CAPÍTULO TRINTA E TRÊS

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Pisco os olhos quando um feixe de luz atravessa meu rosto. Quando realmente acordo, não me sinto viva, mas sim em um estágio entre estar desacordada e quase morta.

Não estou morta porque minha cabeça lateja muito, como se tivesse levado uma pancada na cabeça. Sei também que onde quer que estivesse eu estava só. Não havia mais ninguém ali comigo. Parece que estou dormindo há dias, mas quando percebo que ainda é de manhã, compreendo que talvez tenha apenas adormecido por uma hora, ou duas no máximo.

Noto que estou em uma carruagem assim que ela parou abruptamente e um cavalo relincha. Ouço passos se aproximando e a porta da carruagem é aberta pelo mesmo homem que estava acompanhado de Desmond.

O juiz não era apenas velho, mas meio irritado. Seus olhos me fitavam como se esperasse por algo de mim, mas droga, eu estou algemada e acabei de acordar.

─── Não irá me reverenciar? ─── pergunta. Minha vontade é de rir, não por ser engraçado debochar de um nobre, mas por ele fazer tanta questão ─── Sabe que sou eu quem irá julgá-la, certo?

Minha boca finalmente se abre, não para pedir perdão, nunca para pedir perdão.

─── Que se dane, eu vou morrer de qualquer jeito.

Sua expressão permanece imóvel, mas não nega. Sei o que acontece nesses julgamentos desde que me entendo por gente, principalmente se for de classe baixa na hierarquia. Ou morte, ou confinamento eterno.

─── Espertinha ─── diz. ─── Permito que durma durante um dia inteiro e é assim que me agradece?

Franzi o cenho.

─── Eu não dormi por um dia inteiro. Ainda está de manhã.

─── É a manhã do outro dia, Aurora.

Meu estômago se revirou. Eu havia adormecido tanto assim? Que seja. Olho para os lados,procurando alguma coisa que me dissesse onde estou.

─── Ainda está em Eastshawn, se é o que quer saber ─── menciona o juiz ─── É a região mais afastada do centro que faz divisão com o reino de Dallius. Por isso a demora na viagem. Deveríamos tê-la levado até Solaria, para ser julgada pelo Conselho, mas estão ocupados com nossos soberanos. Então será julgada pelo povo do vilarejo.

Sei que tenho problemas maiores no momento, mas não consigo ignorar o modo com que diz “divisão” quando na verdade Eastshawn colonizou a antiga Dallius, deixando apenas um pequeno pedaço que chamam de “reino”.

Desmond surgiu logo adiante. Parecia satisfeito em me ver tão desconcertada.

─── Majestade, está na hora.

Os sinos da igreja soaram altivamente, anunciando minha chegada, supus. O juiz a adentrou enquanto Desmond me escoltava para dentro. Aquele pedaço de terra estava vazio. Onde estão os habitantes daqui?

Quando as portas são abertas minha pergunta é enfim respondida, porque ali diante de mim estavam presentes todos os habitantes do vilarejo sentados em largos bancos de madeira. Para me ver ser julgada. Para me ver sofrer. Fiquei tensa ao entrar no local.

As algemas de repente começaram a ficar folgadas em comparação aos olhares cruéis que me eram lançados. Quando me dei conta, estava em cima de um palco ao lado de Desmond e o juiz.

─── Cidadãos de Eastshawn do Vilarejo Três ─── anunciou o juiz ─── Estamos aqui para iniciar o julgamento de Aurora Archandra, acusada não somente de roubo, mas também de agredir seu noivo,Desmond.

Sussurros e gemidos espantados foram audíveis. Não se defenda,não adiantará de nada, sussurrou uma adormecida parte de mim, logo ignorada.

─── Isso não é justo! ─── berrei enquanto me debruçava sobre as mãos de Desmond, que insistia em me segurar pelos braços ─── Foi em legítima defesa e ele tentou me prender em seu porão!

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