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Tive medo de que tudo não passasse de um sonho

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Tive medo de que tudo não passasse de um sonho...
Meu corpo era tal a folha de uma árvore que lançada ao vento flutua pelos ares, rodopiando e embalando-se sem destino certo, somente sentindo o sabor da brisa, a sensação de liberdade, de paz, de plenitude...

Ainda com olhos fechados tateei o colchão ao meu lado já ansiando o corpo quente e macio de Dilan, porém, encontrando o vazio, despertei de imediato, notando sua falta no quarto.
A bolsa ainda estava no lugar, juntamente com o celular e outros pertences, somente algumas peças de roupa faltavam, então ela não deve ter ido longe, talvez até a recepção...

Mas, bastou um olhar mais detalhado sobre a cama para perceber várias fotos espalhadas.
Nelas, Derya e eu entre os lençóis da mansão,  em poses comprometedoras, abraçados, com ela beijando meu rosto, abrindo minha camisa, vestindo somente lingerie. Comum a todas é o fato de eu estar adormecido devido ao chá que me deram naquele dia, mas algo me diz que, Dilan não deve ter se atentado a esse detalhe e, corroída pela tristeza e revolta partiu, deixando-me definitivamente.

Sem perder tempo, visto-me e vou correndo até o elevador, onde aperto todos os botões mas a demora é grande, acabo desistindo e desço saltando os degraus da escada através dos dez andares.

Dirijo de maneira insana, cortando as ruas, sem ligar para o trânsito, outros carros ou semáforos. O ar já a muito abandonou meus pulmões e o coração, tomado por sofrimento, está pequeno e bate convalescente. Minha mente trabalha frenética, buscando uma resposta objetiva sobre o paradeiro da minha esposa. A mansão é totalmente descartada... Talvez tenha retornado para a casinha alugada, mas lá seria facilmente encontrada...
Há somente um lugar que ela estaria segura e a salvo de mim, um lugar onde meus pés negariam-se a pisar...

Esmurro a porta descontando nela um pouco de minha raiva, dor e medo. Em seguida uma sombra surge pelo vidro e com ela, uma senhora, a mãe de Dilan.

A mulher transborda pavor e hostilidade em seus olhos. Devo admitir que sua postura combativa me surpreendeu e, imagino que ela esteja preparada para defender a filha mas, a seguir, percebo que errei completamente em meu julgamento.

- O que o Senhor quer aqui? Fique longe da minha família! Dilan é sua esposa e mesmo não sendo nossa filha, foi dada aos Karabey como pagamento da dívida de sangue. Não aceitarei ela de volta!

- O que está dizendo?

- É isso mesmo. Cumprimos nossa parte no acordo. A garota foi criada por nós desde criança, ela deve servir para sua vingança. Vá embora e esqueça que existimos !

Com a última palavra, ela fechou a porta e eu permaneci alguns segundos petrificado com o choque do que ouvi.
Dilan não é filha do assassino... Não é... Dilan não é minha inimiga... Ela não carrega o sangue do homem que matou minha mãe... Ela não é culpada... Ela não deveria pagar por nada...

Levo as mãos à cabeça e cravo as unhas no couro cabeludo. Quero com minhas forças arrancar os pensamentos lá de dentro... Desejo que sumam as palavras, lembranças e tormentos que estou sentindo.
Caio de joelhos no chão. À minha frente, surgem flashes de momentos que Dilan sofreu, que ela ouviu acusações e que foi maltratada por mim e minha família...

Choro, já beirando a loucura.
Onde quer que ela esteja, nunca irá me perdoar por ter sido julgada e condenada injustamente. Justo quem é um anjo, doce, bondosa e correta pareceu todo tipo de sofrimento sob meu teto. Eu que sempre me orgulhei de ser justo, que investigava e colhia informações sobre todas as pessoas ao meu redor a fim de conhecer com quem estava lidando. Eu que sempre cobrei a postura certa de Cihan e servi de exemplo para ele, deixei passar a maior verdade sobre meu casamento, a vida da minha esposa e nossos destinos.

Reunindo os cacos de mim mesmo, como sempre sozinho, levanto-me e dirijo o carro sem pressa dessa vez. Sei que a vida solitária, agora que conheci o amor, nunca mais será a mesma. Não tenho porque ter pressa, ninguém me espera, nem anseia por meus carinhos. Talvez eu realmente tenha nascido para me dedicar ao meu irmão e negócios da família. Viver uma história só minha, em que tenho sentimentos e sonhos, é algo que não me pertence, algo que ousei pegar sem permissão.

Será que Dilan sabe a verdade? Se sim, desde quando? Não creio que seja a muito tempo... Ela jamais teria suportado todo ódio que lhe foi destilado se não precisasse. Ela sim, é justa. Na primeira oportunidade jogaria na minha cara a verdade com aquele nariz perfeito empinado e olhos refletindo seu coração. Ela me faria recuar e fugiria para sempre, como fez agora.

Quando percebi, estava estacionado em frente a casa que aluguei para Dilan. Aqui onde vivemos momentos de descoberta e entrega, onde pude ser eu mesmo, sem toda carga que carrego desde criança. Esse teto que serviu de refúgio para pessoas queridas, minha família verdadeira, agora não passará de mais um local impregnado de lembranças.
Como direi a todos que com uma mentira e uma verdade, perdi a mulher que amo?

Meus passos são pesados no trajeto até a porta, sei que quando entrar lá o vazio que ela deixou me atingirá com força. Giro a chave e me assombro com o que vejo.
Na pequena sala estão Cihan, irmã Kader, Gül, minha avó, Derya, meu tio Hassan e para meu total alívio e preocupação, Dilan.

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