CAPÍTULO UM

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A cabana cheira a pêssegos e cinzas da lareira acesa

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A cabana cheira a pêssegos e cinzas da lareira acesa.

── Bem vinda de volta ── Sorri Ernest

Iria respondê-lo quando Austin atravessou a sala com uma pilha de tecidos nos braços. Irritado como nunca, seu rosto se enrubescer.

── Ernest, acabo de saber que estamos sem linha azul e com apenas um par de agulhas. ── Reclamou os soltando no chão ── Olá irmã, seja bem-vinda de volta

Soltei uma risadinha
── Olá meninos, vejo que estão bastante ocupados.

── É uma catástrofe! Teremos de ir à cidade comprar mais ── Disse Ernest em desespero.

Os deixo em seus assuntos e caminho até a cozinha onde descubro uma deliciosa torta de pêssego sobre a mesa.

── Vivi, eu cheguei.
De repente ela apareceu. Seu avental estava levemente sujo e os cabelos estavam presos delicadamente em um laço vermelho.

── Aurora, que bom que voltou. Já estava preocupada ── Sorriu gentilmente. Genevieve é apenas dois anos mais nova que eu, tem os cabelos castanhos e mais cacheados que os meus e a pele um pouco mais escura que a minha e apesar de nossas diferenças, muitos nos consideram quase gêmeas. Ela é de casta primaveril e embora não faça parte do grupo de agricultores, trabalha na padaria local com alguns de mesma casta fazendo pães.

── Estive no bosque.

── Você me impressiona, ninguém nunca vai até lá.

── É o que mais gosto ── Ela fez uma careta ── Enfim, há uma matilha de lobos da montanha se aproximando. Devemos acionar as armadilhas.

Genevieve não prosseguiu com o assunto, me fazendo supor que eu mesma deveria acionar as armadilhas sozinha.

── Já podemos comer? ── Questionam os gêmeos sentando-se à mesa.

── Não até o papai chegar ── Respondi os deixando impacientes.

De longe escutei a porta bater levemente enquanto alguns passos cansados se aproximavam. Era nosso pai, Stephen. Tristemente ele nos cumprimenta e devora um pedaço de torta com urgência.

Ele pigarriou até sentir coragem suficiente para dizer:
── Ernest e Austin, vão brincar lá fora. Preciso conversar com suas irmãs.

Curiosos e assustados, eles se retiram e a cozinha se torna apenas um cômodo silencioso, quase oco.

── Meninas, serei direto: não temos dinheiro para mais nada, estamos completamente falidos. ── Suspirou ── Fui até o banqueiro da cidade e ele disse que o palácio cortou os impostos para guardas reais aposentados, muitos do vilarejo também estão sem um tostão sequer.

Estou boquiaberta e quase num solavanco minha garganta se fecha, incapaz de expressar quaisquer palavras busco ouvir pacientemente até o final.

── Consegui guardar algum dinheiro mas conseguirei pagar somente os impostos deste mês e depois mais nada. Não poderemos comprar mais comida, os tecidos para costura de Austin e Ernest, nem roupas novas para vocês meninas. Consegui alguns contatos de famílias em posição melhor que a nossa, cujos filhos ainda estão solteiros e Aurora, por ser minha filha mais velha, terá de casar-se primeiro.

Entendendo o que aquilo significava sinto o chão ruir com o baque da notícia.

── Oh minha nossa ── Choramingou Genevieve quase como um sussurro

── Seu nome é Desmond, é um comerciante dono de muitas terras, há de ser um bom marido ── Ele prosseguiu

Suas ordens não pareciam simples palavras jogadas ao vento, mas lembranças amargas de minha falha ao tentar nos salvar. Há meses eu estava sem trabalho, cuidando apenas dos deveres domésticos da cabana enquanto ele e meus irmãos nos sustentavam.  Como filha mais velha eu falhei.

── Não há nada que possamos fazer?

Ele negou subindo para o quarto. Genevieve chorava tão baixinho que mal pude ouvi-la. Suas lágrimas caíam sem cerimônia em seu avental sujo de farinha me dando vontade de chorar ao seu lado, mas tudo o que fiz foi passar a mão em seus cabelos escuros.

── Vivi, por favor não chore, sei que daremos um jeito.

── Como? ── Ela se ergueu para me olhar, o nariz vermelho como um tomate

── Eu não sei ainda, mas vou descobrir.

Ela acalmou-se aos poucos e naquela noite permanecemos onde estávamos. Sentadas silenciosamente perto da lareira.

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