Capítulo 6

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Kim Seokjin

Largo a minha maleta em cima da mesa suspirando, não acredito que o bendito compromisso dela, era aqui. Sem contar a minha brilhante ideia de flertar,  não sei onde estava com a cabeça, simplesmente não consegui segurar a língua.
Ela ficava mais bonita de cabelos soltos.
Era um fato.
Reviro os olhos frustrado comigo mesmo. Encaro a larga janela da minha nova sala, que ainda está com caixas espalhadas para que possa arrumar. Pelo menos Ruby manteve-as ali de forma organizada, o que incomoda menos. Estou vendo os carros passando quando leves batidas me trazem de volta a realidade.
- Sente-se. -indico estendendo a mão para a poltrona em frente a mesa e busco por um possível currículo.- O bendito. -brinco quando o acho dentro da pasta indicada por Ruby.
- Sim… -encolhe os ombros envergonhada.- Olha se vamos fazer isso, acho que deveríamos nos desculpar e virar a página. -sugere.
Não está errada, mas também não vejo porque. Já briguei com metade desse escritório por conta da minha mania de organização, nem por isso tivemos problemas de dinâmica na equipe.
Acho que estou fazendo alguma careta, deixando explícito que discordo, pois sua sobrancelha levanta esperando que ceda de alguma forma. Analiso seu rosto pensativo e sem responder a ela, com isso aqueles malditos e lindos, bombons reviram me provocando.
Insolente.
Marrenta.
-  Página virada. -determino contra vontade e por entre os dentes.
- Ótimo. -ela sabe, sabe que foi pura formalidade.- Então podemos dar continuidade. -determina alinhando sua postura e se mostrando determinada.
- Quer sentar aqui e coordenar o escritório no meu lugar? -resmungo enquanto sento na minha poltrona de chefe.
Enquanto ela parecia bem confortável em seu lugar, eu não conseguia sossegar no meu. Era como se tivesse algo na poltrona que não me deixava relaxar. Bufei ficando ainda mais irritado, não conseguia sair da primeira linha do seu currículo.
Thais.
Thais Ribeiro.
Não sei quantas vezes e nem porque não consigo parar de ler a mesma coisa. Sem paciência jogo seu currículo na mesa e cruzo os braços colocando os olhos nela. Thais. Finalmente descobri seu nome.
- Formada em?
- Administração. -responde de cara.- E com os avanços das redes sociais, também tenho alguns cursos de marketing digital. -acrescenta sorridente e orgulhosa.
- E no que isso seria bom para um escritório de advocacia? -ergo uma das sobrancelhas.- A jogada de marketing, digo. -forço uma tosse ao ver seu sorriso se desfazendo e me odiando por isso.
- Considerando que estava distribuindo meu currículo em uma faculdade e o Senhor acidentalmente acabou com um deles, não imagino no que possa ser útil. -a forma como se controla para não transparecer o seu desdém é admirável, mas dá para notar o tanto que suspira querendo se controlar.- Tudo que consigo pensar, como estrategista, seria transformar o Senhor em um mentor com base na sua especialidade. -sinto meu coração ter um mini infarto quando a palavra senhor sai de sua boca, afronta ou não, me irrita. Não sou velho.- Podendo criar uma página ou canal informativo para leigos e colegas da profissão. Fazendo com isso que seu nome se torne conhecido, mais pelo que posso notar. -gesticula com as mãos, mostrando que não deixou passar despercebido toda a elegância do escritório e da minha sala.- Se tornado mais conhecido pode com isso atrair novos clientes.
- Entendi. -é só o que consigo dizer, já que tudo que consigo pensar é na ereção que começa a se formar no meio das minhas pernas.
Ela tinha realmente que além de bonita, ser inteligente? Se não fosse por toda sua marra, seria definitivamente o meu tipo.
- Nos meus primeiros estágios fui mais secretária do que qualquer outra coisa, já que não davam muita atenção para recém formados. -acrescenta se mostrando nervosa.
- Todos aqueles papéis que caíram da sua mão naquele dia eram currículos? -um vinco se forma em minha testa, porque ela parece tão desesperada por um emprego.
- Sim… -dá um sorriso fraco ficando envergonhada.- Sabe, eu me mudei recentemente para cá. Falando a verdade eu nem sei porque estou aqui, depois que enterrei minha melhor amiga… -respira fundo, sua confissão faz com que seus olhos começem a lacrimejar.- Acabei ficando sem rumo. Pensar em voltar para casa, com minha mãe e sem meu pai por perto, não me pareceu uma ideia muito atrativa. -ri, mas não parece achar divertido, estaria mais para irônico o seu comentário.
- Sinto muito pela sua amiga. -tento ter empatia.
- Tudo bem, olha eu entendo se não quiser me contratar, de verdade. Nem eu me acho qualificada para a vaga.
- Concordamos nisso. -estalo os dedos e aponto para o seu rosto. Algo em mim queria parecer um idiota para poder arrancar um sorriso dela novamente.- É algo abaixo da sua formação, não me parece justo, mesmo você estando desesperada.
- Não estou desesperada. -dita firme me arrancando uma risada.
- Claro e veio correndo da cafeteria para cá porque mesmo?
Sua bufada e revira os olhos, o que só serve para manter o meu sorriso debochado no rosto. Peço para ela esperar um minuto enquanto ligo para meu irmão, acho que estou prestes a cometer uma loucura e quero ter certeza que alguém vai me apoiar.
- Hey Bro! -eu odeio o jeito garotão dele de falar comigo, faz com que eu me sinta mais velho do que realmente sou.
- Acha que alguns dos clientes antigos do papai podem nos deixar após a sua aposentadoria? -com os olhos nela vejo que tenta entender o que estou fazendo. Me ajeito na cadeira ainda sentindo o aperto em minha cueca.
Eu não posso ter uma ereção completa nesse momento. Muito menos para alguém que perde mais da metade do tempo me insultando do que me provocando. Mesmo que aqueles olhos sejam lindos, a língua era afiada demais para o esforço.
- Você sabe a resposta! -debocha.- São um bando de velhos, conservadores e machistas, imagine o que vai acontecer quando um dos casos for parar nas mãos da Júlia. -seria um caos na terra, e o pior é que ninguém nesse escritório era melhor que ela quando se tratava da vara cível.
- E se criássemos um… -percebo que não entendo nada das redes sociais que a marrenta sugeriu.- Qual o nome da plataforma para divulgação? -pergunto a ela afastando um pouco o telefone do rosto.
- O canal de comunicação você quer dizer? -continua tentando entender o que está acontecendo, mas se mantendo o mais atenta possível.
- Essa coisa aí. -balanço a mão com descaso.
- Vai depender do público alvo, teria que fazer uma pesquisa e…
- É uma pergunta simples! -reclamo balançando o telefone no ar.- Você responde A ou B. -reclamo ficando irritado e me questionado porque de estar fazendo isso realmente.- Esquece. -determino voltando ao telefone.- Qual o nome daquela coisa que você usa desesperadamente no telefone? Namjoon! -grito.
- Sei lá, sabe quantos aplicativos eu tenho no meu celular? -provoca me tirando o resto de paciência.
- Ótimo! Descobre em qual deles o papai pode ser o garoto propaganda do nosso escritório. -uma gargalhada ecoa em meu ouvido fazendo que eu afaste o telefone para não acabar surdo.
- Você está se ouvindo? -ri e posso imaginar o interrogatório que está por vir.- Garoto propaganda, tá mais para vovô propaganda…
- Deixa ele te ouvir debochando da idade dele. Enfim, resolva isso. Vou contratar alguém para gerenciar o que quer que seja. -determino pronto para desligar.
- Não íamos contratar uma secretária? Seokjin, que papo é esse? -resmunga deixando a palhaçada de lado.- Estou chegando no escritório, resolvemos isso juntos. -determina, mas eu discordo.
- Tarde demais. -desligo mesmo tendo escutado ele gritar o meu nome.- Você tem dois meses para me convencer que a sua ideia funciona.
- O que? -arregala os olhos em choque voltando a atenção para mim.
- Sabe que o direito é uma profissão bem… Conservadora. -para não falar elitista, machista, corrompida…- Meu pai vai se aposentar e eu sei que vamos perder alguns clientes. Eles se dizem fiéis, até a hora que a minha cunhada for representá-los ou dar algum pitaco. A verdade é que com o meu pai fora da jogada só ela entende da coisa, já que os dois se especializaram na mesma área.
- E então você quer transformar o seu pai no mentor que eu sugeri. -entende de cara o que pretendo fazer.
Ele é a voz da experiência aqui, não tem como ser outra pessoa. Por mais que esteja se aposentando, duvido que não vá querer meter o nariz dele aqui de vez em quando.
- Exatamente. Eu te contrato como secretária, seu plano dando certo, vira a nossa gestora de mídias. -dou a minha contra proposta, ela tinha uma ideia em potencial e seria burro se não a testasse. Fora isso, Júlia tinha visto algo de relevante no currículo que eu mal  conseguia me concentrar para ler.
Eu confio na minha cunhada. É nisso que me prendo tomando a decisão de contratar a marrenta desesperada.
- Fechado. -abre um sorriso enorme que me faz sorrir também.
- Dois meses. -decreto me levantando e estendendo a mão.-Nem um minuto a mais.
- Se eu não conseguir o que acontece? -perde tempo demais analisando meus dedos o que faz com que eu feche a mão e guarde ambas em meus bolsos.

Jinzinho, porque não cruza os dedos para que não reparem neles. Fica mais elegante se não verem que são tortos.

- A princípio nada, acho que o máximo que pode acontecer é seguir somente como secretaria. -dou os ombros.- Não é muito vantajoso para você.
-  Então vamos torcer para que dê certo.
Agora é ela quem estende a mão e eu quem me perco encarando. Antes que, como eu, desistisse aperto. Firmando nosso acordo.
Sua pele não é a mais macia que já toquei, é até um pouco áspera, mas a julgar por todo o desespero e determinação na busca do emprego. Mostra que são mãos de alguém que luta pelo que quer, não tem medo de trabalho.
Isso e que não tem o hábito de comprar hidratante.

Deixado para trásOnde histórias criam vida. Descubra agora