6

483 41 6
                                    

Sim

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Sim. Me apaixonei por ela naquele dia, a primeira vista, no instante exato que nossos olhos se cruzaram, eu soube que aquela mulher seria minha.
Nunca esquecerei o modo como Dilan me encarou, com admiração e desejo. Estava acostumado a receber olhares femininos de cobiça ou medo, mas, a menina debruçada na cerca, bagunçou algo em meu sistema que hipnotizou-me e quando ela me enfrentou para poupar a vida do cavalo eu soube que a partir daquele momento, nunca mais me afastaria dela.

Jamais imaginei porém, que seria justo ela entre milhares de pessoas, a filha do meu inimigo. Essa revelação me encheu de raiva desproporcional.
Tinha tudo planejado, eu iria procurar a garota, ansiava por vê-la novamente, sentir seu perfume, o calor que emanava de seu corpo, queria receber seu olhar fulminante e talvez até provar daqueles lábios. Iniciaria a conversa dizendo que respeitei seu pedido e não sacrifiquei o animal, então poderíamos andar a cavalo juntos.
Mas quando ela foi jogada aos meus pés como a filha do assassino de minha mãe, o mundo desmoronou. Transformei todo meu desejo em ódio e tracei novos planos para minha vingança tomando-a por esposa. Já que eu não podia tê-la, então ela não seria de mais ninguém.

                               ~~~

Lembrando nosso primeiro encontro, senti os olhos pesados de lágrimas.
As pálpebras de Dilan tremeram, em breve ela acordaria, então fui ao banheiro enxugar o rosto. No espelho, encarei-me com vergonha. Meu orgulho e senso de justiça abandonaram-me. Fiz tudo errado desde o início, mas sempre é tempo de mudar o fim. Tenho que liberar Dilan desse casamento, por um ponto final nessa dívida de sangue e restaurar a paz da minha casa. Todos ficarão felizes e agradecidos, menos eu.

De repente ouço um grito e parto para fora com o coração aos saltos imaginando mil perigos mas ela me acalma dizendo ter notado minha falta.
Isso faz minha determinação falhar... Sob a luz do sol, com os cabelos lindamente desgrenhados, Dilan é como uma sereia que me chama com seu canto. Minha vontade é voltar para aquela cama e não deixá-la sair do meu lado jamais, mas, seguindo a voz da razão, faço exatamente ao contrário.

Enquanto conduzo o carro, repito mentalmente as palavras que devo dizer a ela, sem titubear, sem nem sequer olhar em sua direção, pois se surgir em meu peito a menor fagulha de esperança, logo o incêndio irá me consumir e não serei capaz de manda-la embora.
Faço o que é preciso. Ela me olha sem entender. Suplico em pensamento que não aceite, que diga que não irá embora, muito menos me deixar, mas nenhuma palavra sai de seus lábios e sigo em frente, abandonando minha esposa junto com meu coração.

                              ~~~

Naquela noite, dirigi pelas ruas sem rumo certo durante horas. A mansão já não é uma opção pois ela não está lá me esperando.
Então, fui até o único lugar que sabia que a encontraria, a casa da sua família, meus inimigos. Logo que estacionei, notei um tumulto no portão, todos saíram para fora e para meu total pavor o irmão de Dilan a carregava desacordada nos braços até um carro que partiu em disparada. Sem perder tempo, segui o automóvel de perto, cruzando sinal vermelho e quase atropelando quem estivesse no caminho.
Paramos em frente ao hospital e fui barrado na entrada, somente era permitido um acompanhante por pessoa. Não me dando por vencido e tomado pela angustia, fui até o diretor que é um antigo amigo da família e exigi ver minha esposa.

Prontamente fui encaminhado à emergência onde ela estava em uma maca. Seu irmão havia ido ver a papelada e ficamos sozinhos.
A cena apertou ainda mais meu peito, seu rosto estava muito pálido, sem vida. Fui tomado pelo desespero e agarrei o braço da primeira enfermeira que passou, implorando pela vida de Dilan.
A mulher vendo meu sofrimento explicou que minha esposa havia desmaiado devido a grande stress e que já estava bem e medicada, porém necessitava repouso.
Imediatamente ordenei que a levassem para o melhor quarto, com toda a equipe médica e de enfermagem necessária e que nenhum gasto fosse poupado.

Quando Dilan já estava instalada seu irmão surgiu afoito e enrijeceu vendo-me segurando a mão dela.

- O que faz aqui? Afaste-se da minha irmã! Ela não irá voltar com você. Não permitirei.

- Não cabe a você permitir nada. Ela é minha esposa.

- Dilan me disse que estava livre. Ela ficou feliz por finalmente o casamento ter acabado... Então era mentira? Minha irmã deve ter fugido! Deve ser muito esperar bondade de um homem como você!

- Cale-se. Nossa vida não te importa. Quero saber o que houve na sua casa para fazê-la desmaiar.

- Isso não te diz respeito!

Voei no pescoço de Cevdet e o mantive preso contra a parede. Eu tinha que admitir, sua proteção a família era admirável, muitos homens tremiam ao ouvir meu nome mas ele não, sempre me encarou de frente, sem medo, disposto a me enfrentar para proteger Dilan.

- Prefiro morrer a deixar que leve minha irmã...

Mesmo tendo a garganta apertada, o homem conseguiu expressar sua raiva e me afrontar.

- Se alguém for dar a vida por ela serei eu. Dilan não precisa mais da sua proteção. Agora ela tem a mim.

Antes de qualquer outra atitude da nossa parte, somos interrompidos pela enfermeira que expulsa a nós dois do quarto alegando que a paciente precisava de repouso e tranquilidade a fim de se recuperar.
Passei a noite caminhando no corredor sob o olhar atento do meu cunhado. Quando o dia amanheceu, o pai de Dilan, o assassino apareceu.

Em tempo algum irei superar o ódio que sinto toda vez que o vejo. O simples fato dele estar vivo e com saúde é uma afronta a memória da minha mãe e a toda nossa família.
Olhar esse homem me dói profundamente... É voltar ao dia que mudou minha vida para sempre, onde deixei de ser um menino alegre com uma família perfeita para me transformar nesse homem que usa armadura de ferro para que nenhum dos seus precisem sofrer mais.
O velho me encara com espanto, ao lado do seu filho, formam um quadro que revolta meu estômago... Ambos tem o que foi roubado de mim e meu irmão. Daria tudo para ter meu pai sempre lado a lado... Ouvir seus conselhos, sua risada, ver ele e Cihan conversando...
Meu corpo treme de raiva, repulsa e adrenalina. Antes de explodir saio a passos largos de lá, preciso de ar, de espaço e principalmente deixar extravasar as lágrimas que segurei enquanto os encarava.

Já no carro, depois de me acalmar, ligo para minha secretária e ordeno que contrate a melhor enfermeira da cidade. Preciso de alguém vinte e quatro horas ao lado da minha esposa, não quero perder um minuto do que se passar com ela.
Aguardo até ver os dois homens saírem do hospital e volto para a porta do quarto. A enfermeira vem frequentemente me dar notícias, peço que ela faça perguntas a fim de descobrir o que houve e ela relata que minha esposa teve uma briga com a mãe, coisa que não entendo pois quem não ficaria feliz em ter a filha de novo em casa? Ainda mais alguém tão doce como ela, essa mulher deveria ter feito festa ao invés de discutir.

Para minha frustração, peço que a enfermeira pergunte à ela sobre o marido, já que ainda está usando a aliança, ao que minha esposa responde somente: "ele é um homem complicado".
Complicado? O que isso significa? De modo algum sou complicado!
Com o ouvido colado à porta, escuto as duas conversando. A voz de Dilan ainda é fraca, não consigo distinguir as palavras,mas seu tom meigo faz meu coração acalmar um pouco.
O celular toca, infelizmente minha presença na empresa é necessária, e chegando lá aproveito para mandar buscar uma roupa na mansão, pois meu estado é deplorável.

Mais tarde, sou informado que Dilan terá alta, mas que não pretende voltar para a casa da família, e que irá pedir abrigo com alguma amiga até conseguir alugar algo seu, o que me intriga e assusta, pois não permitirei que ela more em qualquer lugar, muito menos com estranhos.
Dou início então a um plano que faz meus funcionários correrem contra o tempo para encontrar uma casa segura, bonita, simples mas confortável, que seja parecida com algo que minha esposa escolheria para morar. Além disso, exijo móveis, utensílios e todo necessário para o conforto dela, também abasteço a dispensa e armários pois Dilan gosta de cozinhar e precisa alimentar- se bem.

Foi um dia tenso e corrido mas finalmente a casa estava pronta. Caminhando por ela para dar uma última conferida em tudo, sou tomado pela tristeza de não estar lá para dividi-la com minha esposa.
A parte fácil foi fazê-la aceitar as chaves, e então, pude ficar admirando ao longe, de dentro do carro enquanto a mulher que amo instalava-se na residencia.

Flores de Sangue e Amor Onde histórias criam vida. Descubra agora