a mulher do escritorio

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Eu nunca foi de meu feitio de acreditar em histórias de fantasmas. Para mim, são irreais e previsíveis: uma pessoa presa em algum lugar abandonado ou um ritual que dá errado. Depois de tantos anos, essas histórias já ficaram batidas. No entanto, me lembro bem de um acontecimento que marcou minha vida e mudou tal pensamento.


Era por volta das 8 horas e eu estava sozinho na empresa onde trabalhava. Frequentemente fazia hora extra para terminar trabalhos atrasados, então já estava acostumado com isso. Eu trabalhava no oitavo andar e estava completamente sozinho; a única outra pessoa no prédio era o vigia no térreo. Os corredores com mesas e computadores eram assustadores pelo vazio e pela baixa luz da tela do meu monitor.


Estava anotando diversos nomes e números quando tive a impressão de ver uma sombra atrás de mim, semelhante a uma mulher. Tive um sobressalto, pois não deveria haver ninguém ali além de mim, e eu não tinha ouvido nenhum som, nem mesmo o do elevador. Virei-me para ver quem poderia ser, mas não vi ninguém. Aquilo não fazia sentido, eu tinha certeza de que vi alguém ali. Ignorei, achando que era uma ilusão causada pelo cansaço e pelas horas na frente da tela. Porém, logo ouvi um barulho vindo do fundo do escritório, como se algo tivesse caído. Tentei não me importar e culpei o cansaço, pensando que algum colega tinha deixado algo na beirada de algum lugar. Continuei o que estava fazendo.


O tempo passou e finalmente terminei minhas tarefas. Quando me preparava para sair, ouvi novamente um barulho atrás de mim, desta vez mais perto. Era um som de ossos quebrando, acompanhado de uma respiração pesada e um grunhido. Senti minha espinha gelar de medo, mas minha curiosidade foi maior e me virei.


O que vi me aterrorizou: uma criatura não muito alta, de pele pálida e rosto arroxeado, como se o sangue estivesse preso ali. Ela não tinha a parte de baixo do maxilar, deixando a língua pendurada, pingando sangue escuro. Seus olhos eram desprovidos de qualquer emoção ou vida, mas tinha certeza de que me encaravam enquanto ela se aproximava. Seu corpo magro e pernas finas estalavam a cada passo.


Minhas pernas cederam e caí para trás enquanto observava aquela criatura se aproximar, exalando um cheiro pútrido. Quando estava a um metro de mim, juntei forças para me levantar e correr. Não me lembro de ter corrido tão rápido. A criatura emitiu um grunhido agonizante antes de correr atrás de mim. Corri até as escadas, saltando de um degrau para outro. Em um dos saltos, meu pé escorregou, e acabei tropeçando e rolando escada abaixo, batendo a cabeça em alguns degraus.


Tentando recobrar os sentidos, vi a criatura na minha frente. Arrastei-me até a parede, mas estava encurralado e com o tornozelo doendo. Aquela coisa se aproximava mais e mais até se abaixar, ficando frente a frente comigo. Meu corpo paralisou de medo. Sua pele parecia parcialmente decomposta, com pedaços caindo e músculos à mostra. Ela se inclinou em direção ao meu rosto e passou a língua da base da minha mandíbula até a sobrancelha, exalando um odor que quase me fez vomitar. Ela se afastou e emitiu um grito que me fez erguer as mãos aos ouvidos, esperando minha morte.Um som agudo ressoava em meus ouvidos quando percebi que nada havia acontecido. Relutante, abri os olhos e me deparei com o vazio das escadas; a criatura não estava mais ali. Virei para o lado e vomitei tudo o que havia comido durante o dia. Fiquei ali por um tempo, chorando como uma criança, até conseguir me levantar e sair dali. No dia seguinte, verifiquei as câmeras, mas por algum motivo, elas não estavam funcionando. Desde aquele dia, só saio do escritório acompanhado de alguém. Nunca comentei sobre o ocorrido, pois achariam que estou louco. E quer saber? Até eu me acho louco.

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