Pela primeira vez, sento-me na escrivaninha para escrever
e penso nas filosofias que represam as águas do rio.
É estranho ver vida por esse ângulo,
porque mesmo represada a vida uma hora há de seguir um caminho.
É engraçado ver que a água dentro de qualquer recipiente assume a forma da mesma
é como pensar na autopicanalize de Pessoa
e como o poeta finge ser tão perfeitamente, que sente aquilo que tinha de sentir.
Que se torna aquilo que tinha de ser.
Mas não quero ser a forma da represa, muito menos o rio
Quero ser livre, não que me barrem as margens
Não quero ser a mudança das nascentes para o encontro do mar
Não quero ter de carregar o peso que essas águas carregam
Vejam um peixe salta para fora d'água em meu imaginativo.
Em seu salto belo, vaidoso e egocêntrico,
Mostra-me um pouco daquilo que sou.
Ora peixe estúpido não sabe que esse ar não é para você, sua vida é na agua.
Agora debata e morra nas margens que me prendem.
Aproveite da liberdade que o matará.
Mas o peixe se debate às margens, acho quer voltar para o rio.
Me levanto da escrivaninha não quero mais ver a agonia do peixe, das represas ou do rio.
Não quero pensar que debato as margens sentado em minha escrivaninha.
Não quero ter de pensar que estou fadado, ou a morte, ou a prisão das margens.
Passo um café enquanto espero o peso da filosofia, do rio, das margens e do peixe que agora retornou a água seguir seu caminho para o mar.J.D.Ortega, 2023