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Anahí


Eu vi Poncho de longe, do outro lado da rua onde o Uber havia deixado a mim e aos meus filhos. Ele continuava o mesmo filho da puta charmoso, trajando uma bermuda khaki, uma camisa de linho branca com as mangas dobradas e nos pés elegantes mocassins de couro—era o look perfeito para uma tarde de calor, clássico e casual na exata medida.

De imediato senti um tremor no estômago—desde que acordei eu estava puro nervos. Por mais que nossas mensagens trocadas até agora tivessem sido amigáveis e totalmente inofensivas, eu ainda me recordava das alfinetadas quase cruéis que ele dera ao longo dos anos e sobretudo nosso último encontro em 2021.

Naquela altura eu estava na reta final da minha gravidez de Emiliano, e por mais que ele tivesse sido simpático e carinhoso a noite inteira, pelo menos dentro da medida que era adequada já que nossos então esposos estavam ali, vez ou outra eu sentia um olhar ressentido sobre mim quando ele pensava que eu não estava olhando.

Alfonso Herrera era o homem mais difícil de ler que eu conhecera em toda minha vida. Ser amiga, ou seja lá o que eu era dele, significava viver um eterno morde e assopra—embora eu também tivesse minha parcela de culpa. Eu nunca fui fácil, sempre fui tempestuosa, briguenta e naqueles tempos pelo menos, bastante imatura.

Nossos embates eram tão épicos quanto nossos momentos de proximidade eram, não sei definir—sublimes, fundamentais, simplesmente perfeitos... Poncho fora meu apoio e meu refúgio em tantos momentos turbulentos. Quando eu pensava que teria uma recaída da anorexia; quando a depressão começava a querer invadir; quando o meu coração doía por conta de algum amor malfadado. E eu gostava de pensar que também tivesse sido esse alicerce para ele, para enfrentar o peso de um trabalho que ele não amava, que já havia se tornado um fardo; as idas e vindas do relacionamento desastroso que ele levava com Dulce; até mesmo traumas que ele carregava desde pequeno, do divórcio dos pais, das brigas e constantes viagens.

Por isso era tão importante pra mim esse reencontro. Amizades como a que eu tinha com Poncho, por mais que imperfeita, eram especiais demais para simplesmente se deixar acabar. Por anos fomos inseparáveis, até que a vida e um bocado de erros nos levaram por caminhos diferentes.

E também, eu seria hipócrita se não admitisse o quanto Alfonso Herrera mexia comigo enquanto mulher. Eu sempre fui fodidamente atraída por ele e mesmo agora, o vendo do outro lado da rua, eu sentia minhas pernas bambas, meu peito acelerado, minha face corada... Ana Paula tinha razão. Ele me fazia agir feito uma adolescente bobinha.

"Mamá, vamos!" Manu me puxou, o sinal ficando verde para os pedestres atravessarem.

Me libertei daqueles devaneios e atravessei a rua com eles. Vi Alfonso ficar de joelhos para fazer uns carinhos no filho mais novo e ajeitar seus sapatos. De novo senti meu estômago revolto. Será que essas borboletas malditas não me deixariam em paz hoje?

Eu guiei meus filhos até ele, sabendo muito bem que daquele ângulo ele não podia me ver. Quando Alfonso finalmente percebeu que eu estava ali, senti seu olhar sobre minhas pernas, trilhando lentamente para cima, até alcançar meu rosto. Aqueles olhos verde-oliva brilhavam com malícia e um sorriso discreto surgiu no canto de sua boca.

"Mas você não é uma mulher, é uma deusa!" Ele falou ao ser levantar, aquele sorriso idiota só aumentando. Em seguida, como se não bastasse a cantada barata, o ordinário ainda piscou pra mim. Eu queria meter a minha mão na cara dele e arrancar aquele sorriso, mas sou uma lady, nossos filhos estavam ali, e por isso me detive.

"Hola, Ponchito." Eu cumprimentei, respirando fundo e revirando os olhos por trás dos meus óculos de sol. "Manu, Emi, este é o Tio Poncho, amigo da mamãe e ex-RBD."

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