Capítulo 5

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Cheguei a casa a tempo de ver o meu irmão subir as escadas para se ir deitar. 

(...)

Alguns dias se passaram e o silêncio reinava quando perguntava aos meus pais sobre aquela da inspetora, eu já estava farta, e eu sabia que eles já sabiam isso. 

Não me apetecia ir para casa, muito menos aturar aquele ambiente insólito que se formava lentamente, e que transformavam a casa quase que numa jaula sem oxigênio. 

Fiquei no Seixal encostada ao meu carro, para ver se mantinha comigo ar suficiente para conseguir voltar para casa, mas não consegui, sento-me no chão, mas não choro, apenas fico sentada entre o meu caro e o passeio. 

Não sei quanto tempo fiquei ali sentada, apenas sei que vi o sol se pôr ao longe, quando por fim me levanto, vejo o Henrique a sair do Campus com um grupo de colegas, ele não me via agora ali, por isso não olhou sequer para a minha direção.  

Mas foi o António Silva que ia mais atrás que lhe chama a atenção sobre a minha presença,  ele despediu-se dos outros que ficaram a gozar com ele ao longe, enquanto entravam no autocarro que os levaria a casa, claro aqueles que ainda não tinham carro e não moravam ali no Campus. 

- Olá! - disse a beijar a minha testa, desde aquele dia do jogo do meu irmão, que quase nunca nos víamos, os horários não batiam. 

- Olá. - Se calhar era a primeira vez que nos víamos depois do nosso quase beijo. 

- Parece que o problema ainda não foi resolvido! - disse encostado ao meu carro. Neguei e sinto o calor do seu abraço envolver-me, o tanto que eu desejei novamente aquele calorzinho que me fazia sentir nas nuvens e ficar lá em cima no paraíso, abraço-o pela cintura e não o largo, pouso a cabeça no peito dele e ele pousa a cabeça sob a minha. 

Aquele abraço soube-me pela vida e eu não queria sair dali, ele não disse nada, apenas ficou ali abraçado a mim durante sei lá 5 minutos? Não os contei, mas foram muitos. 

- Estás melhor? - Afirmo e sinto-o sorrir. Olho para ele e ele para mim. 

- Acho que os meus pais não me querem contar. - Começo por dizer. - Acho que é algo pesado, eu sinto que é pesado. - digo. 

- O que pensas que pode ser assim de tão grave, para eles estarem assim receosos da tua reação? - Pergunta sem partir o contacto físico comigo. 

- Sei lá, pode ser tanta coisa. - digo.

- Mas o que o teu instinto diz?

- Sinto que parte da minha infância foi meio apagada pelo meu cérebro, parece um escudo que eu não consigo abrir ou passar, é muito denso pesado, percebes?. - digo e ele afirma. - Sinto que falta alguma coisa, algo que não bate certo, eu sempre senti isto, um vazio enorme que por muito que tentasse, não saía, mas desde que o meu irmão nasceu parece que esse vazio ficou preenchido, mas esta ligação, aquele nome daquela inspetora, não me é estranho, não bate certo. - digo.

- Talvez devesses confrontar os teus pais. - disse a apertar o meu corpo com mais delicadeza. 

- Já o fiz, mas parece que não querem dizer. - digo frustrada. 

- Tens de ter calma, eles podem achar que não estás pronta para ouvir, ou se calhar eles não estão prontos para voltar ao passado, se foi algo assim tão pesado. - disse. 

- Talvez tenhas razão, é mais provável essa parte de eles não quererem enfrentar o passado do que eu não estar pronta para o que dali vier. - digo por fim. 

- Levas-me a casa? - disse e eu afirmo. Entramos no carro, e eu beijo a bochecha dele. 

- Obrigado, por me ouvires!  - digo.

Amor Desleixado | Henrique AraújoOnde histórias criam vida. Descubra agora