casa do lago

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O dia já amanhecia com um ar gélido enquanto eu arrumava minha mala para ir para uma casa de campo que havia alugado na beirada de um lago para o fim de semana. Iria com duas amigas: Bárbara e Anne. Bárbara é aquela amiga que está sempre ao meu lado, tanto nas horas boas quanto nas ruins. Curiosamente, nunca temos fotos juntas, mesmo com toda a nossa convivência. Anne, por outro lado, é como uma psicóloga, sempre me aconselhando sobre como tomar decisões sem arrependimentos. Ambas são amigas desde a época do colégio; hoje, Anne é dentista e Bárbara, professora. Estávamos todas exaustas do trabalho e resolvemos aproveitar um fim de semana juntas. Bárbara e eu iríamos primeiro, e Anne se juntaria a nós mais tarde.


Adoro acampar e, especialmente, fazer canoagem. Se eu fosse filha de um deus, certamente seria de Poseidon. Sempre que posso, pego meu carro com uma trouxa de roupa e vou para uma praia ou piscina. A casa que alugamos fica a 158 km de casa, em uma região com poucas moradias. A mais próxima está a duas horas de carro. Já estava pronta para sair quando meu telefone tocou. Era Bárbara.


— Oi, Barb, já tá pronta para sair? Já já tô passando na sua casa.


— Oi, amiga. Isso vai te decepcionar um pouco... acho que não vou mais para a viagem — a voz dela estava pesada e distante. A pausa que deu foi para vomitar. — Mas, olha, se eu melhorar, vou com a Anne, ok?


— Ah! Ok, não tem problema. Mas, o que você tem?


— Acho que comi algo estragado.


— Poxa, toma alguma coisa. Mas, se precisar, a gente remarca.


— NÃO! Você estava animada a semana inteira para esse fim de semana. Vai agora às 8h, e a Anne vai às 12h. Eu vou com ela se melhorar, ok?


— Ok. Vou desligar para deixar você... sabe.


— É, eu sei. Até mais tarde.


Encerrei minhas tarefas e coloquei minhas bagagens na mala do carro: uma mala de mão, uma mochila mediana e uma pequena bolsa com itens de emergência. As primeiras duas horas de viagem foram tranquilas dentro da cidade. Às 10h46, parei para abastecer e me alimentar em uma loja de conveniência. Pedi um sanduíche de carne com fritas e um refrigerante quando ouvi algo que chamou minha atenção.


— Você sabe se acharam o garoto? — perguntou um senhor alto com bigode a outro, baixo e gordinho, de chapéu.


— Não, não sei — respondeu o outro, referindo-se a um garoto que havia desaparecido há um ano em um lago nas proximidades.


Meu lanche foi entregue, e saí dali sem mais informações sobre o garoto. Voltei à viagem. Saindo da cidade, vi que poucos carros seguiam pelo caminho que eu estava. Pequenas lojas de beira de estrada vendiam frutas, pimentas caseiras com mel e, às vezes, camarões. Era um caminho através de uma mata fechada e úmida. Ouvi o som de água, indicando um rio ou nascente nas proximidades. Distrai-me vendo aves nas copas das árvores acima de mim, quase batendo em algo escuro, do tamanho de uma criança de 10 anos, que atravessava a pista. Virei rapidamente o volante para a direita, fazendo o carro derrapar quase para fora da estrada. Quando olhei novamente, não havia nada na pista, apenas as marcas dos pneus. Já estava dirigindo há muito tempo, e meu cérebro provavelmente criou essa ilusão devido ao cansaço. Voltei ao caminho.Contei duas ou três casas simples de campo até chegar finalmente à minha. Era uma casa de madeira, com um ar rústico e uma pequena varanda com uma cadeira de balanço para duas pessoas. Ao entrar, deparei-me com uma sala à esquerda e uma pequena cozinha à direita, além de um corredor escuro com quatro portas. Explorei a casa, descobrindo que três dos cômodos eram quartos e um era banheiro. Mesmo fechada, a casa tinha um ambiente frio e nada aconchegante. Havia seis janelas: uma na sala, uma na cozinha, uma em cada quarto e uma pequena no banheiro, mas ainda assim, parecia um ambiente escuro. Enquanto andava pela casa, encontrei um alçapão no teto. Puxei a cordinha, e uma escada enferrujada desceu, revelando um sótão com um forte cheiro de mofo. Fechei a portinhola, vendo apenas uma pequena cabeceira lá dentro. A casa era antiga, mas funcional. Fiz uma limpeza geral, pois estava sem uso há muito tempo.

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