CAPÍTULO VINTE E SETE

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Não sou boa em decorar datas, mas sei que hoje completam exatos cinco meses que trabalho para a família real, cento e cinquenta dias neste castelo

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Não sou boa em decorar datas, mas sei que hoje completam exatos cinco meses que trabalho para a família real, cento e cinquenta dias neste castelo. Há algo diferente na atmosfera, como se tudo estivesse prestes a mudar.

Em minha concepção, os dias tendem a passar mais rápido quando se está feliz, o que em meu caso tem se tornado um hábito desde que conhecera Arawn. Nossas escapadas para o jardim real, logo se tornaram hábitos constantes.

Os serviçais movem-se rapidamente de um lado para o outro, espanam as pratarias e os quadros dos inúmeros salões. A última vez que os vira tão empenhados fôra na organização do baile real.

Bato na porta de Príncipe Caelyan onde, de longe, escuto suas reclamações. Faço reverência
─── Alteza, sua família o aguarda para o café da manhã.

Assentindo positivamente ele diz:
─── Obrigada Aurora, você é uma cavaleira excepcional!

Franzo o cenho. Desde quando Príncipe Lyan ficara tão educado?

─── Quem é você e o que fez com Príncipe Lyan?

Ironicamente ele solta uma risada e debochando ainda mais de minha pessoa, responde:
─── Se não quer ser bem tratada, basta dizer.

Alegremente ele vira no corredor, tão alegre que chego a pensar que o ouvira cantarolar.
Tão estranho.

⊱───────⊰✯⊱───────⊰


Na biblioteca, Derek e a família real discutem arduamente enquanto tomam chá. Não os ouço atentamente para distinguir se o assunto trata-se de um tema diplomático, ou algo cotidiano.

Hazel me cutuca levemente no braço
─── Você assinará o contrato?

Arqueio a sobrancelha
─── Que contrato?

Seus olhos se arregalaram diante de minha pergunta
─── O de aceitação, amanhã aqui no castelol ─── Percebendo que continuo confusa, ela explica ─── Passaram-se cinco meses, este é o tempo de decisão para um cavaleiro real. Estes meses anteriores foram um teste, se passarmos e assinarmos o contrato de aceitação, seremos cavaleiros fixos.

Minha expressão parece petrificada, pois logo em seguida Hazel balança meus ombros, a fim de me chamar a atenção.
Por isso Príncipe Lyan estava tão feliz esta manhã, sabe que meu destino está em suas mãos.

─── É o que estão discutindo aí dentro há horas. Derek nos dará a resposta assim que a reunião acabar.

No exato momento de suas palavras, Derek retira-se do cômodo. Há um papel em suas mãos tal como uma carta. Sei que está prestes a lê-lo pois abre seus óculos em formato de meia-lua, os posicionando no rosto.

─── Aspen Wilde e Rowan Garson, vocês estão aptos a permanecerem na guarda real, parabéns ─── Ambos abraçam-se e correm até Derek apertando sua mão ─── Se decidirem ficar, poderão assinar o contrato de vitalidade amanhã á noite, no salão de festas.

Restam eu e Hazel, ansiosa, ela segura em minha mão.

─── Senhoritas Aurora e Hazel ─── ele ajusta seus óculos lendo a carta ─── Parabéns, vocês estão aptas a permanecerem na guarda real. Se ficarem vão assinar o contrato amanhã à noite no salão de festas, mas se uma de vocês recusar, a carruagem real estará à sua espera para levá-las de volta para casa.

Respiro aliviada, não feliz como Hazel, que após abraçar Derek, pula pelos corredores o mais alto que consegue.
Antes que Derek volte para a biblioteca, o chamo para falar a sós.

─── Derek, perdoe-me pela intromissão, mas por quanto tempo o contrato durará?

Derek parece incerto com a próxima notícia.

─── Oh querida, não há prazo no contrato de aceitação. Se o assinar, valerá até o fim de sua vida ─── vendo minha expressão de choque, ele ressalta ─── Você foi escolhida e demonstrou ser uma cavaleira bastante qualificada, mas agora a decisão é somente sua, se disser "sim", escolherá ficar no Palácio pelo resto de sua vida.

Assenti para ele. De repente os momentos felizes se desmontam como uma taça quebrada.

─── Eu preciso ir, mas você tem até amanhã para decidir.

⊱───────⊰✯⊱───────⊰


─── Irmão, você tem sorte que não estejamos jogando por dinheiro ─── Indaga Príncipe Dominic

Sobrepondo as mãos no rosto, Príncipe Lyan responde:
─── Eu ficaria falido.

Na Biblioteca Real, Príncipe Dominic ganha no xadrez consecutivamente pela quarta vez.
Está começando a ficar triste para Príncipe Lyan. O assunto se desenrola entre os dois, quando de repente, meus olhos avistam pela janela, a chegada de guardas reais montados à cavalo. Parecem comunicar algo importante à Derek e consequentemente a Arawn. Derek arregala seus olhos e corre de volta até o castelo. Sinto que algo pior ainda está por vir.

A porta da biblioteca real é aberta em um estrondo por Rowan e Aspen

─── Majestades, Rei Edgar solicita suas presenças urgentemente na sala do trono!

Os dois irmãos se entreolharam e sem pensar duas vezes, correm até o chamado do pai. Hazel e eu estamos logo atrás, ambas curiosíssima para entender a situação.

Na Sala do trono, Rei Edgar e Derek contam aos Príncipes algo impossível de se ouvir, sussurram temerosamente.
─── O sangue está espalhado por toda região central de Eastshawn, não conseguiríamos nos livrar dele rapidamente, nem se mandássemos as serviçais até lá.

A voz de Derek se intromete
─── O povo não perdoará. Seremos massacrados até o fim do reinado e se não fizermos algo a respeito, poderemos provocar uma revolução

As palavras "sangue" e "Eastshawn" ecoam em minha mente por um tempo prolongado. Como estaria minha família diante disso? Teria sido um massacre? Um assassinato?
Preciso encontrá-los.

Dou meia-volta até a escadaria que alcança o estábulo.
Hazel me questiona ao longe:
─── Aurora, para onde está indo?

─── Até o estábulo real buscar um cavalo, tenho de descobrir o que está acontecendo com minha família.

Hazel corre até mim, tentando impedir minha passagem

─── Este é o trabalho de guardas comuns, cavaleiros como nós devem permanecer no castelo. Se for, Rei Edgar a matará

─── Se algo tiver acontecido com minha família, eu quem o matarei.

Seus olhos se arregalaram. Ela permite que eu siga adiante e assim o faço. Alcanço a guia depressa no corpo de Trovão e subo em sua sela, fazendo com que nos guie o mais rápido possível até o vilarejo de Eastshawn.

Quando nos aproximamos do vilarejo, Trovão diminui sua velocidade. A cena que vejo me deixa horrorizada. As fontes do vilarejos não jorram água, mas um líquido vermelho e viscoso, que fede a podre.
As pessoas ao meu redor, vomitam constantemente, outras permanecem inconscientes no chão.

Sangue. As pessoas de Eastshawn estavam bebendo sangue.

Reino de Fogo e SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora