CAPITULO 28

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O tempo passa e meu sangue escorre pelo chão da cabana imunda. Me sinto mais fraca a cada minuto. Concentro minha audição e penso ouvir relinchos; certamente há cavalos do lado de fora. Repentinamente ouço um retumbar de tambores. Parece que Apoliom está dando uma festa. Tento mais vez sair dos grilhões, sem êxito algum. Quando enfim me vem uma ideia. Se consigo me curar com facilidade, por que não tentar?

Imediatamente forço meus punhos para baixo, fazendo o osso deslocar. Com a força que imponho, meu indicador se quebra e eu mordo os lábios de dor. Minha mão desliza facilmente, então, faço o mesmo com a outra e me libero dos grilhões.

Afundo no chão de areia batida ainda sentindo dor pelos ossos que voltam, um a um, ao seu lugar. Assim que recupero o movimento da mão, puxo a lança cravada em meu ombro. Aperto os lábios com força para não gritar. Preciso sair desse lugar, mas não sei como fazer isso, já que lá fora deve haver milhares de Abadons. Estou sem a minha espada e tudo que tenho é a lança que retirei do ombro segundos atrás.

Logo começo a ouvir gritos de guerra e barulhos de espadas se chocando uma com a outra. Certamente há uma luta lá fora. Em seguida, a porta da cabana se abre abruptamente e o que vejo me faz chorar de alegria. Amíce e Roseta estão bem na minha frente. Me sinto aliviada, pois se Apoliom mentiu sobre a morte delas, o exército com certeza está vivo. Amíce vem em minha direção para me abraçar enquanto Roseta vigia a porta.

- Você está bem? - Pergunta Amíce.

- Eu dou conta. Vamos sair daqui - respondo.

- Vamos! Não temos muito tempo. Trouxe sua espada. Você a deixou cair quando te pegaram em Evraikós - diz Amíce enquanto me entrega a arma que sei manejar muito bem.

- Laura e Eduard estão bem? - Pergunto, apreensiva.

- Sim, estão lá fora matando alguns desses malditos Abadons - responde Roseta.

Suspiro de alívio ao saber que Laura e Eduard estão vivos. Quando saímos da cabana, a cena diante de mim é avassaladora. Há milhares de animais mortos em estado de decomposição em volta da floresta. Por um momento, fico muda, até que meus olhos encontram Eduard a alguns metros de distância enquanto afunda o machado no crânio de um Abadon. Quando ele me vê, sorri revelando dentes brancos, então vem em minha direção, se aproxima até que eu sinta seu hálito quente, me estuda com os olhos e, então, me dá um intenso beijo, com os olhos marejados de emoção.

- Pensei que tinha te perdido, meu amor. - Ele sussurra em meu ouvido enquanto me abraça.

- Você não vai se ver livre de mim tão fácil assim - respondo sorrindo.

Mas esse momento de alegria é tomado por uma intensa preocupação, pois me pergunto o que acontecerá se eu falhar. Não posso suportar a ideia de ser derrotada. Observo a batalha sangrenta ao meu redor e meus olhos pousam sobre Apoliom, que está sentado sob um trono negro, assistindo calmamente todo o derramamento de sangue.

- Apoliom! - Grito selvagemente. - Vamos acabar com isso de uma vez.

Vou em sua direção e o vejo caminhando ao meu encontro com um grande machado nas mãos. Após descer os degraus de seu trono asqueroso, ele apressa os passos e com uma velocidade desconcertante, salta diante de mim, em seguida choca seu machado com minha espada, me fazendo colidir contra uma grande árvore atrás de mim. O impacto forte me deixa tonta e não consigo me mover por alguns momentos. Tento limpar minha mente, pois a única chance de sobreviver a Apoliom é superá-lo.

Antes que eu ceda à força violenta que está sobre mim, pressiono um dos meus pés contra a árvore e me desvencilho do seu ataque. Apoliom puxa uma espada da bainha ao seu lado e aponta a lâmina para o meu rosto.

- Você vai morrer agora, sua infeliz! - Grita.

- Aurora! - Apoliom e eu nos viramos em direção à voz e então vejo minha amiga em pé do alto de uma árvore segurando um arco nas mãos. Com a seta já preparada, ela mira em direção ao adversário. - Se afasta da minha amiga agora! - Grita Laura.

Sinto um imenso orgulho ao ver minha amiga tão confiante de si. Com um movimento brusco, Apoliom me puxa para frente dele como um escudo e coloca a lâmina do machado em direção ao meu pescoço. Meu coração bate forte. Um movimento e eu posso morrer nas suas mãos. O rei, numa luta ferrenha logo à frente, decepa a cabeça do seu adversário e vem ao meu socorro.

- Se você fizer alguma coisa com ela, mato você! Sabe que não tem saída, não vai vencer. Você já está derrotado, sabe disso. - Afirma o Rei.

- Ela é tão importante assim para você? Isso é bom. Vou levá-la comigo e se você se mexer, eu a mato. - Grita Apoliom.

- Eu não vou a lugar algum com você! - Murmuro.

Com um olhar lateral, vejo um cavalo atrás de um arbusto à minha esquerda. Quase não acredito quando percebo que se trata de um Àlogo. Aquela égua linda que eu havia visto na caverna com Eduard está ali, me encarando como se estivesse ali para me ajudar. Por um momento, Apoliom afrouxa o machado que está sobre o meu pescoço, então golpeio o abdômen dele com meu cotovelo, me abaixo e consigo me desvencilhar. Com um movimento rápido, Laura levanta seu arco e o atinge bem na coxa. Ainda de pé e com a flecha fincada em sua coxa, Apoliom vem para cima de mim. Mas o rei bloqueia seu ataque, fazendo-o dar dois passos para trás. Então me abaixo, esquivando-me de mais uma investida de sua espada e, quando me levanto, desfiro minha espada com toda a força em seu peito. Ele fica imóvel, aprofundo ainda mais até que o cabo da minha espada encoste em sua pele ensanguentada. E enquanto o vejo morrer, giro a espada ainda dentro do seu peito, fazendo-o cair morto diante dos meus pés.

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