CAPÍTULO 26

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Não sei quanto tempo fico desacordada, pois quando acordo, ainda com a visão embaçada, percebo que não estou mais em Evraikós; agora estou numa cabana suja, com um odor fétido de carne podre misturado a enxofre que me dá náuseas. Minhas mãos estão amarradas, penduradas a uma corrente por um cabo ligado ao telhado. Sinto-me exausta por estar suportando o peso do meu corpo. Meus ombros latejam com a dor de permanecer com os braços pendurados. Tento forçar, mas os grilhões que estão em meus pulsos são fortes demais. De repente, ouço passos vindo em direção à porta da cabana; é difícil identificar a pessoa, pois não há luz, apenas poucas velas no ambiente. E então, a porta se abre, e o que vejo é tão terrível que jamais imaginei. Diante de mim está uma criatura alta, com corpo de homem, mas a pele cinza como a de alguém que já perdeu a vida. Ele tem cicatrizes por todo o corpo, é forte. Busco por seus olhos, mas o que vejo é pura escuridão. Não há olhos, somente escuridão.

— Eu poderia ser rápido e acabar logo com você, mas quero curtir cada momento — diz a criatura a minha frente.

— Quem é você? Cadê o seu mestre? — Pergunto enquanto continuo a forçar os grilhões que mantêm meus braços suspensos.

— Ah, vamos lá, pequena! Você é inteligente. Estou à sua procura há muito tempo e para dizer a verdade eu esperava mais. — A criatura sorri com sarcasmo.

— Apoliom! — Sussurro em meio a dor. — Me deixe sair daqui e você vai ver como o farei pagar pela morte do meu pai e de Bella, seu miserável! — Esbravejo.

Apoliom se deleita ao me ver incapaz de revidar. Ele se aproxima bem perto do meu rosto e seu hálito quase me faz desmaiar.

— Você acha que eu não sei que os soldados de Ouránios estavam marchando para cá? Vocês se julgam superiores e defensores do bem, mas são um bando de tolos e inconsequentes. Todo esse tempo Dragomir esteve a meu serviço no castelo do rei e vocês nem perceberam. Como perceberiam? — Apoliom vai em direção a uma mesa de madeira velha, cheia de ferramentas que não consigo identificar.

— Por que matou meu pai, seu maldito? E Bella? Ela não oferecia nenhum risco a você! Foi por diversão? — Pergunto com os olhos marejados, mas não deixo que nenhuma lágrima role no meu rosto. Não darei esse deleite a ele.

— Não foi por diversão, mas não nego que gostei muito de ter matado os dois. Seu pai me causou muitos problemas quando guerreou contra meu exército anos atrás, atrasando meus planos de dominar este mundo. E sua amiga? Ela morreu porque eu queria te infligir dor, eu queria minar tudo de bom que você tinha, queria que você mergulhasse na escuridão através da perda e trabalhasse para mim. Imagina como seria ter a última Polemisti viva a meu serviço. Parou reflexivo. — E o irmão de Bella — diz, virando em minha direção. — Bem, eu planejava torná-lo um dos meus soldados, mas o idiota conseguiu escapar há uma semana.

— Você está louco se pensa que vou trabalhar para você! Prefiro a morte do que me render a um ser tão podre, que tira vidas a troco de nada, que mata inocentes e destrói famílias, e para quê? Dominar o mundo? Tomar o controle de todos os reinos? Minha resposta sempre será não! — Exclamo.

— Tudo bem, mas farei você se arrepender. Olhe a sua volta, ninguém está aqui para te salvar. Acha mesmo que o exército de Ouránios vai se arriscar a vir aqui só para salvar uma pobre garotinha? Além do mais, estão todos mortos. A única sobrevivente é você. E em breve Ouránios ira queimar também! — Apoliom se move rapidamente em minha direção, e com um rápido movimento, mergulha uma lança em meu ombro, me fazendo gritar de dor.

— Vamos nos divertir muito, Aurora. — Sussurra em meu ouvido enquanto deixa a lança cravada em meu ombro e sai pela porta sem olhar para trás.

Apesar de poder me curar instantaneamente, isso não será possível enquanto a lança não for retirada, enquanto isso, eu desfaleço de dor. Percebo o quão terrível será ficar à mercê de Apoliom.

Eduard me vem à mente, assim como Amíce e Roseta. Não posso acreditar que estejam mortos. Como poderei vencer sozinha? Meu coração sangra mais do que a ferida em meu ombro, só de pensar que perdi todos.

IerousalimOnde histórias criam vida. Descubra agora