpresa, se soltou de meus braços e deu um abraço curto e  educado, como se cumprimentasse uma velha conhecida em Lauren, e deu dois beijinhos de comadre em Pietra, desejando um bom ano para ambas. Eu estava chocada, mas, repeti o gesto cordial de minha mulher.

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