Demons.

176 11 7
                                    

Oieee! Depois de muito tempo voltei e preciso deixar claro que esse capítulo inteiro vai doer e muito, mas espero que vocês gostem!

Ps; essa imagem foi criada através de IA. 

Boa leitura! 

________

XVII

Shell Cottage, 1998

Era irônico que aquele dia fosse tão ensolarado, particularmente ridículo que, durante todo o mês, as tempestades fora de época tivessem assolado aquela praia com tal recorrência que se tornara quase normal, esperado até. Chuvas e trovoadas chacoalhando a pequena residência por horas a fio. O uivo dos ventos ressoando nas conchas como uma canção havia embalado mais noite do que eu podia contar - ou me lembrar com precisão. A água batendo com força nas janelas, o som das gotas caindo no mar além. Parecia até inverno, intenso e aprisionador. Mas naquele dia o sol raiava forte e brilhante acima de nossas cabeças, trazendo a todos os outros presentes no pequeno chalé a expectativa de que os dias cinzas estavam perto de terminar. Que poderíamos ter esperanças, que lutar era o certo e que em breve Voldemort seria liquidado, que estaríamos seguros de novo... Queria sentir tudo isso, queria poder me regozijar em cada fio de fé e confiança. Afinal de contas, não era por isso que mantínhamos aquela resistência ali? Para lutar em prol do ideal de Justiça que o Ministério não podia nos dar?

Só que um bolo denso impedia-me de sentir qualquer coisa além de dor, raiva e mágoa. Ressentimento, frustração... Todos aqueles sentimentos negativos que me empurravam para o abismo escuro e frio que jamais ousei me deixar cair. E tudo o que eu fazia era observar as pessoas animadas com as possibilidades, enquanto eu gritava por dentro. Quebrada demais para fingir o contrário. Decepcionada demais para me deixar levar por todo aquele otimismo.

Draco partiu.

Partiu na calada da noite.

Partiu tão inesperadamente quanto chegou.

E junto de si levou meu coração, e todas as promessas que um dia me fez. Todas aquelas tolices que facilmente acreditei.

Engoli em seco a vontade de chorar que chegou a minha bile ao lembrar que, justo naquele dia ensolarado cheio de promessas não verbalizadas, eu estava pronta para fazer o que ele havia sugerido. Estava pronta para não ter mais segredos.

Ser livre.

Amar em voz alta.

Os dias após a nossa conversa foram silenciosos, precisei me retrair para não sucumbir a tudo que acontecia em todos os polos. De um lado havia meu plano com Harry e Ron e as horcruxes que ainda precisávamos capturar e que destruídas garantiriam a nossa vitória. E de outro existia Draco e todo aquele sentimento que existia em meu peito e que estalava fortemente a cada batida do meu coração. Que regava minhas veias como sangue, que fincara raízes profundas e fortes em mim desde o primeiro momento. O primeiro chá. Não queria escolher um lado, não queria dizer sim a ele e deixar os meninos na mão sozinhos naquela busca implacável, mas também não queria rejeitá-lo. Ele não merecia isso. Não merecia nada além de todo o amor do mundo e eu o amava. Inevitavelmente e inexplicavelmente e pretendia dizer isso a ele, mas tudo que encontrei quando o busquei no chalé lotado foi o vazio excruciante de sua partida. E meu mundo pareceu desabar diante dos meus pés. Eu estava devastada.

Talvez ele tivesse seus motivos. Talvez alguma coisa aconteceu e ele precisou agir.

Era cedo para especulação e talvez, mas só talvez, tudo se arrumasse em breve. Ousei me deixar levar por esse pensamento, mesmo que aquela sensação incômoda continuasse martelando no meu coração como um agouro. Eu ainda poderia dar a ele o benefício da dúvida. Ainda poderia acreditar que ele voltaria para mim. Não é?

Shell Cottage - DramioneOnde histórias criam vida. Descubra agora