𝘾𝘼𝙋𝙄𝙏𝙐𝙇𝙊 29

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MISA CONSEGUE AINDA ESCUTAR OS SOLUÇOS DE FINEEY DO OUTRO LADO DA CHAMADA, ela perdeu a conta de quantas vezes isso ja aconteceu. Gwen e Finney nunca foram de contar o que acontece dentro de casa, o que o pai faz com eles quando ninguém está olhando, porém, Misa tinha uma certa noção, talvez distorcida, mas tinha, tudo culpa das chamadas.

As vezes, na calada da noite, o telefone particular de Misa (o qual quase nunca usava), tocava, e quando a mesma não estava acordada, ela levantava sonolenta e sem raciocinar atendia, e la estava seu melhor amigo, em prantos, se sentindo sozinho e desolado, sem saber o que fazer e como agir. E nessas malditas noites, Finney falava do monstro que chamava de pai, como ele batia nos filhos, como arrebentava a cara deles ou quebrava coisas, e depois apagava, acordando outro homem. Finney só ligava quando não sabia mais o que fazer, o fardo pesando nos ombros, a culpa de não poder fazer nada para tirar Gwen dessa.

Misa tentava ser forte na maior parte das vezes, mas sempre deixava lágrimas rolarem juntas das do amigo. Mas já fazia tempo que Finn não ligava mais, não dava indícios disso, ela achou que tinha parado, que Terrence talvez tinha percebido o trauma que estava fazendo, porém, agora ela viu que não. Misa percebeu ali, olhando o amigo pela janela, olhos inchados, e apenas negando, ela o entendeu tão rápido ao ponto de não querer ter entendido.

Misa limpou as lágrimas, fechando ambas as mãos encima da coxa.

─ Eu não deveria estar chorando ─ ela diz fungando.

─ Por que acha isso?

Sem levantar o olhar Misa diz "por que não sou eu que estou sofrendo Robin, é a Gwen e o Finn que estão, isso não é justo". A garganta de Robin fecha, a cada lágrima que cai, ele sente como se seu coração estivesse sendo dilacerado.

─ Você está se preocupando pelos seu amigos, pelo sofrimento deles, isso é nobre da sua parte.

Ela o olhou de relance, segurando as lágrimas.

─ Nobre? para mim o que estou fazendo é ridículo, nobre seria se tivesse a coragem para sair desse carro e interferir em alguma coisa.

Misa olhou pela janela, Terrence mantem as mãos na cintura, enquanto Alexandro tem os peitos estufados, quase como se pudesse voar em Terrence a qualquer momento, era quase uma briga corporal, mas sem de fato se tocarem. Robin suspirou, agarrando novamente a mão da amiga.

─ As vezes nem sempre é sobre fazer algo, bater de frente, gritar e levantar punhos, coragem não é sobre isso, muito menos ser uma pessoa nobre, mas sim ter compaixão, empatia, apoiar quem precisar ─ ele faz uma pausar, se aproximando ─ agir como eu, não quer dizer ter coragem muito menos que me importo mais que você, Finn não gosta de brigas e tem medo das coisas, mas ele é a pessoa mais empática e preocupado que já conheci, Misa, sofrer por eles, com eles, não é errado.

Ela levantou o rosto, deixando mais algumas lágrimas caírem, os lábios tremendo.

─ Robin, você deveria virar psicólogo.

Isso arrancou um sorriso e uma risada nasal do mesmo, ele não deveria agir assim nessa situação, mas a combinação da situação tensa mais o olhar de Misa o fez querer rir. Mas antes que pudesse fazer isso de fato, Misa pulou em seu pescoço, o abraçando.

─ Robin, eu gosto tanto de você.

Se ele pudesse guardar esse momento em potinho e guarda-lo, Robin o faria, se ele pudesse apenas ficar nessa posição, ele o faria sem pensar duas vezes. Os braços de Misa roçando seu pescoço, e seu rosto enfiado na dobra do mesmo, fez uma mistura de sentimentos se emaranharem como um nó na barriga de Robin. Bochechas queimando, adrenalina sendo pulsada pelas veias de seu corpo, tudo ficando tão quente de repente.

𝙈𝙔 𝙋𝘼𝙏𝘾𝙃𝙀𝘿 𝘽𝙊𝙔                                    ─ʀᴏʙɪɴ ᴀʀᴇʟʟᴀɴᴏ─Onde histórias criam vida. Descubra agora