capítulo 12

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Eunji, a vida nunca foi complicada para mim, sempre tive do bom e do melhor na medida do possível, cresci em uma família "estruturada", meus parentes sempre foram muito presentes na minha criação, mas isso mudou quando eu tinha três anos, após vários exames de rotina, descobriram que eu tinha a mesma síndrome que meu avô, ninguém aceitou muito bem, eles acreditavam que um só na família já pagava o pecado de todos, eu ainda desconfio em como meu avô acabou casado com sua bisavó, é um mistério.

Aí que as coisas desandou, começaram a me tratar como uma garota, assim como você querida, eu cresci confuso, muito confuso para falar a verdade. Mas eu sempre empurrava meus sentimentos para meu interior, eu não quero que você cresça e passa por nada de ruim que vivi, quero que você viva sua vida assim como desejar, eu posso não ser um pai muito bom, mas eu tento, e quando você crescer, quero que consiga se lembrar apenas dos detalhes bons, e não do nosso teto e as paredes mofadas, quero que se lembre dos poucos brinquedos conseguidos com muito carinho, e não das noites em que eu te colocava para dormir toda encapuzada porque nosso aquecedor parou novamente.

Quando você crescer, quero que leia essa carta não como justificativa pelas minhas atitudes e sim para perceber que estou tentando, é muito difícil criar uma criança, ainda mais sem apoio, mas você é meu porto seguro, minha pequena Eunji.

5 anos depois.

Corria contra o tempo já que havia acordado atrasado, eu terminava de arrumar o uniforme alinhado da minha filha enquanto ela dizia o que queria no bentô dela.

– E o senhor pode colocar arroz com ovo pequeno? 

– Ovo de codorna Eunji - ri baixinho me levantando e caminhando apressado para minúscula cozinha - Vai colocar a meia enquanto isso.

– Tá bom papai - escuto seus passos pelo apartamento 

Arrumei seu café da manhã e sua lancheira com seu almoço, a coloquei sentada para tomar seu desjejum, corri pra terminar de me arrumar, peguei e coloquei um casaco mais grosso dentro da minha mochila, dei um jeito no meu cabelo com os dedos mesmo, fui até o genkan separando os nossos tênis.

– Vamos Eun, estamos atrasados - apressei a mais nova que terminava de tomar seu suco, terminei de colocar meu sapato e a puxei pro meu colo para colocar os dela, amarrei os cadarços firme, abotoei seu casaco a pegando pela mão e saindo, desci os três lances de escada longas até chegar na estação, andei o mais rápido que eu conseguia segurando uma criança de recém quatro anos completos já que eu precisava ser rápido e infelizmente ela não conseguiria acompanhar, uma mochila pesada e a bolsa da menina.

Peguei o metrô meio cheio, a coloquei no chão segurando sua mão, de relance dos olhos a vi mexer no bolso do seu casaco e percebo estar rasgado, espero chegar na estação destino para me abaixar e dizer baixo.

– Por que você não disse que estava rasgada? 

– Eu só vi agora papai.

– Tudo bem, eu vou costurar quando chegarmos em casa okay? 

– Okay - seu lindo sorriso se fez presente enquanto eu me levantava e peguei em sua mão para caminhar em direção à sua escola que ficava a duas quadras da estação.

Esperei a mesma entrar para poder correr até meu trabalho, eu trabalhava lavando pratos e limpando o chão em um restaurante simples, eu entrava às nove e saia cinco horas, como havia uma diferença de uma hora e meio do horário de saída da Eunji, eu a matriculei no balé de tanta insistência da mesma.

Durante meu serviço, eu só entrava na cozinha em alguns períodos, normalmente quando começava a preparar os pratos mais demorados ou em horário de pico, fora isso eu ficava no salão pra limpar as mesas e se acontecer algum imprevisto como quebra de pratos, bebidas derramadas e essas coisas simplistas.

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