Estava amanhecendo quando Catherine acordou com um alarido de vozes. Não dava para entender nada, mas o tom parecia ameaçador.
Virou-se e saiu da cama. Estava péssima, o corpo todo dolorido, além do desconforto de ter dormido de roupa. Os tornozelos, apertados nos canos das botas, estavam inchadíssimos, aliás, todo o seu corpo parecia inchado. Os pés estavam completamente dormentes.
Ainda meio atordoada, pôs a cabeça para fora da barraca e ficou gelada. Dois guerreiros da tribo estavam parados ali na frente, apontando suas lanças para ela. A visão era assustadora, eles não pareciam nada amistosos, como se já não bastasse a aparência esquisita que tinham com aquele enfeite nos lábios.
Catherine esgueirou-se pela abertura, sob as pontas das lanças, e sentou-se devagar, diante da barraca, já que a atitude deles não a encorajava a ir mais adiante.
Bastou uma rápida olhada em redor para perceber que Henry e Paulo estavam na mesma situação, sentados na frente da outra barraca.
— O que aconteceu? — Perguntou ela a Henry, quase num sussurro, os olhos fixos nas pontas das lanças lambuzadas de curare.
— Pergunte a Paulo.
— Não houve nada de mais. — Paulo parecia alarmado. — A única coisa que fiz
foi ir até o fim da clareira, onde começa a selva, às quatro horas da madrugada. Eu estava meio bêbado, do contrário nunca teria tido coragem. Ficamos até tarde com Eranê, tomando kashiri. Henry também estava como eu, nada bem...
— Sabe como é, Catherine... não costumamos fazer isso. — Defendeu-se Henry, — Mas a reunião estava muito chata. Eranê e Nick conversavam em português e não estávamos entendendo nada. Só deu para perceber que Nick estava convencendo o cacique a arranjar uma esposa... daí, achamos que poderia parecer indelicadeza irmos embora, então ficamos ali, bebendo para distrair e acho que passamos da conta...
— Mas por que foram se meter na selva?
— É que resolvi gravar alguns sons noturnos. — Disse Paulo. — Sei que foi uma loucura...
— É, realmente não foi uma ideia brilhante. — Concordou Catherine, — Mas também não acho que seja uma ação para merecer um castigo desses. Por que será que os indígenas se sentiram tão ofendidos?
— Parece que eles acharam que Paulo ia se encontrar com uma mulher da tribo.
— Deus me livre! Depois das histórias que ouvi, eu jamais chegaria perto de umas dessas mulheres. Imagine só! Nem bêbado eu faria uma loucura dessas!
— E o dr. Nick não pode fazer nada para nos ajudar? — Catherine estava seriamente preocupada.
— Ele está tentando convencer Eranê, enquanto nós, aqui, esperando o veredicto.
Diante da outra barraca estava Augusto, sentado, cabisbaixo, com ar de resignação, e ao lado dele os outros dois carregadores.
— Nick disse que Eranê não é tão cabeça dura quanto o cacique anterior. — Disse Paulo, esperançoso. — Na verdade, o incidente não ia dar em nada, mas aí alguém identificou a moça que, segundo eles, eu teria levado para a floresta.
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Prazeres No Paraíso - Série Pecados Capitais - Livro IV
Storie d'amorePrazeres No Paraíso Sinopse Presa à memória do noivo, falecido em trágicas circunstâncias, Catherine Tramell não suportava mais a idéia de viver ao lado de h...