Capítulo 1

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Kim Seokjin

Acordar em um sábado de manhã derretendo de calor, depois de ter sonhado pela milésima vez com a pessoa que mais quero esquecer no mundo, é péssimo. A casa estava em completo silêncio, o que já era de se esperar de quem morava sozinho em um apartamento gigantesco.

Bufei me sentando no sofá e sentindo minhas costas queimarem de dor por mais uma noite dormindo mal. Encaro a cidade pela janela panorâmica que cobre toda a sala, foi um pedido da maldita, mas confesso que depois que me mudei comecei a gostar.

Zero privacidade, mas uma vista de Seoul de tirar o fôlego.

Mesmo com dor e suado, sinto uma paz logo que acordo, graças a essa vista. Brinco com os dedos do pé por dentro da meia que não tirei ontem a noite quando cheguei em casa. Pra falar a verdade, ainda estou com a roupa do trabalho, só o blazer que me lembro de ter jogado em algum lugar antes de cair no sofá. Ainda zonzo o procuro pela sala, mas foi em vão. Respiro fundo e penso que é hora de levantar, olho no relógio e já passa das dez da manhã e minha mãe é capaz de me matar se não chegar em sua casa a tempo de ajuda-la com as compras da feira.

Quero sair?

Não.

Vou sair?

Sim, porque sou um bom filho.

Reviro os olhos com meu próprio pensamento.

O que é que estou fazendo com a minha vida?

Ontem trabalhei até os olhos fecharem em algo que nem sei dizer o que era, só entrei na sala do meu pai e comecei a catar trabalhos para fazer. Afinal, em alguns dias aquela seria a minha sala e os problemas dentro dela também.

Esfreguei as têmporas desanimado e me pus de pé para acabar logo com mais um dia. Depois de arrastar meus pés até o banheiro do quarto perfeito, penso que nada na minha vida está perfeito, só essa casa.

Um lugar bonito, tinha que confessar, mas que por dentro no silêncio da noite, dia ou tarde, é vazio. Sem vida. Como eu nesse momento, um ser humano que vaga esperando que alguma coisa, que não sei o que é, aconteça. Não vou dizer que odeio a minha casa por ter diversos detalhes que me lembram a maldita. E todos os nossos planos, que ela jogou fora quando decidiu sair correndo do altar para entrar no carro do amante.

Acho que odeio, na verdade, a forma em como a solidão está me consumindo, mas não consigo fazer nada a respeito. As pessoas estão se tornando cruéis, criando um novo mundo com valores invertidos.

Quando estou pronto, saio de casa batendo a porta em uma tentativa de descontar toda a minha frustração em alguma coisa. Desisti da academia, não estava funcionando. Na verdade só me irritava mais, porque sentia muito mais dor por malhar feito louco, querendo acompanhar o meu irmão e por dormir no sofá todas as noites.

Se Namjoon queria se tornar o próximo Hulk, não iria impedir, mas meu corpo não tinha interesse algum em mostrar os músculos que lutei para manter. Eu tinha que estar forçando a barriga para meus lindos gominhos aparecerem. Posso mantê-los em forma com uma boa alimentação e abdominais.

Vida perfeita, pena que era mentira.

Paro o carro em frente a casa dos meus pais e perco um certo tempo encarando a fachada. Grades baixas e pretas, dando uma visão boa da casa toda pintada de banco com um lindo jardim que minha mãe não se cansava de cuidar e exibir. Tinha tantas memórias maravilhosas ali. Não era a nossa casa desde a infância, nos mudamos para cá no meio da adolescência, quando papai assumiu o escritório do nosso avô no centro e mamãe passou a ficar integralmente com a gente. Cheguei a achar que iria odiar ter a grande e geniosa Kim Ji Yeon por perto, mas na verdade amei.

Deixado para trásOnde histórias criam vida. Descubra agora