noite no bar

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Era uma noite quente de verão quando eu e meu amigo Marcos decidimos ir ao bar local para relaxar. Era sexta-feira, e nós dois merecíamos uma pausa. Depois de várias rodadas de cerveja e conversas fiadas, percebi que Marcos estava completamente bêbado. Como bons amigos, sempre cuidamos um do outro, então decidi chamar um táxi para ele. Peguei o telefone e liguei para um conhecido nosso que trabalhava como taxista.
— Vamos lá, Marcos, vou te colocar no táxi. Eu moro aqui perto, vou andando. — Eu disse, enquanto ajudava ele a entrar no carro.
— Valeu, cara. Olha aqui, eu te amo, cara. — Ele murmurou, com um sorriso torto no rosto.
Depois de ver o táxi partir, comecei minha caminhada de volta para casa. Eram apenas algumas quadras, e o ar fresco da noite parecia revigorante depois da atmosfera abafada e barulhenta do bar. O caminho estava quieto, as ruas desertas, iluminadas apenas pelos poucos postes de luz espalhados.
Andava tranquilamente, perdido em meus pensamentos, quando algo estranho aconteceu. De repente, senti um calafrio correr pela minha espinha. Olhei ao redor, mas não vi nada fora do comum. Continuei andando, tentando ignorar a sensação inquietante de estar sendo seguido.
Foi quando ouvi um som. Um farfalhar suave, como se alguém estivesse arrastando algo pelo chão. Olhei para trás, mas novamente, não vi nada. Acelerei o passo, meu coração batendo mais rápido.
Logo, percebi uma figura se movendo nas sombras. Era magra, quase esquelética, com pele ressecada que parecia se esticar sobre os ossos. Seus olhos brilhavam com um malicioso brilho amarelado desprovido de humanidade. Meu avô costumava me contar histórias sobre o Corpo Seco, um espírito maligno que perseguia os vivos para roubar suas energias. Naquele momento, todas aquelas histórias de infância voltaram à minha mente com uma clareza assustadora.
A criatura começou a se mover em minha direção, lenta mas decididamente. Cada passo dela parecia um arrastar macabro, como se tivesse dificuldade para se mover. Eu estava paralisado de medo por um instante, mas quando a realidade da situação me atingiu, comecei a correr.
Corri mais rápido do que jamais havia corrido antes, minhas pernas quase falhando debaixo de mim. Podia ouvir o Corpo Seco se aproximando, seus passos arrastados cada vez mais próximos. Meu apartamento estava a apenas alguns quarteirões de distância, mas parecia uma eternidade até chegar lá.
Virei a esquina e vi meu prédio ao longe. A esperança me deu um impulso extra, e corri com todas as minhas forças. Consegui chegar à porta do meu prédio, minhas mãos tremendo enquanto lutava para encontrar a chave no bolso. Finalmente, a encontrei, destrancando a porta e me jogando para dentro, fechando-a rapidamente atrás de mim.
Podia ouvir os passos do Corpo Seco do lado de fora, arranhando a porta. Tranquei todas as fechaduras e corri para meu apartamento no segundo andar, fechando a porta com um estrondo. Liguei todas as luzes, tentando me convencer de que estava seguro.
Aproximei-me da janela com cautela e espreitei por entre as cortinas. Lá estava ele, parado na calçada, olhando fixamente para meu prédio. Seus olhos amarelados brilhavam na escuridão, e podia jurar que ele sorriu, um sorriso macabro que me fez estremecer. Fiquei ali, observando-o até que finalmente se afastou, desaparecendo nas sombras da noite.
Aquela noite, não consegui dormir. Cada pequeno ruído fazia meu coração disparar, temendo que o Corpo Seco tivesse voltado para terminar o que havia começado. Desde então, nunca mais voltei a caminhar sozinho à noite, e as histórias de meu avô sobre o Corpo Seco nunca mais me pareceram meros contos de terror. As lembranças daquela noite permanecem comigo, como um aviso constante do que espreita nas sombras.

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