O PRIMEIRO LIVRO DA TRILOGIA DOS REINOS
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Mundos tão opostos poderiam lutar contra seus desejos para salvar o reino que tanto amam?
Aurora vive no vilarejo com sua família e despreza a realeza por sua omissão e comportamento frívolo. Ao descobrir...
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Não conto a ninguém sobre o que aconteceu na noite passada. Sei que se tivesse o feito ao meu pai, ele apenas me mandaria não andar tão perto dos becos do vilarejo. As autoridades não fariam nada a respeito e Genevieve estava desolada o bastante após a família real ter concedido vitória a outra rainha de desfile.
Sempre estive ciente de que causava certa repugnância aos aldeões por não pertencer a uma casta, por não possuir um dever a ser cumprido e principalmente, por não precisar atender aos caprichos reais. No fundo, sinto suas faíscas de inveja me atingirem. No entanto, nenhum deles chegara a fazer o que aquele desconhecido tentara. Ainda sim, meu maior arrependimento foi não tê-lo matado.
Não quero sair da cabana e portanto decido permanecer onde estou. Desço as escadas para tomar o café da manhã, pão com manteiga como sempre, suponho. Genevieve estava sentada à mesa com papai, mas parecia tão amarga quanto ele. Digo “bom dia” aos dois, mas sem resposta. Sei que Genevieve está petrificada o bastante para sequer compreender o que acontece ao seu redor, quase em estado de choque. Eu não a julgo, mas papai está apenas em seu humor habitual:
Acho que a qualquer momento serei engolida pelo silêncio.
Escuto distantemente relinchos de cavalos, uma carroça se aproximava. Mãos persistenres socam a porta, em desespero. Meu pai se levantou da cadeira e cantarolando baixinho abriu a porta para o estranho. Não é muito alto, tem cabelos castanhos e uma barba rala. Sorri com exagero, mas não me parece agradável ou gentil.
Meu pai diz: ── Aurora, este é Desmond ── O homem levanta-se e aproxima-se de mim. Estendo minha mão para cumprimentá-lo com um aperto, mas ele a puxa e despeja um beijo rápido. É molhado e um pouco asqueroso.
── É um prazer conhecê-la, seu pai falou-me muitas coisas a seu respeito ── Ele dá uma risadinha. Não consigo fingir contentamento com sua presença.
── Conversando com seu pai gostaria de mostrar-lhe minha casa que logo será sua também. Isso se seu pai permitir-me, claro.
Há muitas informações para assimilar, casas e permissões, estou quase zonza mas meu pai apenas concorda com sua proposta. Embora meu pai jamais tivesse questionado minha opinião em qualquer ocasião, somente uma vez, eu gostaria de que ao menos concedessem-me a oportunidade de me expressar.
── Eu... preciso ir até meu quarto trocar de roupa ── Minto. Os dois concordam.
Subo apressadamente para meu quarto arriscando-me saltar pela janela e fugir o mais longe que posso. A altura é pouca, se saltar não irei me machucar gravemente, talvez apenas alguns arranhões apareçam mas antes de tomar minha decisão penso em Genevieve e os gêmeos. São jovens, enquanto eu, como filha mais velha possuo responsabilidades com as quais arcar, odiaria ver Genevieve passando pelo mesmo que eu.
Suspiro profundamente.
Dirijo-me até a porta para descer às escadas quando deparo-me com a visão de uma Genevieve muito insatisfeita. Corpo enrijecido, mãos atrás das costas e as sobrancelhas retorcidas.
Ela diz: ── Eu sei o que está fazendo. Pare, pare agora com esta maluquice!
── Não sei do que está falando.
── Você não quer casar-se com aquele homem, está se sacrificando porque quer que eu e os gêmeos possamos ter uma vida melhor, sacrificar sua liberdade assim de modo tão cruel não adiantará de nada. Logo mais papai planejará me casar também.
── Não irá, conversarei com papai. Casarei apenas com a condição de que vocês possam escolher o que fazer com suas vidas.
── Isto não é apenas por mim ou por Austin e Ernest, papai concordará agora mas ele mentirá, aliás, é só o que ele vem fazendo há anos ── Ela diz entregando-me minha antiga espada com sua bainha ── Lembra-se disto? Papai dissera que havia perdido mas a encontrei em seu armário. Tudo isto para que não tenha nem com o que se defender.
Mal posso acreditar em suas palavras. Pego a espada a segurando firmemente desejando que tudo o que dissera seja apenas uma mentira para que eu não vá, Genevieve no entanto, sequer fôra capaz de mentir para mim, independente da ocasião.
── Você não se questinou do porquê deste tal de Desmond ainda estar solteiro com tantas moças no Reino em "época" de se casar? Soube por muitos no vilarejo que ele sequer pensa duas vezes antes de levantar a mão para suas noivas.
Bufei
── As pessoas no vilarejo mentem ── Me direciono até a porta, mas ela subitamente atravessa minha passagem ── Genevieve ── Digo impaciente ── Eu sou sua irmã mais velha e como tal tenho o dever de fazer o que é melhor para você e nossa família. Se meu pai mentiu para mim, eu aceito. Acredito que tenha tido um bom motivo para tal feito, mas não posso ver nossa família se empobrecer a cada dia que passa sem fazer algo a respeito.
Seu rosto se contrai
─── Por quê Aurora? Por que ainda prefere acreditar nele quando tudo o que tem feito é nos afundar em dívidas com sabe-se lá o que? Nunca vimos uma peça de ouro entrar nesta casa, ele nunca nos deu explicação sobre nosso dinheiro ─── Suas mãos coradas seguram as minhas em súplica. Vejo uma farta lágrima surgir em seus olhos ─── Nosso dinheiro, Aurora. Meu, seu, de Austin e Ernest que mamãe nos deixara antes de partir.
Desta vez sou eu quem está prestes a chorar. Mamãe: apenas uma palavra vazia para mim.
─── Ela deixou de ser nossa mãe quando nos abandonou. Nosso pai ficou por nós e nos acolheu durante todos esses anos. Deveria ser mais grata ─── me solto bruscamente ─── Agora saia da minha frente
Não consigo acreditar no que dissera até ouvir o som das palavras saindo da minha boca. Sua expressão ficou pálida e como pedido, Genevieve se distanciou da porta.
Desço às escadas e acompanho Desmond até sua carroça e de relance consigo enxergar Genevieve na janela, seu olhar implora para que eu não o acompanhe mas já é tarde assim que Desmond nos guia para longe.
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Nosso percurso não fôra rápido e tornara-se cada vez mais longo assim que Desmond começara a contar sua tediosas histórias sobre compra de terras e suas antigas noivas. Procurei apenas fingir que o escutava quando na verdade meu pensamento estava apenas em Genevieve e o que dissera. Sinto um aperto em meu coração somente de lembrar a expressão desolada em seu rosto.
Já era tarde da noite quando chegamos em sua casa, não era nenhum pouco como as cabanas do vilarejo com as quais estou acostumada, é grande e rústica.
── O quê você acha? ── Ele me pergunta pela primeira vez.
Não hesito em lhe responder: ── Está sujo.
── Você cuidará disto ── Confusa volto a direcionar-lhe a palavra: ── Você não tem empregados? Ele ri alto mas não como se eu estivesse contando uma piada e sim como se eu fosse a piada.
── Por que contratar empregados se terei minha querida esposa para fazer isto?
Então, subitamente desejo ir para casa mas agora não há mais volta.
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