ONZE

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Capítulo revisado superficialmente

•••

Imaginei que a conversa seria rápida. Tudo seria decidido da maneira mais simples possível, eficaz e com certeza, sem benefício algum para a minha pessoa.

Mas eu me enganei.

Os minutos passaram. Mais de uma hora se passou, e eu comecei a me preocupar com o bem estar do Guilherme. Pior, comecei a pensar que ele desistiu de nós. Que eles conseguiram o convencer a terminar o que mal começamos.

Mas quem sou eu para cobrar?

Seria hipócrita se eu não assumisse que a ideia de terminar com ele para me preservar, se passou pela minha cabeça. Naquele momento em que fomos pegos, quando eu comecei a falar e o desespero assumiu os traços leves do rosto dele... Seria justo se ele tirasse o dele da reta.

Entretanto, eu pensei mais no bem estar dele do que no meu quando quase cogitei um término. Pensei em todos os percalços que podem surgir na vida dele, apenas por me amar. Toda a homofobia que ele teria de enfrentar. Não posso deixar ele passar por isso, como eu passei. Muito menos ouvir palavras duras de seu próprio pai.

Mas é muito estranho. Eu sempre tenho esses ímpetos de coragem. Uma parte de mim quer descer e ir atrás deles para proteger o Gui, porém, só de me imaginar enfrentando uma situação como essa, minhas pernas ficam bambas. É daqueles casos onde o seu coração quer algo, mas seu corpo não deixa. Nesses momentos, eu queria ser como o Lúcio. Cheio de coragem, força para se impor e não deixar o medo ditar o que ele deve fazer.

Infelizmente, eu não sou. O medo sempre vai me afogar, como uma onda enorme e me levar para o meu cantinho miserável de covardia. Pensar em abrir a porta, enfrentar o Natan do outro lado, descer as escadas e enfrentar os meus tios... Caramba, eu não consigo!

Que tipo de namorado eu vou ser?

Do tipo que não enfrenta nada por quem ama?

Estou me sentindo tão impotente.

Deito em minha cama e sinto minhas pálpebras pesarem. Não posso resistir a esse cansaço, nem para o que preciso fazer. Por isso, apenas fecho meus olhos e me entrego à escuridão, momentaneamente.

Até que alguém começa a bater na porta. Batidas fracas, porém constantes. Olho para o meu relógio digital, não dormi nem meia hora direito e ainda sinto sinais de cansaço em meu corpo. Bocejo, enquanto começo a coçar meus olhos e presto atenção na porta. A pessoa parou de bater um pouco, depois retornou a bater.

Tenho medo que seja o Natan.

Vou até a porta e encosto minha orelha nela, ouvindo uma respiração ofegante. E minha intuição indica que é o Guilherme. Abro a porta. Dito e certo.

Ele está suado, com uma expressão cansado no rosto, embora um sorriso sutil suavize os traços pesados de exaustão. A coisa foi feia. Digo isso pois ele está suado, mesmo que usando uma camiseta eu podia ver as gotas de suor escorrendo pelos seus braços e o tecido colado no seu peitoral.

Dei espaço para ele entrar, foi direto para minha cama e se sentou. Deixou sua cabeça pender para baixo, os cotovelos apoiados nos joelhos e as mãos segurando a cabeça. Me olhou serenamente e falou:

- Fecha a porta, amor. - Senti um alívio quando ele me chamou dessa forma.

Fechei a porta rapidamente e a tranquei. Andei em sua direção, toquei sua camisa e fiz menção de a puxar. Entendendo, ele levantou os braços e me deixou tirar. Liguei o ventilador, deixando em sua direção. Seus cabelos começaram a mexer por conta do vento. Pude ver ele relaxar, movendo os ombros para dissipar a tensão:

Amor Entre Ondas - Histórias Baianas • Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora