intruso

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A mensagem no telefone pisca: "Vou me atrasar, perdi o ônibus. Relaxa que tenho minha chave." Meus olhos ardem com a claridade do dia. Fecho o telefone com um bocejo enorme, esticando-me na cama como uma estrela-do-mar, sem vontade de levantar. Depois de meia hora enrolando, finalmente me ergo, movido apenas pela necessidade de ir ao banheiro.

O quarto é um caos, roupas espalhadas pelo chão, pacotes de miojo e garrafas pela mesa e cama. Lavo meu rosto, encarando a figura pálida e cansada no espelho.

A paranoia tomou conta de mim. Há um mês, sinto que estou sendo observado. Às vezes, avisto uma figura distorcida, que se assemelha a mim, olhando-me das janelas ou até mesmo de dentro de casa.

Ninguém acredita em mim, exceto um amigo próximo que se ofereceu para vir investigar essa figura estranha que me atormenta.

A campainha toca às seis da tarde. Ao abrir a porta, deparo-me com um ser de olhos escuros e profundas olheiras – eu mesmo. Fecho a porta com força, lutando contra aquela criatura que parece quase tão forte quanto eu. Tranco todas as portas e janelas, lembro-me da porta dos fundos e corro para fechá-la. Tropeço e bato minha barriga na quina da mesa.

Enquanto tranco a porta dos fundos, ouço um baque contra a porta principal. Corro para pegar minha arma enquanto ligo para a polícia. Um clique vem da porta. Aproximando-me cautelosamente, disparo contra a sombra que vejo do outro lado.

Fico atordoado, vendo a figura caída no chão – cabelos lisos como folhas de outono, alto com pequenas pintas no rosto e um grande ferimento vermelho no peito. Me aproximo e vejo que é meu amigo, caído e sem vida, suas coisas espalhadas ao lado dele.

Enquanto ouço a sirene se aproximando, vislumbro uma figura alta e magra, sorridente, além da janela.

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