CAPÍTULO 5 : De volta a realidade

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-Alô. Ok, estou a caminho - respondeu Lauren friamente.

- Alô, sou eu, pois não... Sim, chego em alguns minutos – ao mesmo tempo atendi.

Vesti a mesma calça jeans de antes que a essa altura já estava seca, Lauren me emprestou uma camiseta, nos trocamos juntas rapidamente e nos dirigimos ao hospital. Muitos médicos foram chamados para atender as vítimas de um desabamento ocorrido por causa da forte chuva no morro do Alemão, eram muitos os feridos.

Durante o trajeto não conversamos sobre o que acabara de acontecer conosco, ao chegarmos no estacionamento, enquanto desconectava o cinto de segurança, Lauren, me disse:

- Camila, eu gostaria que você fosse discreta sobre o que aconteceu hoje... Quero evitar fofocas, você entende?

- Não se preocupe, doutora, eu entendo – respondi irritada saindo do carro.

Caminhei pelo estacionamento até a entrada do hospital com passos apressados, experimentando pela primeira vez uma raiva desproporcional por Lauren. Como ela poderia ser tão insensível? O que ela pensava? Que eu sairia espalhando pelo hospital que transei com a chefe da urgência? Que tipo de pessoa ela achava que eu era?

No fundo, o maior motivo da minha irritação era outro, desejava que Lauren se despedisse com um beijo, me dissesse algo como: nos falamos mais tarde... Como se me assegurasse que aquela noite tinha sido mais do que sexo pra ela... Porque eu tinha certeza que para mim isso era verdade. O medo de me apegar e ser decepcionada aumentava em mim aquele sentimento de mágoa diante daquele comentário de Lauren, uma vez que eu já me sentia envolvida por aquela mulher.

Entramos pela madrugada atendendo aos feridos, Zhao atendeu comigo os pacientes com problemas neurológicos, evitei ao máximo descer ao Pronto Socorro para não encontrar a Drª Jauregui.

Por volta das três da manhã desci para a cantina com Zhao e, qual não foi meu susto, ao dar de cara com a Drª Jauregui no balcão.

Zhao a cumprimentou, eu desviei meus olhos dela, me dirigindo até o caixa, em seguida sentei a espera de Zhao. Lauren se sentou sozinha em uma mesa próxima, por várias vezes nossos olhares se cruzaram, mas eu desviava meu rosto todas as vezes, deixando clara minha mágoa com seu último comentário no carro.

Ao amanhecer, o Pronto Socorro estava tranquilo, Tyrone se apresentou para a troca de plantão, assim poderia voltar pra casa. Guardei meu material, meu jaleco no armário do vestiário dos residentes, e fui em direção ao ponto de táxi, não estava acostumada com os horários dos ônibus e meu corpo pedia descanso urgente.

O domingo amanheceu chuvoso, o que me ajudou a dormir profundamente, apesar da raiva e da decepção sofrida na noite anterior. Aliás, a noite anterior me deu a definição perfeita de prazer, de entrega, e me violentou em seguida com a insensibilidade de Lauren. Ela foi a protagonista e antagonista daquela noite marcante.

Só despertei no meio da tarde, meu primeiro pensamento ao acordar foi ela... Me olhei no espelho do banheiro depois de lavar meu rosto, notei no meu pescoço uma marca roxa que nunca tive, tal marca sobressaltava facilmente, as lembranças da boca de Lauren me tomando vieram à tona, renovando meu desejo aliado a raiva despertada pelas palavras na nossa despedida.

A semana começou intensa, alguns casos clínicos interessantes surgiram, nos tomando bastante tempo em pesquisa, e realização de procedimentos para levantar o diagnóstico. Entre meus colegas, os comentários sobre as marcas no meu pescoço viraram motivo de especulação, eu fugia de qualquer comentário. Fazia questão de não descer para o Pronto Socorro evitando o encontro com Lauren, entretanto, no final da semana, tal encontro foi inevitável:

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