Deixado para trás

Capítulo 5

Thais Ribeiro

Eu não estava acreditando, depois de quase dois meses morando aqui e duas longas semanas entregando currículo feito uma louca.

Tive uma resposta.

Cheguei a ficar em choque quando me falaram sobre o que se tratava a ligação. O celular quase caiu da minha mão. Sequei o relógio esperando dar a hora de largar o trabalho de meio expediente na cafeteria, para poder sair correndo para a entrevista. É claro que não exitei em sugerir que fosse hoje mesmo, quando me perguntaram minha disponibilidade. Eu não iria esperar até amanhã, se Deus estava dando hoje o empurrãozinho que precisava.

Sabia que o escritório ficava pela região, mas não imaginava que chegaria tão rápido. Tudo bem que meus passos eram meio desesperados, perder essa oportunidade não era uma opção, mas mesmo assim.

Cheguei no grande edifício esbaforida, me apressei em fazer o meu cadastro com a recepcionista e acho que a minha empolgação contagiou ela. Porque como um milagre ela corresponde ao meu sorriso, que não deixou meu rosto desde que desliguei o telefone.

- Espere, por favor. -grito pedindo que segurem o elevador enquanto corro para chegar nele.- Muito O... -minha frase morre no meio do caminho.- Mas não é possível. -murmurrei desacreditada.

Lá estava ele, em menos de quarenta e oito horas, bem na minha frente novamente, pelo menos está tão surpreso quanto eu. Mesmo comigo já dentro do elevador, ele continua segurando a porta, até o painel começar a apitar e voltarmos à realidade.

- De nada. -fala tão baixo me encarando que só escuto por estar o encarando de volta.

Antes que possa me perder em sua beleza sobre humana, viro para ajeitar minha imagem no espelho. Eu não estava ali a passeio, alguém finalmente tinha lido o meu currículo exemplar, não iria desperdiçar essa chance. Muito menos por conta de um rosto bonito.

Tinha trabalhado feito uma louca e corrido até aqui, era de se esperar que no mínimo descabelada eu estaria. Quero no mínimo estar apresentável, teria que garantir isso. Solto o coque que mantinha em meu cabelo enquanto trabalhava e deixo que os fios caiam em meus ombros para que possa arrumá-lo. Mesmo concentrada no que estou fazendo, sinto o olhar curioso do bonitão em mim.

O que me deixa envergonhada, minhas bochechas coram e fico nervosa. Com isso, acabo me lembrando de uma coisa que Erick sempre me dizia.

- Devia... -pigarreou desviando o olhar.- Deveria deixar solto.

Ele gesticula apontando para meus cabelos enquanto analisa o painel tentando disfarçar que não estava me encarando até agora, não sei em que andar irá descer, mas parece ansioso. Por sorte falta pouco para que eu possa descer.

- Engraçado. -soprei um riso, largando o elástico e abaixo os braços.- Alguém me dizia o contrário.

Erick.

- Essa pessoa mentiu para você. -abaixa o rosto para esconder o sorrisinho debochado que está estampado na sua cara enquanto coloca a mão nos bolsos da calça.- O dourado dos reflexos no cabelo realça o castanho dos seus olhos. -meu queixo cai.

Ele sabia que tinha luzes no cabelo, não que isso não fosse notável, mas precisei dizer a Erick o que fiz no cabelo. Já que nem se deu ao trabalho de me olhar quando cheguei em nosso encontro no dia que fui ao salão.

- Você é um daqueles Stalkers? -pergunto tentando ser realista, era isso ou...

- Que? -arregala os olhos abismado voltando a me encarar.- Não. -grita.- Elogiar virou crime agora e eu não fui informado?