Capítulo II

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" O dia logo se despede, outro dia logo surge. "

. . .

– Henry acorda, já é a hora de ir! – Soou uma voz feminina, com tom de urgência.

A sua visão ainda estava em preto.

– Henry? – A voz ficou mais próxima, um tanto preocupada.

Ainda estava em preto

– Papai! – Exclamou outra voz.

No mesmo instante, Henry saltou na cama, a respiração ofegante e o coração batia igual à de um tambor.

– Elizabeth. – Repreendeu a mulher, contendo risos. – Quer matar o seu pai do coração?

A mente de Henry estava tentando processar o que estava acontecendo. Viu uma menina em cima do seu cobertor, olhando para ele e sorrindo cheio de energia.

– Elizabeth? – Perguntou Henry, ainda confuso.

A menina franziu a testa e olhou para a mulher que estava ao seu lado.

– Mamãe, é normal a pessoa não lembrar de nada depois de ter um ataque cardíaco?

A mulher riu.

– Para o seu pai é. – Brincou a mãe – O café da manhã está pronto, se levante logo senão vai esfriar. – A mulher saiu do quarto.

Depois de ela ter sumido na porta, Harry esfregou os olhos e observou ao seu ao redor. " Tô em casa, no meu quarto," pensou Henry " e... " Henry olhou para baixo, viu a menina ainda olhando para ele, com a cara curiosa.

Henry levou a sua mão até o rosto de Elizabeth e acariciou.

– Essa é a minha Beth. – O rosto de Beth se iluminou de alegria e abraçou o seu pai.

– O coração de papai voltou ao normal! – Disse Beth, contente.

De fato, o coração de Henry voltou ao normal, e a culpa, o medo e a raiva foram dissipados. Henry agora sentia alívio e o amor reconfortante de sua filha.

Henry olhou por cima do ombro de Beth e viu o relógio na parede, "tô atrasado."

– Beth, enquanto eu me preparo para ir ao trabalho, telefona para o seu avô que eu vou chegar atrasado.

– Tá! – Antes de Beth sair do quarto, Henry lhe deu um beijo na testa.

Henry respirou fundo e se levantou da cama. " Mais um dia, " suspirou Henry, " o mesmo dia..."

. . .

Descendo a escada abaixo, o olfato de Henry foi privilegiado por um aroma agradável vindo da cozinha, fazendo o estômago sentir mais vazio ainda. 

Ao ter descido da escada, Henry avistou pilhas de relatórios espalhados no sofá, na mesinha tinha uma pastilha com algumas folhas estranhas dentro, acompanhado com uma caneca de café no lado que Henry havia bebido na noite anterior.

– Droga. -- Murmurou Henry. 

Quando chegou na cozinha, a mesa já estava servida. Henry abriu um sorriso bobo para a esposa.

– Panquecas? – Disse ansioso.

Ela foi até a mesa e recolheu os pratos que já haviam sido usados. 

– Sim, o seu predileto. – Respondeu sorrindo de volta para Henry. -- Hoje vai ser um dia e tanto pra você, então é bom começar o dia bem, certo?

– Claro. – Concordou.

Henry sentou na cadeira e se serviu dando a primeira garfada na panqueca.

Enquanto comia, as cenas do pesadelo que teve aparecia na sua cabeça e começou a lhe incomodar. Certamente não foi a primeira vez que teve esse tipo de pesadelo, mas essa foi insano. 

Henry fechou os olhos e tentou conter os pensamentos sobre o pesadelo para não inundar de sentimentos.

– Não entendo. – Henry pensou em voz alta sem querer, ficou até surpreso.

– O que não entende? -- Perguntou a esposa, compreensiva enquanto lavava a louça.

– Eu não entendo... -- Henry procurava as palavras. -- Como você consegue deixar essas panquecas tão maravilhosas!

Ela riu.

– Receita especial da família. -- Falou de tom de agradecida.

Após Henry ter terminado a refeição, lembrou de Elizabeth. Olhou ao redor, nenhum sinal dela.

– Amor, cadê Beth? – Perguntou Henry. 

A pergunta acabou saindo com anseio.

– Na garagem. – Respondeu voltando à mesa e recolheu o prato que Henry se serviu. – Pedi para ela esperar lá.

Henry sentiu aliviado. Se levantando da cadeira, checou o relógio no pulso e viu a hora, "6:54 AM ".

– A escola de Beth vai começar daqui a pouco, não é? Quer que eu o deixe?

A mulher ficou em silêncio, lavando o prato. Henry sem entender aproximou para mais perto dela.

– Margaret? – Tocou no seu ombro.

Margaret enxaguou os pratos e foi até a prateleira e os guardou. Henry ficou aguardando a resposta.

Depois de ter guardado, Margaret se virou para Henry. O seu olhar estava apreensivo. Ela sorriu de jeito triste.

– Henry, eu sei que esse dia trás  más lembranças para nós. – Disse firme. – Mas o passado é igual a um relógio quebrado, um ponteiro fica parado enquanto o outro ponteiro segue em frente dando voltas em cima do parado.

Henry ficou calado, não tinha nada a argumentar, e mesmo se tivesse seria uma perda de tempo.

– Eu ainda estou consertando esse relógio. – Disse Henry, também firme. – Só preciso encontrar a última peça que está faltando.

Margaret sorriu, dessa vez era de orgulho. Andou até Henry e o abraçou.

– Eu posso te ajudar a encontrar essa última peça, se você...

- Aceito. - Henry a interrompeu. - Preciso.

Margaret sentiu ele apertando o abraço e o seu corpo ficando trêmulo.

Ela retribuiu o seu conforto. Em seguida, ela aproximou a sua boca no ouvido dele e sussurrou algo, fazendo ele sorrir.

Henry a beijou e se despediu.

. . .

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