Train Wreck.

109 8 9
                                    

Hiiii! Apareci na sexta para atualizá-las sobre o nosso drama do momento... Fiquei muito feliz com os comentários e os pedidos de vocês! Muito obrigada por isso. 

⚠️⚠️⚠️ATENÇÃO: Esse capítulo contém gatilhos sobre tentativa de suicídio. Se você está passando por uma fase ruim recomendo que tente vir lê-lo em outro momento. E se quiser desabafar, saiba que estou aqui. SUA VIDA IMPORTA PARA MIM. 

Boa leitura! 

_____________

Shell Cottage, 1998

X

Meu corpo parecia pesado, meus olhos ardiam enquanto as lágrimas salgadas tal qual o mar que nos rodeava despencavam insistentemente, manchando minhas bochechas e rasgando meu coração, trazendo à tona tudo o que eu tentava esquecer todas as noites.

O que ninguém te conta sobre a saudade é que até que você se acostume a senti-la, ela te consome. Te desintegra. Te afoga como se fosse a primeira vez.

De pouquinho a pouquinho. Até não restar quase nada.

Em algumas noites a saudade que eu sentia deles parecia sufocante. Em outras, me arrependia do que havia feito. Apagar suas memórias mas manter as minhas era doloroso em níveis imensuráveis, e eu tinha ganas, quando a dor dilacerava minha carne como um corte profundo, de ter coragem de obliviar a mim mesma e esquecer, enfim, aquilo que me matava. Aquela maldita incerteza: Talvez eu jamais conseguisse recuperá-los... Talvez eu não tivesse mais ninguém no mundo. Apertei a mão contra a boca para evitar que meu choro acordasse a casa inteira. Queria gritar, queria fazer aquilo parar. Mas todas as minhas tentativas haviam se mostrado infrutíferas desde o momento em que o feitiço escapou da ponta da minha varinha. Estava cansada de ser forte o tempo inteiro, quer dizer, de tentar ser.

Levantei da cama em um arranco, calçando os sapatos e saindo do quarto rapidamente. Quando alcancei o corredor escuro percebi que a tempestade assolava com força a pequena casa na praia, os clarões intercalados com os sons dos trovões davam a sensação de estar balançando sua estrutura e fazendo com que o som do vento contra as conchas do telhado parecessem uma canção.

Desci as escadas silenciosamente, a casa era antiga e rangia ao mero toque, não queria incomodar ninguém com meus problemas, eu só queria poder parar de me sentir daquela forma, sair daquele desastre infernal.

Tudo o que havia no andar inferior era breu, nada além. Inspirei profundamente e segui em direção à porta da casa, abrindo-a.

A primeira rajada de vento pareceu trincar meus ossos, gelando meu corpo inteiro como se eu estivesse me enfiando em uma banheira cheia de gelo e então, mesmo com o desconforto da temperatura, caminhei para fora, sentindo, além do frio da ventania, os pingos de chuva que mais pareciam vidro do que água, que perfuravam a minha pele sem dó. Mas nem mesmo aquela dor conseguiu se igualar aquela que latejava em meu ser. Aquela que me sufocava, que me enlouquecia.

Chorei, sentindo as lágrimas quentes se misturando às gotas geladas da chuva que despencava do céu. Nem sabia ao certo o que estava fazendo, porque estava no meio de uma tempestade violenta em plena madrugada, e inspirei profundamente olhando ao redor, e tudo o que minha visão conseguiu identificar naquele escuro ainda mais denso foi o brilho prateado das ondas quebrando furiosas na beira da praia e em como elas pareciam apenas murmurar meu nome, me chamando. Um canto melodioso que sussurrava que elas poderiam acabar com tudo simplesmente.

Avancei vagarosamente, caminhando em direção às ondas, acatando suas ordens, aceitando seu chamado. Senti a espuma salgada tocando os sapatos e alcançando meus dedos do pé, molhando-os, o cheiro do mar e da chuva inundavam-me completamente. Embalando-me na direção daquela decisão.

Shell Cottage - DramioneOnde histórias criam vida. Descubra agora