20- Memórias complicadas

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Lee Minho's point of view

Depois daquela pequena discussão, o silêncio tomou conta do apartamento de Saemi e mesmo que nós dois estivéssemos um ao lado do outro, nada acontecia, nenhuma provocação ou qualquer coisa do tipo, nenhuma palavra. Eu poderia muito bem me levantar, pegar a minha chave que há alguns minutos vi no balcão da cozinha e simplesmente voltar para casa, mas algo dentro de mim me fazia ficar lá, talvez eu apenas quisesse evitar a Guk de fazer algo que não devia.

Eu olhava para a tela de meu celular apenas passando e curtindo qualquer coisa no Instagram, não é o melhor dos passatempos mas era o que eu tinha para fazer. Foi quando algo finalmente aconteceu, senti um peso cair sobre meu ombro, aquele que estava ao lado de Saemi, eu ignorei aquilo, com certeza eu não estava preparado para olhar para aquele lado. O tal peso continuou por lá e não ia embora de jeito nenhum então decidi ver o que era, Saemi estava dormindo profundamente com sua cabeça encostada em meu ombro.

Eu a encarava sentindo meu rosto pegar fogo, a esse ponto achei que minha febre -que já havia ido embora há alguns minutos- já estava de volta. Eu estava bem nervoso e não tinha ideia do que fazer naquela situação.

"Por que eu estou tão nervoso? É só a Saemi!" Eu pensei. "Claro, essa situação é estranha, estar sozinho com uma garota, na casa dela e ainda com ela tão perto assim, é estranho". Fiquei mais um tempo pensando até que tive uma ideia, deixei Saemi deitada no sofá antes de pegar ela no colo com o objetivo de levá-la até sua cama. Meu coração batia forte enquanto ela descansava sua cabeça em meu peito e eu tinha certeza de que estava ainda mais vermelho que antes.

-Pelo menos ela não é tão pesada.- Eu murmurei deixando-a em sua cama.

Fechei as cortinas para evitar que o sol atrapalhasse seu sono e cobri ela com um de seus lençóis, evitando que ela ficasse com frio ou talvez piorasse da gripe. Observei ela por um tempo antes de ir embora, quando Saemi não fala ou faz nada talvez ela pareça pelo menos um pouco bonitinha para mim, mas eu não posso de jeito nenhum pensar nela dessa forma, afinal, Saemi nunca vai gostar de mim.

Eu saí de seu quarto suspirando, lá fora estava frio e mesmo que eu quisesse voltar para casa, tinha mais uma coisa que eu precisava fazer por Saemi. Peguei a vassoura jogada no chão e comecei a varrer o chão da casa, mesmo que estivesse cansado, fui eu que trouxe o meu gato e sou eu quem tenho que limpar a bagunça dele. Demorou um pouco mas eu finalmente estava jogando o pelo que varri fora, quando escutei a porta da frente se abrir.

-Lino! Onde está a Saemi?- Guk Hanseo, a mãe de Saemi indagou assim que me viu.

-Ela dormiu, então eu trouxe ela pro seu quarto.- Respondi com um sorriso.

-Você já melhorou?

-Eu me sinto bem melhor do que hoje mais cedo, obrigado por me deixar passar esse tempo aqui, senhora Guk.- Eu me curvei rapidamente.

-Tudo bem, Lino.- Ela sorriu.

-Bem... Acho que já estou voltando pra casa.

-Tudo bem, mas pode voltar pra jantar com a gente se quiser.

(...)

Eu definitivamente não voltei para jantar, sinceramente, eu estava tão envergonhado apenas de se lembrar daquela situação que eu poderia me tornar o mais vermelho o possível se aquilo apenas se passasse em minha cabeça. Felizmente -ou não- eu já não estava mais gripado e teria de ir a escola naquela manhã, me olhei no espelho e tudo parecia nos conformes, cabelo arrumado, uniforme limpo e nada fora do normal.

Até aquela memória idiota voltar a minha cabeça. Observei meu rosto gradativamente tomar um tom avermelhado enquanto eu escondia minhas bochechas atrás de minhas mãos e murmurava:

-Saemi, isso é culpa sua!

(...)

Entrei na sala de aula com uma máscara no rosto, eu tinha bons motivos e a desculpa perfeita para estar usando aquilo. Eu evitava olhar para Saemi, deixei minha mochila no chão completamente concentrado na mesma e me sentei sem olhar para meu lado direito, onde Saemi estava apenas mexendo em seu celular.

Mesmo que eu evitasse, sem perceber eu a olhava de canto e desviava o olhar o mais rápido possível. Eu me perguntava se ela se lembrava daquilo ou se pelo menos teve uma noção do que aconteceu, talvez ela estivesse tão nervosa quanto eu. As primeiras aulas duraram apenas duas horas e trinta minutos no total, mas soaram como uma eternidade, nunca fiquei tão feliz com um sinal tocando em todos os meus dezesseis anos de vida.

-Minho!- Ouvi aquela voz me chamar antes que eu pudesse apressar meus passos para fora da sala.

Meu coração acelerava como se estivesse prestes a sair por minha boca, eu praticamente corria tentando ignorar tudo o que se passava em minha mente. Eu escutava passos tão apressados quanto os meu atrás de mim o que me fazia andar ainda mais rápido.

-Minho!- Ela me chamou novamente.

Eu praticamente corri para o banheiro masculino. Saemi claramente estava tentando dizer alguma coisa, mas eu era incapaz de ouvir qualquer coisa que ela tinha a dizer. No banheiro, eu me apoiei na bancada de uma das pias me encarando no reflexo do espelho, eu estava bastante ofegante por conta da correria. Passei a mão em meu cabelo antes de tirar fora a minha máscara e ver a minha situação, meu rosto queimava, meu coração batia acelerado, acho que ainda estou doente.

Joguei um pouco de água gelada em meu rosto, tentando acabar com aquela vermelhidão idiota. Percebi os outros garotos no banheiro me encarando, a este ponto, além de estar doente fisicamente, acredito que fiquei louco de brinde. Eu passei todo o intervalo no banheiro sem ter a mínima coragem de sair, mas quando acabou, eu me olhei no espelho uma última vez antes de criar coragem para ir até a minha sala.

Chegando lá, eu não fiz nada além de me sentar em meu lugar sem fazer contato visual com Saemi. Agora eu estava sem máscara e a Guk nunca poderia me ver naquele estado, nunca mesmo. Eu deitei minha cabeça na mesa, na esperança de fazer com que Saemi não falasse comigo, mas eu precisava parar de agir de forma tão patética pelo menos uma vez na vida, então em certo momento, em um ato de extrema coragem, eu virei a minha cabeça para ela. Não demorou muito para que aquelas memórias imbecis voltaram a minha cabeça e meu rosto ficasse vermelho enquanto eu insistia em olhar para a Guk.

-Merda.- Murmurei levantando minha cabeça. -Saí! Saí! Saí!- Eu bati em minha cabeça repetidas vezes.

-Minho...- Ela se virou para mim. -Você tá bem?

-Não.- Eu me levantei e saí correndo da sala.

(...)

Eu cheguei mais cedo em casa, menti que estava doente e peguei um táxi até em casa. Eu não sabia o que fazer nem entendia o que estava acontecendo, pensei e pensei, mas não havia ninguém que poderia me ajudar com isso. Jisung e Changbin não tem muitas experiências com garotas, Min é uma criança, meus pais fariam essa informação chegar até Saemi e falar tudo para a Guk seria idiotice. Então, eu fiz a coisa mais sábia que alguém faria nesse momento, escrever um post na internet.

Me sentei em frente a meu notebook e comecei a digitar. Eu escrevi sobre tudo, desde quando éramos crianças até agora, o que aconteceu, como eu fiquei nervoso e tudo mais, depois de terminar, eu finalmente postei o texto, esperando uma resposta. A primeira resposta que vi me chocou:

"Cara, você com certeza gosta dela".

The Jerk Next DoorOnde histórias criam vida. Descubra agora