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Madrid, 28 de junho de 2024 (sexta-feira)

Alfonso

"CORTA!" Gritou a diretora com um sorriso de satisfação no rosto.

Era apenas o sexto take de uma cena emotiva em que meu personagem descobria que sua esposa fugira com outra mulher. Eu estava exausto após nove horas de gravações e tempo demais lidando com maquiagem e figurino.

"Excelente, gente! Poncho, impecável, querido! Encerramos por hoje!" Ela elogiou. Em seguida, o assistente de produção cochichou algo no ouvido dela, e a expressão de ambos não era das melhores. "Gente, infelizmente a nossa gravação que seria na locação amanhã teve que ser transferida pra domingo... Questões técnicas do local, patrimônio histórico, essas coisas. Sinto muito, gente! Curtam a folga de vocês amanhã!"

"Putz, só porque eu tinha um date domingo," Enrique, um dos atores reclamou baixinho fazendo muxoxo. Enrique fazia meu filho na trama e eu ainda não conseguia fazer as pazes com o fato de ser pai mesmo que fictício de um marmanjo de 25 anos. Caracterizações cinematográficas, fazer o quê.

"Nem me fala!" Respondi. Mais uma vez teria que adiar um passeio com meus filhos por causa do trabalho. "Eu ia levar meus filhos ao zoológico domingo. Enfim, ossos do ofício."

"A gente podia aproveitar pra fazer aquele happy hour do elenco, hein, após as gravações! Vou mandar no grupo do whatsapp," Enrique sugeriu animado.

"Acho uma boa!" Aura, uma outra atriz falou, plantando um beijo estalado na bochecha do rapaz.

"É só me chamar que eu vou! De preferência um bar dançante!" Falei sorrindo, lançando meu melhor tom de voz debochado.

Aura começou a rir histericamente. "Onde que o velho rabugento do grupo ia querer dançar? Você não quis participar nem da turnê da sua banda..." Ela fez tsk, tsk, tsk e me olhou com uma expressão de deboche. Eu não pude evitar revirar os olhos pra ela. Aura sempre fazia questão de jogar aquilo na minha cara, aliás, ela e todos os fãs do RBD no mundo.

"Você ainda vai quebrar a cara comigo, Aura. Eu danço pra caramba." Retruquei, um sorriso malicioso no canto da boca, antes de cumprimentar os dois com o chapéu fedora preto do meu personagem e sair andando em direção aos camarins.

Em vinte minutos eu tirei toda a maquiagem e figurino e dei uma pequena geral no meu trailer. Apanhei o celular que estava em cima da penteadeira e minha mochila que estava pendurada atrás da porta e estava pronto pra sair. Enquanto eu caminhava pelo estacionamento, ruma à saída do estúdio e à estação do metrô, senti meu telefone vibrar dentro do bolso da jaqueta. Era uma mensagem dela:

Te pego na saída, bonitão.

Eu não entendi nada dessa mensagem. Anahí me pegando na saída? Foi então que escutei duas buzinadas atrás de mim. Me virei um pouco assustado, afinal eu poderia até ser atropelado. Foi então que vi um clássico conversível vermelho vindo na minha direção com toda a velocidade e atrás do volante ninguém menos que uma loira dos cabelos esvoaçantes. Soltei uma risada da mais genuína e agradável surpresa. Ela sorriu pra mim, aqueles olhos azuis brilhando como duas estrelas.

"Bora, entra! Vou te levar num lugar." Ela mandou, destravando a porta pra mim.

"E esse carro, Anahí?!"

Eu estava prestes a fechar a porta quando ela deu uma arrancada.

"Um amigo me devia um favor." Ela piscou pra mim, jogando charme. "Agora coloca o cinto porque eu continuo a mesma barbeira de sempre."

Ficamos em silêncio por alguns minutos, ela focada no gps que estava no painel do carro e eu tentando entender pra onde a gente ia. Conforme íamos trilhando por avenidas principais e sumindo bairros diferentes adentro, desconfiei que estávamos indo para um lugar mais afastado da cidade.

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