VINTE E UM

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Capítulo revisado superficialmente, caso encontre algum erro, indique e será devidamente corrigido


Fitei a tela do celular.

Meus olhos se encheram de lágrimas ao sentir a ausência do Guilherme. Lembrar que não havia contado sobre as ligações adiciona mais um peso de culpa aos meus ombros. Esconder mais uma coisa será motivo de outra briga em nossa relação.

A gente não briga por traição, coisas tóxicas ou nos machucamos fisicamente. As discussões são porque eu sempre tento resolver tudo sozinho, meio nessa vibe de herói. Mas será que dá pra ser o herói da própria história, ainda mais na minha situação? O Guilherme sempre mandou bem nisso, mas agora estou tentando assumir o controle.

Seco minhas lágrimas usando minhas mão e tento forçar aquela cara ridícula de choro se tornar uma de seriedade. Não sei se consegui, mas minha última medida antes de voltar para casa foi fechar a oficina. Minha cabeça o tempo todo no celular que a essa altura já não notificou nenhuma ligação.

Ainda assim os números pareciam impressos em meus olhos. Toda vez que minhas pálpebras se fechavam, eu tinha um vislumbre rápido do número.

Subo as escadas e passo direto para o meu quarto. Ignoro o olhar matador do Nataniel em minha direção, também finjo não ouvir a sua pergunta sobre a localização do Guilherme. De certo, ele planeja me fazer alguma coisa e está se certificando que o Gui não vai aparecer para atrapalhar.

Ligo meu celular outras vezes e vou diretamente para o meu histórico de ligações. Meu dedo treme ao apertar para retornar, sinto que estou traindo o Guilherme por não estar contando a ele sobre o número,  só que é tarde. Poderia ligar para ele? Sim. Mas o medo de estragar a viagem dele com meus problemas faz minha mente trair essa vontade.

Aperto no símbolo do telefone ao lado do número. Escuto o barulho da ligação em chamada e um frio na barriga quase me faz correr em direção ao banheiro. Respiro fundo e fecho meus olhos, o som da chamada ecoa pelos meus ouvidos quase me deixando em transe.

É quando uma voz de uma mulher já idade atinge meu ouvido direito, arrancando-me daquele estado de agonia silenciosa:

Alo, Tiago?

Demorei em dar uma resposta, mas quando deixei minha voz sair, foi um misto de grunhindo e um choro preso:

— É ele sim... — molho meus lábios que minha língua? — Você me ligou, desculpe se estou sendo um pouco rude, mas queria saber de onde você me conhece.

Ô meu menino! Sabe o quanto eu queria ouvir sua voz? Da última vez que te vi você parecia um animalzinho enrugado nos braços de sua mãe.

Engoli em seco. Ergo um dos braços na altura do meu peito e o uso para escorar minha mão que segurava o telefone. Sinto que poderia deixá-lo cair a qualquer instante.

Muitas perguntas vieram à minha mente, a maioria delas enviadas pela emoção de ouvir alguém falando como se conhecesse minha mãe. E o mais estranho é a forma íntima da mulher em relação a mim, todo esse carinho no jeito de falar e até a emoção contida em suas palavras.

Busquei um norte em meio aos pensamentos:

— Perdão... Você conhecia a minha mãe?

Muito bem na verdade! Acho que não tem pessoa que conhecia melhor da mãe do que eu — riu largamente, me fazendo estranhar. — Meu nome é Luciene. Sou tia da sua mãe, talvez você não lembre de mim.

Amor Entre Ondas - Histórias Baianas • Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora