Reino de Fogo e Sombras

PRÓLOGO

AURORA

Aurora é a claridade visível no céu antes do nascer do sol. Indica o começo do dia. É o começo da alvorada. É belíssima. O simples começo de manhã nos invernos hostis e traiçoeiros de Eastshawn, tornam o alvorecer algo maior do que supõe-se ser. É uma esperança. Prefiro pensar que meu nome signifique isto, esperança de um novo amanhecer. Muito embora saiba que sua origem viera de uma homenagem aos céus de aurora boreal que meu pai dissera ter visto quando nasci.

Nunca as vi, somente quando criança nas pinturas requintadas que meu pai gostava de fazer. Não é tão bonita quanto achei que seria, ou talvez suas pinturas fossem modestas.

Aprecio a primavera e o outono e embora apenas suporte o verão, é o inverno que possui minha total afeição e estima. O vento gélido contra minha face. O azul safira que domina os céus. Os flocos de neve que caem durante a temporada de nevasca. O monte impenetrável de neve sobre meus pés, quase implorando para que fique, pois é ali onde gostaria de pertencer.

Em Eastshawn o inverno pode ser um evento mágico e deslumbrante se estiver na posição alta da hierarquia, mas também um espetáculo cruel e impiedoso, caso contrário, como alguns de nós, ou muitos de nós. Na Baía das Safiras, o inverno não é apenas mais rigoroso. É um castigo para aqueles que não possuem condições para se proteger ── uma armadilha alva e bela ── como os de baixa posição na hierarquia. Nos bosques invernosos de Eastshawn, nós somos meras presas, alheias aos perigos e incertezas.

Quando os pequenos flocos de neve se deparam contra minha pele enfraquecida, alço meu capuz de minha capa azulada para me proteger da nevasca que se aproxima. Os lagos límpidos que costumavam abrigar as folhas caídas das árvores, agora não passam de pedras congeladas e estáticas. Não há mais flores, plantas ou qualquer tipo de vida inofensiva.

Nas montanhas, ouço um uivar anfigúrico, porém distante. Anúncio de que os lobos das montanhas se aproximam em busca de sua comida. Sem gracejos, andei rapidamente de volta até nossa cabana.