antiguidades pt.2

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Já estava a 1 meses, estava com a constante sensação de ser observado, sentindo um arrepio na nuca como se a qualquer momento algo fosse me cortar novamente, a conta de luz com certeza virá mais cara próximo mês. sensações tão constantes que chegavam a me causar febre.

Não tenho sossego no trabalho com constantes objetos caindo ou mudando de lugar, os clientes que tínhamos parecem ter sumido deixando-me sozinho naquele lugar. Parecia que todos os objetos com olhos me olhavam julgando cada movimento que fazia. Às vezes parecia que tinha alguém atrás de mim, esperando a hora certa de me atacar. Ou talvez eu esteja delirando ao som do relógio que o tique taque pareciam trovões em meio a um labirinto de prateleiras.

Estava deitado em minha cama ouvindo o irritante som do despertador, apertei para que parasse enquanto levantava para ir ao banheiro.

Olhei para o espelho me deparando com uma figura digna de pena, alucinando com brinquedos, que palhaçada. Fui até o box para tomar meu banho. Enquanto lavava o cabelo senti uma ardência nos olhos causada pelo shampoo, enfiei a cabeça embaixo da água para tirá-lo.

Comecei a sentir uma sensação estranha, mas familiar. Um arrepio na espinha, uma sensação de que algo estava me cercando algo muito maior que eu me observando atrás de mim, sentia minha garganta ser apertada enquanto meus olhos ardiam enquanto os lavava o mais rápido possível para abri-los.

Os abri, e não havia nada

Terminei o banho com o coração acelerado e falta de ar que seguiu até o trabalho.

Lá estava a mesma coisa de sempre, mas que antes eram um amontoado de prateleiras com artefatos antigos e bem cuidados, alguns remendados e outros não, pequenos objetos contando história, mas agora para mim pareciam um labirinto. Assim que cheguei minha gerente me recepcionou alegremente como sempre dizendo que precisava sair para resolver algo pessoal, sinceramente ela já estava me tirando do sério com essa desculpa esfarrapada.

Fiquei ali então. O tempo passou semelhante aos outros dois dias, mas foi pior. estava sentado esperando a chegada de algum cliente quando ouvir o som de algo cair aos fundos da loja

Não me apressei para ir até lá pois imaginei ser algo causado pela minha imaginação, fui até lá e me deparei com um vaso quebrado. Enquanto limpava senti novamente a sensação de algo estar me observando, algo queimando minha nuca me vi paralisado mesmo com a sensação daquilo estar se repetindo.

Era uma sensação crescente, aquilo se aproximava de mim pelas costas e eu seguia limpando até que vi uma caixa de música ser arremessada para onde eu estava então a peguei, ela era dourada com algumas joias vermelhas com um espelho dentro de si que pelo impacto tinha se quebrado. Fiquei observando-a até que me deparei com uma figura atrás de mim. Virei imediatamente.

me virei e me deparei com o vazio, apenas enormes prateleiras que iam até o teto em um local tão apertado que senti como se tivesse um rinoceronte em meu peito com uma penumbra leve. O espaço ao meu redor havia mudado ficado mais sufocante

Andando por aquele lugar que antes parecia um labirinto mental parecia ter se transformado em um real, que enquanto andava parecia mudar conforme me aventurava por lá. prateleiras enormes repletas de antiguidades milimetricamente posicionadas, diferente das amontoadas mas igualmente sufocantes prateleiras da loja. com uma melodia melancólica ao fundo.

segui a melodia até chegar em um local que parecia ser o centro do labirinto, no chão se tinha uma pequena caixa de música a mesma que eu tinha encontrado a minutos atrás. Fiquei admirando a pequena caixa e tentando pensar em um motivo para aquilo estar acontecendo, estou dormindo pouco e tendo pesadelos vai ver que apenas peguei no sono no balcão sem me dar conta e estou sonhando agora.

Assim que a música parou comecei a ouvir um som de guizos em minhas costas seguido por um aperto indescritivelmente forte no braço que me lançou para uma das estantes, causando dor na lateral esquerda do corpo, olhei para meu braço e vi uma mão com luva que soltou e voltou para onde estava como se fosse uma fita métrica voltando para o lugar.

De lá saiu uma versão maior e mais surrada do pequeno palhaço que tinha consertado a um mês atrás, suas luvas estavam rasgadas nas portas dos dedos aonde davam a lugar pra unhas pontudas, sua roupa mais suja e rasgada.

Foi então que uma voz agonizante tomou o local

-amigo…

Seria de mim que ele estaria falando?

-AMIGO!

seu braço se esticou vindo até mim que mal tive tempo de reação sendo agarrado sendo agarrado pela barriga de jogado para uma estante batendo em meu rosto me fazendo sentir um gosto amargo na boca. Ele me soltou novamente e se aproximava lentamente, parecia que sabia que não precisava ter pressa.

Me levantei cambaleando zonzo pela pancada e corri o mais rápido que podia, corri até um corredor mais estreito, olhei para trás e vi que preparava seu braço para me pegar, corri o mais rápido que pude e me arremessei para o lado na diagonal me fazendo cair do chão fazendo com que ele não me pegasse. Me rastejei até e voltei a correr enquanto sua mão mão averiguava se eu estava do outro lado. Corri novamente o mais rápido que podia dentro daquele labirinto me sentindo um rato correndo de um gato.

Corri por não sei quanto tempo vendo ele quase me pegar diversas vezes já estava cansado até que o vi novamente soltando um grito que parecia felicidade ao me ver, corri para o outro lado me deparando com oque parecia uma porta ao fim do corredor, não pensei duas vezes em sobre me atirar naquele lugar e pulei lá dentro percebendo que era uma escada cai pelos degraus batendo minha cabeça logo de primeira sentindo meu queixo bater no peito logo seguida por uma dor aguda no pescoço. Caído no chão vi ele se abaixar para passar calmamente pela porta.

Quando acordei me deparei com um quarto de hospital com o pescoço imobilizado, vi 3 figuras distorcidas juntamente a vozes que não compreendia oque se falava até que uma das figuras se virou pra mim agarrando meus ombros e chacoalhando enquanto as outras duas a seguravam.

Meus olhos se acostumaram me fazendo ver minha chefa, um medico e um policial.

-QUE MERDA VOCÊ TEM NA CABEÇA?!

-Senhora preciso que se acalme ele ainda não está bem

Assim que ela se acalmou me mostrou uma filmagem minha encontrando a caixa e olhando em volta enquanto andava pela loja, me mostrava correndo e me jogando em prateleiras onde por fim ela chegava e corria dela me jogando pela porta do porão, o policial me perguntava se tinha usado alguma droga oque respondi que não enquanto o medico analisava meus exames e confirmava que nada tinha sido encontrado em meu sangue.

Obviamente fui demitido mas foi encontrado um mofo no porão portanto possivelmente a fonte de minha alucinações naquele dia, como eu era a única pessoa que ficava mais tempo na loja minha gerente não tinha sido afetada.

Os dias se passaram mas a sensação não tinha passado, frequentei um psicólogo e um psiquiatra que me receitou remédios. Mas ambos não puderam me ajudar. Hoje me encontro sentado no canto do quarto enquanto um pequeno palhaço com rosto de porcelana e roupas preta e vermelho me observa.

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