TRÊS

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Capítulo superficialmente Revisado.

Boa leitura!!!

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Fixei meu olhar enviesado na imagem refletida no espelho, mergulhando em uma profunda introspecção.

Os contornos do meu corpo revelavam uma presença indesejada, uma constante lembrança de imperfeições que decidiram emergir no exato momento em que recebi o convite de Guilherme. A ironia perversa do destino não passava despercebida: aquele que me oferecia segurança também iluminava minhas inseguranças internas, trazendo à tona os problemas que insisto em esconder sob uma rotina meticulosamente estruturada e camadas espessas de autoestima fabricada.

Cada curva, cada sombra, cada detalhe imperfeito parecia conspirar para minar minha confiança, enquanto o convite de Guilherme ecoava em minha mente, desafiando a fachada de força que eu havia construído.

De repente, meus cabelos castanhos parecem feios demais, meus olhos verdes agora parecem estranhos e minhas sobrancelhas estão muito grossas. Sinto uma necessidade urgente de mudar tudo isso, buscando alcançar a perfeição que tantas pessoas possuem. Mais uma vez, estou desvalorizando minhas características naturais para agradar aos olhos dos outros.

Devo admitir que é extremamente deprimente, sendo totalmente sincero comigo mesmo.

Sinto-me completamente deslocado. Eu acredito que as pessoas deveriam me aceitar pelo que sou de verdade, e não por uma imagem falsa que tento projetar para esconder meus medos e inseguranças. É como se eu fosse uma fraude, mas não vejo muitas opções para mudar isso. Parece ser a única maneira de ser algo mais aos olhos de Guilherme. Se eu continuar sendo o mesmo Tiago de sempre, tenho certeza de que ele nunca me verá como algo além de seu primo, no máximo como um irmãozinho. Odeio ser apenas o primo mais novo que ele considera um irmãozinho. Se ao menos eu pudesse ser isso e também... Gostaria de ser mais do que isso.

O grande problema é que ele é hétero e meu primo. Ele nunca me enxergaria como algo além disso, e não posso dizer que ele está errado. Sinto-me repulsivo por ter esses pensamentos. Se ele pudesse ler minha mente, ficaria enojado em ver o que passa por ela, mesmo que por alguns instantes. Jamais me olharia novamente com seus olhos azuis, e se o fizesse, seria apenas para me lançar uma expressão de nojo. A mesma expressão que tio Roger e Nataniel me dirigem gratuitamente..

Uma vontade súbita de socar meu próprio reflexo tomou conta de mim. Poderia quebrar o espelho, mas mesmo assim não conseguiria me reconstruir de uma maneira mais agradável aos outros. O espelho nunca ficaria perfeito depois de ser destruído. Nada se torna bom após ser quebrado, apenas revela o quão horrível era e piora ainda mais a situação.

Uma verdadeira colcha de retalhos.

Viro meu corpo em direção à minha mesa de cabeceira, encontrando ali um retrato dos meus pais. Na foto, vejo os dois aparentemente felizes em uma praia. Pego o retrato e examino cuidadosamente:

"De Mariano Santana Nigro, para o nosso pequeno chutador."

É a frase escrita em tinta azul na imagem, que de certa forma tira um pouco da perfeição dela. Mariano... O nome do meu pai. É engraçado que a mensagem não menciona minha mãe, Geovana. Na foto, meu pai está usando uma tatuagem no ombro. É uma data, 2009. Nunca descobri a razão pela qual essa data está tatuada nele, mas sempre imaginei que fosse por um bom motivo.

Eu queria ter perguntado a ele. Mas pouco antes deles falecerem, eu fui morar com minha avó paterna. Acabei perdendo completamente o contato com eles. Parentes diziam que eles estavam se divorciando, pois minha mãe e eles não se ajustavam.

Amor Entre Ondas - Histórias Baianas • Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora