CAPÍTULO 2

37 5 6
                                    

Ao amanhecer, acordo com uma dor nas costas e mal consigo me levantar. Continuo aqui, deitada na minha cama, lembrando das coisas que minha mãe me disse ontem à noite, quando me dou conta de que, pela primeira vez em muitos anos, eu não tive pesadelo algum. Fico tão feliz por isso. Acho que isso é um sinal de que realmente essa força soberana existe. Bom, se minhas noites de sono dependem de meditações e preces, meditarei todos os dias.

Só não dá para dormir assim, toda desengonçada, porque não há coluna que aguente!

Me levanto e coloco um vestido azul, bem leve. Em seguida, desço para tomar uma xícara de café e para pedir desculpas à minha mãezinha. Eu me excedi na noite anterior, reconheço.

Ao chegar na cozinha, me assusto com minha mãe em pé ao lado do fogão de lenha, quando me aproximo, percebo que ela está com a cabeça abaixada e parece chorar.

- Mãe? O que foi? - Me aproximo um pouco mais para tentar me desculpar. - Está assim pelas coisas que eu disse ontem? - pergunto enquanto toco levemente o seu ombro.

- Não, filha. Na verdade, eu não queria que você tivesse mais uma perda - diz minha mãe, ainda de cabeça baixa, enquanto enxuga o rosto coberto de lágrimas.

- Mãe, você está me assustando... o que aconteceu?

- Sua amiga Bella, filha... A Bella morreu. - Minha mãe ergue a cabeça na minha direção com os olhos vermelhos de tanto chorar. Caminho a passos lentos para a sala de estar e me sento no sofá. Mal posso acreditar no que ouvi. Quero gritar, mas tudo o que consigo é chorar.

- Minha amiga... minha melhor amiga está morta. Como isso aconteceu, mãe? - Pergunto, sem acreditar.

- Hoje de manhã um oficial de Ierousalím esteve aqui querendo te interrogar. Perguntei do que se tratava, então, ele disse que uma jovem havia sido encontrada morta esta manhã e no dia anterior estava com você e outra jovem, no caso, a Laura. Eu pedi para que ele voltasse mais tarde, pois eu queria te dar a notícia e ter a chance de te reconfortar. Vem, filha, deite-se aqui no meu colo. Chore o quanto quiser. Estou aqui com você - diz minha mãe, me puxando para perto.

Sinto meu rosto queimar enquanto as lágrimas rolam. Um longo choro que me faz soluçar. Ainda sem conseguir assimilar a morte de Bella, ouço alguém bater na porta.

- Sra. Agnes, sou eu, o oficial Borges! Podemos conversar? - Uma voz firme ecoa do lado de fora da casa.

- Sim, podemos. Só um minuto! - grita minha mãe.

- Aurora, minha filha, você terá que conversar com esse homem. Ele deve te fazer perguntas sobre sua amizade com a Bella e essas coisas. - Minha mãe enxuga minhas lágrimas, tentando me deixar um pouco apresentável ao homem que iríamos receber.

- Sim, mãe, pode abrir a porta.

Me sento, tentando manter certa compostura. Era estranho ouvir minha mãe falar de Bella de um jeito como se ela não existisse mais. Ontem mesmo estávamos juntas no lago e na casa da Sra. Helena. Tento me recompor o melhor que posso para, enfim, receber o tal oficial.

- Suponho que você seja a Aurora - diz o oficial ao entrar na sala.

- Sim, sou eu mesma. Sente-se, por favor.

- Não será necessário - ele diz, sem rodeios. - Gostaria de fazer algumas perguntas, se não se importa. Prometo que serão rápidas!

- Já está aqui, oficial, vamos acabar logo com isso. O que quer saber?

- A senhorita conhecia Bella há quanto tempo?

- Desde a infância. Crescemos juntas.

- E como era a amizade de vocês?

IerousalimOnde histórias criam vida. Descubra agora