CAPÍTULO DEZENOVE

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Nas poucas vezes que sinto vontade de adormecer escuto sua voz ao longe me chamando e quando consigo dormir tenho pesadelos tão assustadores que me impedem de acordar

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Nas poucas vezes que sinto vontade de adormecer escuto sua voz ao longe me chamando e quando consigo dormir tenho pesadelos tão assustadores que me impedem de acordar. Após dias vivendo assim, começo a aceitar que é meu destino pagar pelo que fiz.

Sei que minha face está terrível assim que vejo Emerald encarar-me assustada. Desesperada ela corre até mim.

─── Aurora, o que houve com você? Parece que não dorme há semanas! ─── Sinto vontade de chorar ao ouvi-la.

─── Eu estou bem, não se preocupe ─── Hazel me segura pelos ombros até que eu consiga respondê-la decentemente ─── Não consigo dormir desde o ocorrido com Mirna.

─── Não se preocupe, a Mirna está ótima. Bem, não ótima por estar no calabouço mas ainda está viva depois de ter tentado assassinar Vossa Majestade.

Meus olhos enchem-se de água prestes a transbordar. Sussurro em seu ouvido o que fizera na noite de sua morte e o que vira no calabouço. Hazel arregala os olhos sem acreditar.

─── Isto é terrível. Rei Edgar contara para os outros empregados que ela estava segura e sendo devidamente tratada nos calabouços. É o que todos estão pensando neste momento.

Neguei com a cabeça enquanto lágrimas rolavam no meu rosto.

─── É minha culpa, a Mirna está morta e eu que provoquei isso!

Temendo que alguém nos ouvisse, Emerald leva até nossos aposentos. Sentada na cama começo a me acalmar.

Emerald aproxima-se me entregando em mãos um copo de água.

─── Te daria chá com açúcar mas achei que seria tolice ─── Ri amarelo ─── Conte o que está acontecendo

─── Tenho tido pesadelos terríveis em que vejo Mirna, sei que sua morte fôra minha culpa e sinceramente acho que não faz sentido Mirna ter tentado envenenar Príncipe Lyan acredito plenamente em sua inocência e...

Antes que pudesse continuar, ela me interrompe.

─── Espere, a morte de Mirna não fôra sua culpa, você fôra a única com coragem e piedade suficiente para implorar de joelhos diante de Vossa Alteza para que poupasse sua vida. Sinceramente o erro não está em nós ─── Ela sussurra baixinho em meu ouvido ─── Mas sim no Rei.

Um arrepio percorre minha espinha. Quero concordar com suas palavras mas hesito, preciso de algo que mostre-me que Emerald é digna de minha confiança.

─── Sei que todos pensam o mesmo, mas estão amedrontados demais para expressar qualquer coisa. Vossa Alteza sempre fez questão de provar a todos que não pensa duas vezes antes de eliminar qualquer um que atravesse seu caminho, não é a toa que querem matá-lo

Assusto-me com a audácia e coragem de suas palavras mas solto uma risadinha baixa em admiração.

Respiro fundo e digo:

─── Sei que já é tarde, mas gostaria de ter feito mais por ela.

Emerald fitou-me, seus olhos cor de céu revelavam uma seriedade inatingível.

─── Talvez possa ─── Arqueio a sobrancelha e questiono sobre ─── Bem, atrás da estufa, um pouco longe eu diria, estão enterrados todos os nobres de Eastshawn, duques, marqueses e até antecessores do trono. Enquanto os plebeus que morrem são jogados em valas a céu aberto, todos da são enterrados cerimonialmente em caixões de ouro.

Minha boca abre-se em perfeito "o". Ela estaria mesmo sugerindo isso?
─── Está sugerindo que devemos enterrar Mirna neste lugar?

Emerald assente.

─── Depois de uma vida inteira de fidelidade, considero ser o mínimo.

Sua ideia é arriscada, sou incapaz de imaginar o que o Rei fará conosco se descobrir, no entanto não paro de pensar nos extravagantes caixões de ouro que antigos nobres ostentam em suas lápides.

Percebo a imensa insanidade que estamos prestes a fazer somente quando me ouço dizer:

─── Está bem, vamos fazer.

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Assim que escureceu, esperamos o relógio badalar meia-noite e fizemos conforme o plano. Saímos escondidas de nossos postos e carregamos o gélido corpo de Mirna até o cemitério nobre, onde a enterramos em um caixão de ouro.

Antes de ir até o Cemitério Nobre, corto algumas pequenas margaridas da Estufa Real se remorso.

Deposito as margaridas sobre o caixão e afasto-me.

─── Isso é tão injusto, o povo no vilarejo rouba para ter o que comer e a nobreza deita-se em caixões de ouro.

Emerald parece convordar. Seus olhos escuros não emitem qualquer sentimento, além de tristeza e uma acalorada raiva.

─── Nada nesse mundo é justo.

Ficamos em silêncio. Ali, numa lagoa perto ouvimos o coaxar dos sapos e barulhos de grilos. Já está muitíssimo tarde.

─── Emerald, eu gostaria de agradecer por ter feito isso pela Mirna. Embora não tivéssemos uma relação com ela, isso significa muito para mim e sei que para ela também. Agora ela tem onde descansar em paz.

Ela sorri e damos as mãos afetuosamente. Neste momento, lembro de Genevieve e penso no quanto ela e Emerald são parecidas por sua bondade e gentileza.


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