CAPÍTULO 17

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Já faz dois meses que estou em Ouránios, e não consigo acreditar que terminei meu treinamento. Já não sou mais a mesma de quando cheguei aqui. Antes, era uma menina que não sabia nada e que era totalmente despreparada. Agora, me sinto mais forte e confiante do que nunca. Olho pela janela do meu quarto e percebo quanta coisa aconteceu desde que cheguei. Hoje tenho uma audiência com o rei e pretendo pedir para ir a Ierousalím ver minha mãe. Espero que ele não negue esse pedido.

— Aurora! Posso entrar? — Eduard pergunta.

— Sim, claro! — me olho através do espelho para me certificar da minha aparência.

Meu coração bate forte como no dia em que fomos ao rio e descobri meus sentimentos por ele. Assim que Eduard entra no quarto, noto que está apreensivo, e um tanto inquieto. Olho para ele e vejo que está com aquela antiga feição de seriedade no rosto.

— É ótimo que esteja aqui. Pode me acompanhar na audiência de hoje com o rei? — Junto suas mãos nas minhas. — Sente-se, por favor. — Indico um banquinho perto da penteadeira.

— Vim para falar exatamente sobre isso. A audiência foi adiada, Heitor pediu para que fôssemos a aldeia dos Paidí, não fica muito longe daqui. — Eduard coça a nuca e algo parece o incomodar.

— E por que tenho que ir? Tenho uma audiência marcada com o rei e pretendo pedir permissão para ir a Ierousalím.

— Na verdade, não vamos sozinhos. Dragomir, Amíce e Roseta também irão. Ontem à noite, a notícia de que algumas aldeias estavam sendo saqueadas chegou ao conhecimento do rei.  Os saqueadores estão ao norte das aldeias de Ouránios, e Heitor quer que a gente vá descobrir quem está por trás dos saques e o porquê. Além do mais, o comandante quer ver como você  se sai em um possível confronto. — Eduard coloca a mão no queixo e então percebo o motivo da preocupação dele.

— É por isso que você está assim, tão nervoso? Ah, Eduard! Não sou mais aquela garota inexperiente, não tem porque ficar apreensivo. — Encho uma caneca de vinho e o ofereço, para se acalmar. — Além disso, não estaremos sozinhos.

— Isso quer dizer que você vai? — Eduard pergunta surpreso.

— Mas é claro! Quando voltar falo com o rei.

— Talvez tenha razão. Estou me preocupando demais. Vamos? Os cavalos já estão selados e os soldados já estão à nossa espera.

Percorremos as estradas de Ouránios rumo ao norte. Amíce está mais animada que nunca, e cavalga ao meu lado sorrindo como se estivéssemos a ponto de chegar a uma festa. Já Dragomir e Roseta preferem cavalgar à nossa frente.

— Vamos nos manter juntos quando chegarmos na aldeia dos Paidí, tá bom? Não sabemos o que pode haver lá, pode ser perigoso. — Eduard me fita com os olhos preocupados e depois olha para Amíce na expectativa de que ela concorde, e logo ela assente.

— Eu discordo! Podemos percorrer todo o perímetro bem mais rápido se nos separarmos — grita Dragomir mais à frente.

Apesar de cavalgar afastado de nós, Dragomir parece manter os ouvidos bem abertos. Percebo o quanto ele e Roseta se dão bem, e não poderia ser diferente, afinal, são dois irritantes.

— Não! — grita Eduard, cerrando os dentes. — Vamos ficar juntos. Devo lembrar a você, soldado, de que eu estou no comando dessa missão?

— Tudo bem, vai ser do jeito que você preferir. — Roseta responde por Dragomir.

Cavalgamos por duas horas e então quando olho para o horizonte vejo uma grande fumaça negra que se ergue ao céu.

— Eduard, veja! — Aponto para a frente.

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