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Madrid, 14 de junho de 2024 (sexta-feira)

Alfonso


Como que antigamente as pessoas chegavam a ter dez filhos ou mais?

Era num misto de horror, cansaço e pura admiração pelos pais do século passado, que eu observava os meus filhos e os da Annie pegarem fogo no playground. Eram sete da noite e ainda estava claro. Annie estava na casa dela, provavelmente até o fio do cabelo de estresse devido às obras no apartamento novo, ao mesmo tempo em que precisava se preparar para as gravações que iniciarão na próxima semana.

Como eu tava com mais tempo hoje e não custava dar uma força, me ofereci de levar Manu e Emiliano pra tomar um sorvete e brincar mais um pouco após a colônia com os meus filhos. Os garotos brincavam de super-heróis e vilões, correndo por todos os lados, saltando pelo brinquedo, rolando no gramado e saindo na porrada, de mentirinha, claro. Eu já perdi a conta de quantas vezes falei pro Daniel pegar leve, já que ele ainda tava se recuperando da torção no tornozelo, mas entrava por um ouvido e saía pelo outro. Mas pelo menos eles brincavam bem, sem brigas e desentendimentos como era o meu caso quando eu era criança e brincava com meus irmãos e primos.

"Tio!" Escutei Emiliano chamando de cima do playground. Era impressionante a semelhança que ele tinha à mãe dele, especialmente tendo a assistido como a maioria das crianças mexicanas da nossa geração, em Chiquilladas. Desde os olhos azuis caídos nos cantos, até as bochechas, cabelos claros e carisma, Emi era a cópia da Annie.

Emiliano tinha uma expressão de desconforto, de quase dor no rosto. Observei ele descer do escorregador e vir correndo na minha direção, fugindo desesperadamente de um outro menino, bem maior que ele. Dei um salto do banco em que eu me sentava e ele correu para os meus braços. Eu o peguei no colo e ele se abraçou apertado à mim. Eu afaguei as costas e os cabelos dele, tentando acalmá-lo. O menino grande que o perseguia tinha o rosto fechado e estava com as mãos em punho. Manu e Nico vieram logo no encalço, com Daniel mancando atrás devido à bota ortopédica.

"O que houve, Emi?" Perguntei pra ele e foi aí que vi a boquinha dele tremer e os olhos se encherem de lágrimas.

"B-bateu em mim!" Ele chorou, apontando para o menino.

"Foi acidente ou de propósito? Afinal vocês estavam brincando de lutinha..." Eu perguntei, embora já imaginasse qual seria a resposta.

"Foi de propósito! Eu vi!" O Dani interveio, olhando feio pro menino. "Você bateu no Emi e queria empurrar ele de cima do escorregador!" Ele acusou o garoto.

"É mentira! Vocês é que são bebezinhos e não sabem brincar direito!" O garoto acusou, cruzando os braços.

"Qual é o seu nome?" Perguntei pro garoto que mal-educado, franzindo o cenho. "Onde estão seus pais? É muito feio bater nos coleguinhas, estraga a brincadeira pra todo mundo. A gente não deve principalmente bater em quem é menor que a gente."

Logo apareceu uma senhora baixinha dos cabelos escuros empurrando um carrinho de bebê.

"Fabián!" Ela chamou, "O que foi que você aprontou dessa vez?" Ela ralhou com o garoto, de imediato me lançando um pedido de desculpas com o olhar. "Perdão senhor, ele machucou o seu filho?"

"Sim, ele machucou!" Manu tomou a frente, defendendo o irmão. "Ele ficou batendo e empurrando mesmo quando o Emi pediu pra parar. Quase que o Emi caiu do escorregador! Minha mãe vai ficar muito brava!"

Eu quis rir daquela referência. De fato, uma Anahí brava era aterrorizadora, quanto mais quando alguém mexia com um de seus filhotes, isso é algo que temos em comum.

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