Enquanto Catherine comia uma banana prata, ele foi até o outro quarto e voltou logo em seguida, trazendo o que ela pedira e a bolsinha plástica, contendo seus produtos de maquilagem. Deixou as coisas em cima da cama e sentou-se de novo na cadeira.
— Faz quatro anos que meu filho esteve aqui com a mulher, logo depois de terem se casado. Depois disso ninguém mais usou a cabana. Por isso ela estava naquele estado, cheia de goteiras. Nosso filho veio outras vezes, mas sozinho, e então dormiu no posto médico, onde estão os seus amigos agora.
— Por que os doentes indígenas não dormem mais no hospital como antigamente? Nick me contou isso.
Almerinda passou a mão pelos cabelos ajeitando a longa trança.
— O dr. Nick acha que é melhor eles ficarem na aldeia deles. Só quando o caso é muito grave, então, ele traz o doente aqui para o hospital de campana.
— Por que, Almerinda?
— Ele quer que fiquem afastados dos outros pacientes os caboclos que vivem aqui por perto e nas margens do rio. É muito perigoso deixá-los juntos. Sabe, antigamente, quando tinha algum paciente que precisava ficar longe dos indígenas, o dr. Nick trazia aqui para a cabana dele e proibia que fosse no posto médico. Até que um dia um homem desobedeceu, e foi aí que começou o problema. Foi há dois anos.
— Problema?
Almerinda encheu uma xícara com café quente, da garrafa térmica, adoçou com mel de abelha e entregou a Catherine.
— É. Sabe, o homem veio para cá por causa de um braço quebrado, mas acontece que também estava com uma espécie de gripe. E foi o que bastou. Uma semana depois quase todos os indígenas que estavam no hospital tinham morrido.
Catherine ficou horrorizada.
— O quê?
— Mas acho que o dr. Nick não poderia ter evitado que isso acontecesse, mesmo que tivesse amarrado o homem na cama. O homem estava procurando ouro num afluente do Amazonas quando quebrou o braço. Foi encontrado e trazido para cá por alguns indígenas da aldeia do outro lado do rio, e, uma semana depois, muitos indígenas dessa aldeia estavam morrendo também. E em seguida foi a outra aldeia vizinha, depois a outra e a outra...
Então era essa a Grande Doença de que falara a bela indígena? Catherine pensara que se tratava de alguma estranha moléstia tropical, e pelo jeito não fora apenas um surto de gripe comum.
Seria mesmo possível? Chocada, ouviu a continuação da história, que confirmou a sua conclusão.
— As doenças tropicais não são graves para os indígenas, eles têm imunidade contra elas por causa do convívio com os homens brancos que vieram anos atrás para as tribos e também graças as vacinas. Mas qualquer coisa que venha de fora... aí é um horror! Eles morrem como moscas e o dr. Nick não podia fazer nada para impedir, mesmo com os recursos mais modernos da medicina. e para piorar o governo deu ordem para que a notícia fosse abafada, enfim, todos morreram, mas não existem para a maioria da população brasileira. O dr. Nick mudou tudo isso com o passar dos anos.
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Prazeres No Paraíso - Série Pecados Capitais - Livro IV
RomancePrazeres No Paraíso Sinopse Presa à memória do noivo, falecido em trágicas circunstâncias, Catherine Tramell não suportava mais a idéia de viver ao lado de h...