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Quem me vê aqui sentada no sofá do quarto, não diz o que se passa em meu ser. Por fora, sou a perfeita imagem da apatia: corpo inerte, olhos vidrados, respiração inaudível... Mas é nas profundezas de minha alma que se encontra a avalanche de emoções prestes a me soterrar. Ainda não creio no que fui capaz de fazer... Apunhalei Baran e o deixei ferido. Mas foi em minha defesa. Não foi? Senão, ele iria me atacar! Não iria?
Já não sei mais as respostas... Todo medo que senti de que meu marido consumasse o casamento essa noite, se esvaiu ao perceber a mágoa em seus olhos. Eu não deveria me sentir culpada. Fiz o necessário por minha honra, afinal esse não é um casamento normal, nós combinamos que não haveriam intimidades, Baran prometeu não me tocar. Aliás, ele disse que nunca teria nada comigo com tanta repulsa e ódio que acreditei fielmente que jamais chegaríamos a esse ponto...
Se meu irmão visse o estrago que fiz com o punhal enviado por ele, ficaria orgulhoso, diria para crava-lo mais fundo, de maneira mortal e então virar as costas e fugir o mais rápido possível. Era o que eu deveria ter feito. Deixar Baran sangrando e me tornar uma viúva, livre, longe da mansão e dessa família insana. Mas não pude... Passado o choque inicial, tudo que senti foi arrependimento e dor. Desde o princípio minha intenção era assusta-lo, afastar a possibilidade de deitar-me com ele forçada, mas as coisas saíram do controle, quando o vi aproximar-se ouvi novamente as palavras de sua avó dizendo-me para cumprir meu dever de esposa, então tomada pelo pânico o acertei bem no coração...
Como em todas as vezes, Baran teve uma reação inesperada, imaginei que ele iria me arrastar pelos cabelos até aquele maldito buraco do jardim e me enterrar lá para sempre, mas não, cuidei dos seus ferimentos, e, a cada vez que olhava o tamanho dos cortes, meu peito apertava. Me tornei um verdadeiro monstro, uma louca, uma assassina. E se ele me denunciar à polícia? E se quiser vingança contra minha família?
Somente notei a presença da irmã Kader quando ela segurou minhas mãos.
- O que aconteceu minha menina? O senhor Baran está furioso no escritório. Pude escutar da cozinha o barulho das coisas indo ao chão.
- Foi algo horrível... Não terei perdão dessa vez...
- Meu menino é bom. Seja lá o que tenha acontecido entre vocês, uma conversa resolve tudo.
- Ele não me escuta... Esse é o problema. Queria pedir perdão, me justificar mas nada adianta.
- Pois a oportunidade surgiu. Seu marido me pediu para lhe avisar que hoje vocês irão a um jantar, juntos! O senhor Selim e sua esposa ficaram encantados com você e exigiram sua presença.
- Não posso... Não depois de... Ele não deve ter falado a sério...
- Mas é verdade. Inclusive mandou lhe avisar que um vestido para a ocasião será entregue aqui na mansão. Alegre-se, pois creio que vocês irão se acertar.