Capítulo 3

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Thais Ribeiro

Eu, com todas as letras, odeio café. Amargura quando erramos o açúcar, acho que errei tantas vezes na vida que passei a não gostar. Sem contar o gosto eterno que fica presente em nossa língua. Misericórdia. Toda vez que tentava tomar no meu antigo emprego tinha vontade de assim que terminava ir correndo escovar os dentes.

Acho que cheguei a odiar tanto, que Deus achou que seria divertido me fazer trabalhar em uma cafeteria. Se o café quente já era ruim, imagina gelado e misturado com leite. Eu tinha que arrumar uma força sobrenatural para não entregar o pedido ao cliente com a maior cara de nojo do planeta. Ainda tinha gente que pedia gelo, além de ruim ainda ia ficar aguado, esses são definitivamente os piores clientes porque aquilo era estranho demais para mim.

Já tinham se passado duas semanas que comecei a panfletar meus currículos por aí e não recebi nenhum retorno. Solto a bandeja no balcão frustrada por ver que não havia nenhuma notificação na caixa de e-mail. Custava as pessoas darem algum retorno, do que simplesmente descartarem você e se quer darem uma satisfação.

- Boa tarde! -uma voz meiga chama em frente ao caixa.

Vejo que o atendente não está e decido ir até lá cobri-lo, mesmo sabendo que não receberei nem um obrigado por isso. A moça parada em frente ao balcão é linda, com um cabelo chanel perfeitamente alinhado. Só de olhar para ela sabia que não era daqui, pela falta de traços asiáticos, mas o que ganha o meu dia é o fato de, depois de muito tempo, receber um sorriso gentil.

Desde o minuto que coloquei meus pés aqui não recebi um sorriso simpático. As pessoas estavam sempre muito preocupadas com os seus telefones, compromissos e não podiam se dar ao trabalho de serem simpáticas e dóceis com um estranho. Na maioria das vezes eu só queria informação, nada demais.

- Olá! -me sinto animada em falar com ela.- O que gostaria de pedir?

- Três expressos. -responde olhando para mim com uma certa dúvida. Decido esperar quando vejo alisar a barriga e analisar o cardápio acima da minha cabeça.- Dois expressos e um Donut de morango com granulado. Tem como colocar calda por cima.

- Claro. -penso em como vai ficar a coisa mais doce do mundo e fazer a glicose dela subir em níveis estratosféricos, mas a minha simples resposta faz seu sorriso dobrar de tamanho.- Algo mais?

- Acho que não... -fica pensativa então começo a selecionar seu pedido na tela do caixa, deixando que pense mais um pouco.- Melhor colocar uma garrafa de água também. Sabe se o cookie daqui é bom? -pergunta analisando a fileira no mostruário ao nosso lado.

- São secos demais. -respondo sem pensar muito revirando os olhos, porque fala sério eles são secos demais.- É... quer dizer... -tento consertar mas a essa altura ela já está rindo da minha cara.

- Sincera, gostei. Vai ser só isso. -seus risos me contagiam e assim que ela paga começo a preparar o pedido.

Por mais que não gostasse muito de trabalhar aqui, tinha uma coisa que eu amava. O cheiro do café, desde os grãos moídos até o momento que ficavam prontos. E os que acabei de preparar, fiz com gosto, feliz. Pode parecer besteira, mas a gentileza da moça fez o meu dia.

Com tudo pronto na bandeja a procuro pelo salão, encontrando em uma mesa com dois homens. O que estava ao lado dela parecia nem caber na cadeira de tão grande. Acho que se fosse medir tem mais busto que eu de tão grande que ele é.

Chego a andar em passos lentos analisando cada detalhe. Nariz perfeitamente alinhado, lábios grossos e bochechas fofas quando sorrio para a moça ao seu lado. Acho que eles são o casal perfeito, a paixão em seus olhos é de dar inveja.

Deixado para trásOnde histórias criam vida. Descubra agora