Capítulo 18

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Anastasia Steele

Eu sempre soube que a medicina não seria fácil, ainda mais quando optei pela neuropediatria. Mas tem alguns dias que são mais difíceis que o normal. Hoje a maioria dos pacientes que atendi sofriam de alguma doença grave e mais do que atender os pequenos é preciso tratar todo aquele núcleo familiar que também adoece com a crianças.

Meu dia foi recheado de histórias tristes, mas com muito amor e superação no consultório. E normalmente isso não mexe tanto, porém depois de termos perdido um bebê na emergência por maus tratos dos pais, tudo se tornou mais intenso.

E no meio disso tudo, Christian ficou me mandando mensagens. Confesso que isso até me arrancou alguns sorrisos, tá, para ser bem honesta eu gostei bastante, principalmente quando ele me mandou aquela foto com o filho. Léo parecia bem, parecia um menino diferente das outras vezes que vi.

Só que eu não esperava era que Christian estaria me esperando mais uma vez no saguão.

— Droga. — Isa protesta.

— Me deve cinquentinha. — Renata diz rindo e eu as encaro sem entender — Eu disse que ele voltaria. — ela me manda um beijinho enquanto as duas se afastam.

Suspirando vou até ele, mas sou pega de surpresa quando com o maior dos sorrisos no rosto Christian me entrega uma cópia da entrada oficial do divórcio. Não posso negar que meu coração se aqueceu pelo fato de ele ter vindo aqui só para me mostrar isso, mas ainda assim eu tinha meus receios.

— Acredita em mim agora?

— Christian, — digo em um suspiro — não é tão simples assim.

Ele tenta se aproximar, mas eu me afasto, preciso lembrar que estou no meu ambiente de trabalho.

— Em nenhum momento eu menti para você. — cruzo meus braços e o encaro séria — Tá, eu posso ter sido um filho da puta, por ter permitido que minha ex fizesse um show. — ele passa as mãos pelo cabelo — Você mexeu comigo desde aquele primeiro encontro. — ele tenta colocar meu cabelo atrás da orelha, mas eu me esquivo.

— Eu preciso pensar, preciso de um tempo pra entender tudo isso.

— Claro. Eu entendo. — ele se remexe desconfortável, acredito que seja pelas pessoas que estão entrando e saindo — Eu só vim mesmo na intenção de te mostrar que eu fui sincero em cada palavra Ana.

— É melhor você ir. — digo entregando os papéis, mas sou pega de surpresa quando ele deposita um beijo delicado em meu rosto, bem no canto dos meus lábios.

— A gente se fala. Te dou o resto da semana para pensar, se você não me procurar eu volto. — sussurra em meu ouvido.

— Tchau, Christian.

Me afastei dele e segui para meu carro sem olhar para trás. Assim que entrei no veículo soltei a respiração que eu nem sabia que estava segurando. Tento esvaziar a minha mente enquanto eu sigo meu caminho até em casa, mas não consigo. Tantas coisas passavam pela minha mente, tantas inseguranças.

Quando cheguei em casa, minha mãe estava no sofá com seu chimarrão vendo o noticiário.

— Oi filha, como foi teu dia?

— Cansativo. — solto meus pertences no aparador, mas não deixo de notar seus olhos sábios me encarando.

— Vai tomar teu banho, enquanto eu esquento a tua janta. Depois tu me conta tudo.

E foi exatamente isso que eu fiz. Tomei um banho quente e demorado, vesti meu pijama e quando voltei para a sala o aroma delicioso estava por todo canto.

— Com esse frio que tá eu fiz uma sopa pra nós. — explica ela colocando o prato fumegante a minha frente.

— O cheiro está perfeito, mãe. E o sabor, hum.... — digo depois de provar e ela ri.

Depois de comer o dobro que deveria me acomodei ao lado da minha mãe sob as cobertas.

— Agora me conte, meu amor.

— Ah! O dia foi todo difícil hoje sabe. Por mais que seja parte do meu trabalho lidar com a morte, quando acontece me dói.

— Isso é porque você se importa com suas criancinhas. Mas algo me diz que não foi só isso que aconteceu.

— Você lembra daquele cara que te falei?

— Do bar em São Paulo, que tu viu com a mulher?

— Isso. O nome dele é Christian. Ele foi no hospital ontem — ela me olha confusa — ele queria me explicar toda essa confusão.

Vou relatando a minha mãe tudo o que dissemos ontem. Como me senti e também o que pensei. Dona Carla não diz nada e muito menos entrega algo em sua expressão.

Digo também da esposa maluca e de seu jeito durante o atendimento do Léo.

— Ele estava lá na frente hoje, de novo. — pela primeira vez vejo um sorriso no rosto da minha mãe — Ele foi até lá porque queria me provar que não mentiu. — vejo a confusão em seu olhar e me apresso em explicar — ele levou uma cópia do documento do processo da separação dele.

—E? — pergunta ela.

— E o que, mãe?

— O que tu fez, guria?

— Eu disse que precisava pensar. — deito minha cabeça em seu colo e fico aproveitando os seus cafunés. — Eu tenho medo mãe, eu não quero...

— Não quer ser enganada como eu fui. — completa minha mãe.

— Mãe, eu não quis dizer isso. — volto a me sentar para olhar para ela.

— Ana minha filha, tá tudo bem. Está mais do que na hora de nós termos essa conversa. Tu era muito pequena quando tudo aconteceu e eu errei em não ter te dito a verdade. — seus olhos se tornam tristes conforme sua mente volta ao passado e me condeno por faze-la reviver sua dor — Eu era muito feliz e apaixonada por seu pai. Tinha uma linda família, uma linda casa. Que mais eu poderia querer? Ele trabalhava como representante comercial de uma antiga marca de bebidas e por isso viajava muito pelo estado. Mas mesmo com a distância eu nunca desconfiei do meu marido. Até o dia em que uma jovem com metade da minha idade bateu na nossa porta. A mulher com um bebê de colo nos braços estava ali para destruir meu mundo. Ela contou que a mais de dois anos eles tinham um relacionamento, disse que eles se conheceram no trabalho e ela se apaixonou.

— Essa mulher sabia de nós?

— Ela começou a desconfiar por ele se esquivar de casar, mesmo depois da descoberta do filho. Um dia ela viu uma foto de nos duas na carteira, decidiu segui-lo e nos viu juntos.

— E o que a senhora fez?

— Com ela? Nada. Não senti raiva daquela mulher, ela e seu bebê eram tão vítimas quanto nós duas. — mamãe me dá um sorriso triste.

— Não passou pela sua cabeça que ela poderia estar inventando?

— Claro que sim, no fundo eu esperava que fosse uma grande mentira, mas quando seu pai chegou naquela noite eu o confrontei. Ele disse que ela não significava nada, que foi apenas um deslize. Meu mundo desabou, então naquele mesmo dia resolvi ir embora sem olhar para trás. O resto você sabe. Filha, a tua história e a minhas são completa diferentes. — tento a interromper, mas ela me impede — O que eu tô vendo aqui é um cara que saiu de um relacionamento muito ruim com uma mulher que não quer aceitar o término. Ele não te faltou com a verdade, Ana. E a julgar pelo que vejo nos teus olhos você gosta dele.

— Acho que sim. — assumo.

— Então meu amor, dá uma chance pra ele. O que eu não quero minha filha é que tu deixe de viver por causa de mim ou da minha história.

— Obrigada mãe. Te amo! Vou dormir.

— Vai filha. Boa noite! Te amo.

Deitada na minha cama fico revirando enquanto processo tudo o que minha mãe me contou. De fato, ela está certa. Christian não é como meu pai.

Munida de toda a minha coragem pego meu celular e mando uma mensagem a ele.

" A gente precisa conversar"

Proibido Para MimOnde histórias criam vida. Descubra agora