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Anahí


"Ah, você não viu?" Eu perguntei de forma irônica, uma risada rouca escapando de meus lábios.

Havia um brilho quase infantil naqueles olhos dele. Eu não me recordava do quão verde os olhos dele ficavam dependendo da luz e do humor. Foram cinco anos muito longos sem nos vermos. Eu senti falta da forma como conversávamos com tanta liberdade, sobre tudo e qualquer coisa, amizades assim eram raras.

"Alguns, eu vi, outros deixei escapar..." Ele admitiu, e eu pude perceber pelo olhar e pelo tom de voz que ele sentia-se levemente envergonhado e em retrospecto, bastante babaca por ter me ignorado tantas vezes nas redes sociais.

"Você é um filho da mãe, Alfonso." Eu disse revirando os olhos e tomando um gole do meu capuccino.

"Eu sei, eu sei... Mas até que a senhorita aceitou meu convite." Ele disse em tom de brincadeira, arqueando uma sobrancelha.

"A curiosidade me ganhou—eu queria saber o que você queria comigo."

"E descobriu?"

Mordisquei os lábios e sacudi a cabeça, "Talvez, mas não vou te contar."

"Confesso que me surpreendi de você ter aceitado um trabalho de atuação. Achei que você tivesse desencanado dessa área."

"Na verdade, foi mais um desencantamento com os papéis que vinham me oferecendo. Gostei de trabalhar em Dos Hogares pelos colegas que estavam comigo, mas minha personagem era insossa demais... É um tipo de feminilidade frágil que não cabe mais na atualidade. As mulheres têm sim seus momentos de fragilidade, afinal somos humanas, mas não somos de modo algum frágeis, não sei se você me entende... Sei lá, eu não queria mais do mesmo, eu queria uma personagem foda."

"Entendo. Entendo porque conheço você. Mas então, me conta dessa personagem nova—o que ela tem de interessante?"

"Bom, não posso entrar em detalhes por motivos de sigilo de contrato, você sabe como é, mas minha personagem é uma professora de ensino primário absolutamente brilhante mas que esconde um passado sombrio relacionado à sua família e um crime do qual foi vítima. Há anos ela foge desse passado e conseguiu se reerguer dessa tragédia pessoal, mas..." Dei de ombros, finalizando minha narração–não podia dar mais nenhuma informação.

"Já gostei. Você vai ser daquelas professorinhas que usam suéter e vestidos de florzinha?"

Eu gargalhei, captando muito bem a malícia por trás da pergunta dele.

"Talvez, mas com lingerie italiana por baixo com certeza." Pisquei pra ele que sorriu, o safado que era.

"Eu ia adorar ser seu aluno..." Ele soltou, me encarando com um olhar diferente.

Era impressão minha ou havia desejo refletido ali? Senti um calor invadir meu corpo e o coração acelerar.

"Poncho..." Lancei uma reprimenda, tratando de disfarçar o tanto que esse câmbio no comportamento dele mexera comigo.

"Eu sentaria de pernas cruzadas no chão, lançando olhares furtivos por baixo da sua saia florida, louco pra deslizar minhas mãos por suas coxas lisinhas e tocar a renda macia da sua calcinha."

Quarenta e um anos nas costas e fui capaz de arregalar os olhos e ficar vermelha feito um tomate, imaginando a cena em minha cabeça—me arrepiei de tanto tesão—mas, não ficaria assim, eu não deixaria de jeito nenhum ele ficar por cima.

"Então era isso o que você queria! Matar a vontade de transar comigo que você tem há... Há quantos anos nos conhecemos? Vinte anos? Mais do que isso um pouco? Eu não sou uma dessas mulherzinhas que suspiram e abaixam a calcinha a cada 'A' seu, Alfonso."

Andar ConmigoOnde histórias criam vida. Descubra agora