CAPITULO 20

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O dia amanhece agitado com muitos afazeres dentro e fora do castelo. Mal tenho tempo para fazer o desjejum com Laura e Enola, e sou surpreendida pela visita de Roseta, que bate insistentemente em minha porta.

- Aurora? Está aí? Preciso falar com você!

- Sim, só um minuto! - respondo.

Ao abrir a porta, me deparo com Roseta ofegante.

- Aconteceu alguma coisa? - pergunto assustada.

- D-desculpe! Eu não queria interromper o momento com sua família, mas o rei exige sua presença na sala do trono. E, a propósito, eu também preciso falar com você... - Roseta dá um sorriso forçado para as meninas.

Cogito a possibilidade de ela estar doente, pois nunca vi nenhuma gentileza da sua parte. Não até agora.

- Não acredito que terei que explorar o castelo sozinha com Enola, Aurora! - Laura parece frustrada.

- Desculpa, amiga, mas preciso ir. Não deixem de explorar o castelo só porque não estarei presente, está bem? Encontro com vocês mais tarde. - Laura assente. Enola está tão entretida com o bolo de milho, que pouco se importa com o infortúnio.

Ao seguir pelo grande corredor até a sala do trono, sinto que Roseta está incomodada, e então, ela decide quebrar o silêncio.

- Por que, Aurora? Por que você decidiu tomar a flechada em meu lugar? Você disse que eu faria o mesmo por você, mas a verdade é que não tenho certeza se realmente faria... - ela confessa, mantendo os olhos fixos no caminho à frente e os braços cruzados atrás das costas.

- Olha, Roseta, não me importa se você faria ou não faria, importa é que fiz o que achei que deveria ser feito. Mas será possível que até por isso você queira arrumar uma discussão comigo agora? - A fito com os olhos, mas ela não corresponde. Então, chegamos à entrada da sala do trono. Me preparo para entrar, mas sou interrompida por Roseta, que segura meu braço esquerdo, me impedindo de seguir.

- Obrigada! - diz Roseta, que agora olhava em meus olhos. - Sei que não facilitei as coisas para você, mas quero que saiba que, apesar de não fazer por você o que fez por mim antes, eu pretendo me esforçar para ser diferente daqui em diante. Ninguém nunca fez nada parecido por mim, nem mesmo minha família, então... - Roseta parece perder as palavras.

Penso que ela possa estar delirando, mas não uso ironia ao respondê-la.

- Tudo bem, Roseta - digo, colocando a mão sobre seu ombro para reconfortá-la. - Não pense mais nisso, está bem? Admito que você me irritou bastante, mas fico feliz por você querer tornar as coisas mais fáceis entre nós.

Ela assente com um meio sorriso e seguimos pelo corredor. Então, entro na sala do trono, me sentindo novamente maravilhada com a beleza do lugar. Afinal, só estive ali uma vez, quando o rei me ajudou a recuperar a memória. Sigo em direção ao trono e lá estava o rei imponente em seu trono de mármore branco.

- É bom vê-la de novo, Aurora! Principalmente depois dos últimos acontecimentos em Ouránios. Soube do que aconteceu na aldeia dos Paidí e é justamente por isso que te chamei aqui. Como pode ver, ontem os Abadons atacaram alguns aldeões do lado de fora dos portões de Ouránios. E não somente isso, mas eles tem dizimado vilas em todos os Sete Reinos. As notícias das atrocidades têm chegado até mim e, por isso, preciso que entenda seu destino e o motivo pelo qual eu disse precisar de você antes. - As rugas na testa do rei, indicam tamanha preocupação.

Permaneço em silêncio, esperando que ele continue.

- Há muitos milênios, foi profetizado o nascimento de uma criança que teria múltiplas habilidades e a capacidade de vencer qualquer batalha sozinha. Quando Apoliom tomou conhecimento dessa profecia, ordenou a suas potestades demoníacas que travassem uma guerra sangrenta contra o clã das Polemistis, formado por mulheres ferozes em batalhas, todas elas com habilidades únicas nunca vistas antes. Creio que seu pai tenha mencionado a respeito na carta que lhe escreveu...

- Receio que não, Vossa Majestade. Meu pai fez uma breve menção de que eu precisava me tornar uma Polemistis, mas nada disse sobre a profecia.

Fico perplexa com tudo o que o rei está me revelando e sinto o coração pulsar mais forte a cada instante. Será que os mistérios que envolvem a minha vida nunca acabam?

- O fato é que o clã das Polemistis foi dizimado há milênios, Aurora. Mesmo assim Apoliom se certificou de atacar e matar todas as pessoas que desenvolvessem algum tipo de habilidade, não só pelo medo da profecia, mas também para impedir que o exército de Ouránios se fortificasse ainda mais. Então, você nasceu. E quando seu pai descobriu suas múltiplas habilidades, soube o que teria que fazer. - O rei faz uma pausa e me fita com os olhos cheios de compaixão.

- Me desculpe, Vossa Majestade, mas deve haver algo errado. Meses atrás eu não sabia nem segurar em uma espada. Se eu tivesse destinada a isso, por que as pessoas nunca mencionaram essa profecia?

- Poucas pessoas sabem sobre ela, Aurora. Apoliom não deixou a notícia se espalhar para que ninguém interferisse em seus planos diabólicos. Certamente ficaria mais difícil eliminar a criança se todos soubessem. As pessoas a esconderiam, dificultando qualquer retalhação que ele pretendesse fazer. Além de mim, apenas o seu pai sabia, e ele jurou não dividir essa informação nem mesmo com sua mãe. Ainda me lembro de Robert mencionando com orgulho suas habilidades para mim, e então fui obrigado a contar a ele sobre a profecia. Você nunca vai encontrar alguém com habilidades como as suas. Você é única! E está destinada a combater as trevas e equilibrar a paz em todos os reinos. Você não estará sozinha, criança, meu exército vai pelejar com você. Mas precisamos parar isso agora! - O rei faz um gesto indicando o que aconteceu fora dos portões de Ouránios.

- Não sei se consigo... é demais para mim - respondo, com as pernas tremendo sob a responsabilidade que o rei está impondo sobre mim.

- Consegue, sim! Se você não lutar por nós, temo que coisas piores acontecerão. Apoliom está devastando vilas a procura da Polemistis destinada a derrotá-lo. Foi por isso que Robert fez o que fez para te proteger. Seu destino está traçado, criança, e você não pode fugir dele.

Eu sempre soube que lutaria numa guerra, mas ser destinada a derrotar Apoliom e equilibrar a paz é uma responsabilidade e tanto. E se eu falhar? Muitas vidas serão perdidas se isso acontecer. Por outro lado, se eu me recusar a lutar, também haverá consequências terríveis. Então, mesmo relutante, assinto.

- Farei o que for preciso, Meu Rei - faço uma breve reverência e me viro para sair.

- Aurora, espere! Ainda tenho uma coisa importante a te entregar.

O rei faz um gesto com a mão, chamando um de seus servos, sussurra algo em seu ouvido e então me olha com um meio sorriso nos lábios. Em seguida, o servo entra trazendo consigo um enorme tecido carmesim enrolado sobre os braços e o entrega ao rei. O rei se levanta do seu trono, caminha até a mim e me entrega o tecido. Quando o toco, instantaneamente sei do que se trata. É uma espada.

Eu desembrulho a espada do tecido. Ela é linda e tem muitas inscrições gravadas em sua lâmina. É leve, porém afiada, e o brilho não deixa dúvidas.

- O poder dessa arma vem do seu coração, mas deve ser equilibrada pela sua mente. Pelo autocontrole de quem a empunhar. Essa é a verdadeira força de uma guerreira. A espada foi encontrada na casa de uma das Polemistis assassinadas. Desde então, a mantive segura aqui em Ouránios até que a Polemisti profetizada aparecesse.

- Obrigada, Vossa Majestade - agradeço, entregando a antiga espada ao servo. Em seguida, coloco minha mais nova arma na bainha.

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