Capítulo 10

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Kim Seokjin

Eu lembro da minha época de faculdade, como as coisas eram menos sérias na minha vida, ou pelo menos achava que eram. Tudo era novo, divertido e interessante. Não tinha um dia certo para irmos parar em um bar, só tinha que uma pessoa dar a ideia e pronto. Corta pra parte que ficávamos até sabe-se que horas na rua, depois de comermos horrores e, às vezes, bêbados. Gostava daquele hábito, acho que na verdade não era a juventude que deixava as coisas mais interessantes e sim os amigos, a distração de conhecer novas pessoas e lugares.

Perdi a conta de quantos dos meus alunos erraram uma pergunta tão simples sobre ética entre advogado e cliente. Era basicamente falar sobre ser educado quando mostrar as possibilidades e ou instruir a pessoa, sem imposições ou coisas do tipo. O que tinha nos papéis eram respostas absurdas. Bufei mais uma vez ao ver a última prova e perceber que as notas mais altas dessa avaliação, não passaram de 6,5. Tinha gente que achava que estava argumentando com um juiz só pode, que tinha que convencer a pessoa de que estava certo, manipulador sem noção.

- Seokjin... -a voz suave dela invade a sala me fazendo suspirar. Pelo menos hoje, devido ao frio, sua roupa não tinha decotes, mas era justa. Será que não vou ter mais um dia de paz?

- Sou todo ouvidos. -respondi ouvindo seus passos se aproximando da mesa, mas sem coragem de encará-la. Me fiz de idiota e segui concentrado na prova a minha frente.

- Pode entregar a sua mãe? -pede colocando uma caixa pequena em cima da minha mesa, dentro do meu campo de visão.- Só consegui comprar alguma coisa para ela hoje na hora do almoço.

- Não precisava, minha mãe falou mais de mil... -disse juntando as provas depois de colocar um lembrete final para mim mesmo do que alertar na próxima aula.

Perdi a voz quando coloquei meus olhos nela. Thais estava envergonhada, sua bochecha corada era a visão do paraíso. Sem contar a carinha de pidona que tinha, me lembrava dos vídeos de bebês da internet.

- Eu insisto. -afirmou brincando com o colar de corações embolado com sua blusa cinza cacharréu.- Não é nada demais. -sorri.- Na minha família tem um hábito de quando um bebê nasce a mãe ganha um pingente com uma criancinha. Sua mãe parece ser o tipo de pessoa que liga para tradições, já que seu irmão deu a ela uma roupa tradicional da cultura de vocês.

- Um pouco, ela é mais ligada à família em si. -sua atitude me pegou de surpresa, acho que ninguém nunca tinha sido tão delicado em definir a minha mãe. A maldita então, nem presente de natal se preocupou em comprar e estávamos já com data marcada.- Vou entregar, mas acho que só domingo. Hoje não vejo ela sob hipótese nenhuma.

- Verdade, ela disse algo sobre as sextas serem sagradas. -ri enquanto reviro os olhos para a maior besteira do século. Eu achava legal meus pais ainda manterem as regras dos encontros, mas não precisavam ser tão rigorosos em me expulsar cada vez que eu tentasse me aproximar nesse dia.- Se me permite, o que fazem nesse dia? Tenho que confessar que me deixou curiosa. -travei. Thais estava sendo estranhamente simpática, trabalhamos juntos há duas semanas e ela mal falava comigo, só me dava patadas.

- É a noite dos casais. -digo analisando ela com os olhos levemente semicerrados.

- Que romântico. -suspirou.

- Você está bem?

- Sim... -por algum motivo aquilo era mentira e eu sabia.

Thais se abraçou como se quisesse se proteger ou esconder alguma coisa. Suspirou mais uma vez. Seu olhar fugiu do meu e eles sempre me desafiavam, mas agora estavam perdidos na janela admirando a cidade. Olhei o relógio e percebi que o expediente tinha acabado já tinha mais de uma hora e ainda estávamos aqui.

Deixado para trásOnde histórias criam vida. Descubra agora