CAPÍTULO QUATRO

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Sei que caí nas garras ágeis e cruéis do destino quando descobri que deveria me casar com Desmond no outro dia, o atual agora

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Sei que caí nas garras ágeis e cruéis do destino quando descobri que deveria me casar com Desmond no outro dia, o atual agora.

Apressado, ele me avisa de que iria até a cidade para buscar a cerimonialista de nosso casamento, que seria em sua casa, sem convidados, família ou qualquer outra coisa que considerasse luxo. Embora eu nunca quisesse casar-me, nem em um milhão de anos eu seria capaz de imaginar um casamento assim, nesta ocasião tão horrível.

Um pouco mais tarde Desmond retornou. Não vi a cerimonialista consigo, mas também não o questionei. De repente, ao olhar para fora da casa vejo surgir uma criatura sob um manto arroxeado. Ela se aproximou adentrando a casa.
── Olá senhorita Aurora, é um prazer vê-la ── Sua voz é idêntica à de Genevieve, por um momento chego a pensar que poderia ser ela, mas assim que a criatura levanta o capuz enxergo seu verdadeiro rosto. É uma mulher, sua pele é escura como a minha e os olhos são imensamente lilases.

── Sou Trinity, casta lunar ── Um arrepio percorreu meu corpo e rapidamente fiz uma breve reverência. É a primeira vez que me deparei com uma realeza da Baía de Cristais , já ouvi centenas de boatos sobre a corte de Solaria, mas ver pessoalmente jamais ── Vim para celebrar a cerimônia,mas estou encantada com o que vejo ── sorriu ── É a primeira vez que encontro alguém de casta impura.

Sorri amarelo, envergonhada.

── É um prazer conhecê-la Vossa Alteza, mas preciso organizar algumas coisas ── disse embora imagine que ela saiba que estou mentindo.

De repente para minha infelicidade, surge Desmond com sua feição amarga.

── Vi você conversando com Trinity ── Ele diz

── Sim, ela é muito... interessante, eu diria.

Desmond bufa
── Não acredito. Eu a contrato para nossa cerimônia e ela recusa-se a sequer me olhar nos olhos, mas bastou vê-la para se tornar falante.

Ele torceu o nariz enraivecido. Por instantes deixei meus olhos passearem por sua casa, analisando cada mínimo detalhe a fim de entendê-lo. Desmond é um ser horrível e desprezível, disso não tenho qualquer dúvida, mas por que eu deveria ficar? Por que devo ser castigada pelos erros de meu pai?

De repente me surgiu uma tola ideia de pedir para que cancelasse o contrato com meu pai e me deixasse ir. Eu daria um jeito de pagar a dívida.

─── Desmond, gostaria de lhe fazer uma proposta.

Ele virou-se atentamente.
── O quê poderia ser?

── Desmond, não posso e não quero me casar com você. Sei que fez um acordo com meu pai, mas acho que podemos resolver isto de outro modo. Posso trabalhar para você, se preferir, mas apenas isso.

Seus olhos arregalam-se como se fosse incapaz de crer em minhas palavras.

── Você não é capaz de tomar tal decisão, por isso tratei com seu pai.

── Case-se com ele então, eu não me importo ── Rebati saindo pela porta quando de repente, senti sua mão agarrar meu pulso.

─── Você ficará e será minha esposa.

Ele ordenou ríspido. Tentei tirar meu pulso de sua mão, mas quando vi que Desmond não me soltaria tão cedo, uma onda súbita de raiva e rancor se apossou de mim e quando vi, meu punho havia acertado seu rosto.
Sua respiração ficou pesada, o rosto estava carregado de ódio. Desmond me puxou fortemente até o outro cômodo e quando chegamos perto de seu porão ele disse:
─── Fique aí um pouco e pense no que fez. Sairá somente quando for uma boa esposa.

Ao me soltar, Desmond me empurrou para dentro do cômodo sem hesito. Ouço sua chave virar dentro da fechadura indicando que me trancara. Bato na porta, pedindo para que me solte e me deixe ir, mas sem sucesso. Algumas horas após meu trancafiamento desisto de pedir por ajuda e me calo, ficando estática naquele lugar empoeirado e escuro.

De repente, uma chave é introduzida na fechadura e quando a porta do porão é aberta encontro-me não com Desmond, mas com Trinity.
Sussurrando ela disse:
─── Venha rápido, ele pode acordar.

Não hesitei em correr para longe dali logo atrás dela. Subimos na carroça de Desmond e Trinity nos guiou rapidamente. Quando a casa de Desmond desapareceu no horizonte é quando finalmente senti coragem para questioná-la.

─── O quê houve com Desmond?
Perguntei, embora não estivesse nem um pouco preocupada com seu bem-estar.

─── Bati nele com uma cadeira até deixá-lo desacordado.

Minha boca abriu-se em um perfeito “o”. É estranho como as coisas acontecem tão rápido. Por pouco quase me casei com um estúpido da cidade e agora estou atravessando a floresta com uma realeza sem sequer saber para onde vou.

Quando Trinity vê que estamos longe o suficiente, ela desacelera com a carroça.

── O Conselho irá me matar ── Ela resmunga

── Do que está falando, Alteza?

── Eu não deveria tê-la ajudado, quando fiz isso alterei o futuro, mudando assim toda a sucessão de acontecimentos que viriam a seguir e se o Conselho descobrir o que fiz... ── Explicou

── O que irão fazer com você?

Ela não respondeu, indicando que não sabe. Há um silêncio ensurdecedor entre nós.

── Vossa Alteza, perdoe-me por parecer rude mas  você não deveria saber de tudo? Afinal, o poder mais conhecido da sua casta é prever o futuro ── Pergunto

── Não é assim que funciona. Todos pensam que prevemos o futuro mas nós apenas vemos caminhos. Para cada ação há uma reação ─── sinto uma gigantesca vontade de questioná-la sobre minhas mais diversas dúvidas, mas antes que abrisse minha boca, Trinity completou ── Sei que quer fazer muitas perguntas, mas algumas coisas precisam ser preservadas. Pergunte se realmente for importante.

Então perguntei:
── Desmond virá mesmo atrás de mim?

Tristemente, ela acenou positivamente. No mesmo instante a carroça parou.
── Seja bem-vinda.

Os portões de ferro à nossa frente são abertos por guardas, me revelando uma visão nunca antes vista. A mansão de Trinity possui varandas belíssimas, pátios e um jardim quase mágico com violetas e hortênsias.

── Onde estamos, Alteza?

Trinity sorriu orgulhosa.
─── Em uma de minhas propriedades em Eastshawn. Fique durante o tempo que precisar, você passou por muita coisa.

Sorri para ela a agradecendo o máximo que podia, não por ter me trazido em uma de suas requintadas mansões, mas por ter me salvado.


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