" Às vezes, a luz acaba escapado de suas mãos, mesmo já estando em uma "Os seus olhos prateados miravam na estrada enquanto as suas mãos firmes trabalhavam no volante e os seus ouvidos atentos deixavam o silêncio percorrer em seu interior.
Para ele, o dia estava se repetindo novamente, a única diferença era que o ar estava diferente hoje, sentia uma leve confusão e conflito, não estava sentindo nada pesado como sempre sentirá. Há algo de errado comigo hoje, pensou ao ter um lampejo de medo, ou talvez seja a cidade que está...
Chegando ao limite da estrada, Karl virou o volante, fazendo o carro seguir outra esquina.
A movimentação da pequena cidade era sempre calma, exceto até o dia em que ela chegou a ir à falência, nessas horas a pista estaria repleta de automóveis preenchendo o caminho, mas sem problemas de trânsito, tudo com em uma ordem certa e organizada, ou quase...
Instantes depois, construções de novos edifícios e reformas começaram a surgir. Essa cidade já está em seu ápice, refletiu Karl ao sentir um leve delírio de solidão ao ver as velhas construções.
O motor do velho automóvel se acalmou quando Karl avistou o sinal vermelho, soltou um suspiro e ficou tamborilando o volante impacientemente, e em seguida, apoiou a sua testa.
Odeio esse semáforo. O semáforo quase nunca foi mais útil, pois a movimentação não é mais a mesmo. Então, sempre quando Karl é parado pelo por ele, quase sempre é de maneira desnecessária esperando por alguém passar, mas quase nunca passa, fazendo com isso perder mais o seu tempo.
1... 2... 3...
Ergueu a cabeça e viu o sinal verde surgir. O motor do carro se reanimou quando Karl pisou no acelerador e continuou o seu rumo.
- Pai... - Surgiu uma voz, delicada e tímida.
Karl sentiu a tensão do clima se dissipar no mesmo instante ao ouvir a voz da sua pequena, que lá estava ela puxando a manga do seu terno, na tentativa de chamar a sua atenção.
Sentiu uma leve compaixão com ela e a olhou compreensivamente. Os seus olhos prateados sempre pareciam menos ameaçadores quando via a sua filha ou alguém que poderia amar como também o amá-lo.
- Algum problema, Sophie? - Quis saber o pai, um tanto atencioso.
- Sim - Disse direta, soando um pouco até surpresa por ter respondido quase instantâneamente.
Por pouco tempo a expressão de Karl oscilou, quase imperceptivelmente. No entanto, logo se recompôs.
- Aconteceu algo? - Quis saber, com o tom quase sério demais sem querer.
Sophie se encostou mais perto da janela, apoiando o seu rosto na sua mão e deixando a sua atenção com o pai se perder com a visão da cidade solitária por um tempo.
Houve um pequeno silêncio, fazendo o clima ficar sutilmente denso. Enfim, Sophie retomou:
- Estou com medo. - Disse, sem deixar soar nenhuma hesitação em sua voz.
Isso fez com que o clima ficasse ainda mais pesado.
Karl suspirou, mas foi um suspiro compreensivo. Ele sabia muito bem porque a filha estava sentindo medo.
Antes, a sua filha, ele e a sua esposa viviam em uma cidade bem menos precária. A segurança era agradável se fosse para comparar com a cidade que agora estava.
Entretanto, ele veio para Small Town justamente por isso. Small Town está vivendo com a segurança bastante degradante agora. Então, aproveitou a oportunidade de emprego na mesma hora que soube que a cidade estava necessitando de investigadores.
Claro, sabia desde do início que a mudança seria difícil para esposa e, principalmente para a filha, que precisaria de deixar as suas melhores amigas. Já a esposa precisou também deixar algumas pessoas, por exemplo, os seus pais.
Karl não sofreu nada, não havia nada de importante para ele lá.
As únicas coisas importantes que lhe restará agora foram a sua mulher e a sua querida filha, e claro, ele não irá deixar que nada as machuque, mesmo que precise arriscar a sua própria vida.
Só tenho elas... Refletiu Karl.
Seguiu a estrada, ignorando o que a filha havia dito. Não adiantava, já tentou convencê-la várias vezes que conseguiria se dar bem na cidade depois de um tempo.
Quem eu quero enganar?
Pois é, até mesmo Karl sabia que não teria como realmente se dar bem na cidade, não nessa. Só um milagre agora para iluminar Small Town.
O motor do carro finalmente parou quando desligou a ignição, parando de frente a escola. Karl soltou o ar como se estivesse se segurando a muito tempo,olhou para baixo, e enfim, para a sua filha, que já estava olhando para ele, fazendo Karl hesitar um pouco.
- Eu sei. - Começou ele, firme. - Que não foi certo fazer isso com você e a sua mãe, vim para essa cidade sem mais e sem menos. - Disse, deixando escapar arrependimento em sua voz fria. - Mas o nosso dinh...
- Eu sei. - O interrompeu, com a voz arrastada por conta do desânimo. - Mas poderia ter falado como nós primeiro.
Karl ficou calado, deixando o silêncio definitivamente selado no lugar. Sem aviso, Sophie abriu a porta do carro e fechou logo em seguida. E por fim, Karl viu ela indo em direção ao colégio, sem ter se despedido dele.
Quando voltou a ver o volante, se deu conta que os seus dedos estavam esbranquiçados, segurando com muita firmeza, como se estivesse enforcando algo.
Ligou a ignição e começou a colocar o seu pé sob o acelerador, até que acabou ouvindo uma voz familiar no lado de fora.
" Aí vou ter mais tempo de folga para ver minha linda rosa " Disse uma voz de um homem, bem animada, deixando Karl se sentir desconfortável.
Olhou em direção para onde estava vindo a tal voz e viu, Henry levantando uma garotinha para si, e a abraçou em cima de risos vindo dela.
Karl imediatamente pisou fundo no acelerador e foi embora, levando uma sensação com ele que há muito tempo não havia mais sentido: Inveja
. . .
VOCÊ ESTÁ LENDO
Mistérios Às Cegas
Mystery / ThrillerMuitos casos para uma única e pequena cidade, então porque não investigar todos eles? É isso que o povo deseja mas há pouca polícia na cidade, ocupadas resolvendo outros crimes. Henry viu isso, e teve uma grande ideia: '' E si eu investigar? '' Hen...