VINTE

40 4 0
                                    

Esse capítulo foi revisado superficialmente.

Mal preguei os olhos. 

O dia da viagem do Guilherme chegou e passei a madrugada em claro, roendo as unhas e pensando. Apenas pensando, conjecturando e depois remoendo tudo isso com o tempero que é o medo do iminente. Sofrer por antecipação está se tornando um hábito.

Controlo minha respiração, para não começar a surtar e ter um ataque de choro daqueles. Ainda penso em como terei que forçar meus sorrisos enquanto meu namorado prepara as suas coisas para viajar.

Uma semana no Rio de Janeiro... 

Dizem que as mulheres cariocas são bonitas.

E se... E se... E se... E se...

São essas possibilidades que me quebram a todo instante. 

Imaginar mil e uma possibilidades terríveis para essa viagem destruiu minha sanidade. Chega a ser incrível como o Guilherme e eu já discutimos algumas vezes por conta desse assunto, como uma semente de discórdia colocada em nossa relação. Ou, talvez eu esteja criando tanto caso por nada.

Mas eu nunca fiquei sem o Guilherme.Tenho tanto medo do que pode acontecer até ele voltar... 

Por isso, demoro a acordá-lo. Apenas olho para seu rosto angelical, aproveitando a sensação gostosa de seu corpo quente abraçando o meu. 

Como ele poderia se considerar feio?

O Guilherme é simplesmente perfeito para mim; tudo nele é belo, admirável, e até seus "defeitos" são... São aqueles pequenos defeitos que muitas vezes são encantadores e engraçados.

Toquei seu rosto e senti a barba por fazer; os fios loiros espetavam a pele da minha mão. Passei meu polegar por seus lábios vermelhos escurecidos pelo cigarro. Quanto tempo conseguirei resistir a não beijá-lo antes de dormir? Não tê-lo me roubando selinhos quando estou distraído, a delicadeza de sua boca atacando meu pescoço…

Estou tão disperso que só vou notar que ele abriu os olhos, quando ele pisca algumas vezes, me analisando. Carrega um olhar sereno, como se sentisse uma paz indescritível. 

Não falamos nada um para o outro. O prazer ficou em curtir a presença, o cheiro, o toque, o calor e todas as sensações físicas e não palpáveis daquela interação silenciosa. E aos poucos o tempo foi passando, me fazendo esquecer da viagem.

Guilherme também não fez menção de se levantar. Pelo menos até a hora em que o despertador iniciou seu toque contínuo. Suspirei quando senti meu namorado beijar minha testa, e então deslizar para fora da cama e ir em direção ao banheiro. Poucos segundos depois, a água começou a cair sem parar lá dentro.

Preciso fazer algo para não deixar claro que estou contra a ideia da viagem.

Vou preparar um café da manhã bem reforçado para ele. 

Levanto da cama como um zumbi recém-transformado. A cada passo, parece que minhas energias são drenadas ao ponto da quase exaustão. Minha primeira ação na cozinha é forçadamente tomar uma grande xícara de café preto e sem açúcar, chegando ao ponto de cuspir o resto na pia. Comer à força sempre me deixa com uma repugnância estranha depois.

Vi a animação do Guilherme, entrando e saindo dos cômodos. Nataniel acordou com toda a sua alegria e os dois engataram em um papo tão "amigável", que cheguei a esquecer que nós temos problemas de relacionamento com o Natan. Também me fez sonhar, imaginar um futuro onde nós três possamos nos dar bem, sem intrigas e brigas. 

Amor Entre Ondas - Histórias Baianas • Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora